A pandemia do novo coronavírus trouxe impactos sólidos e profundos para a economia cearense, e para as pequenas empresas não foi diferente. Segundo uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), por conta da crise gerada pela covid-19, agora, 82% desses negócios no Estado já apresentavam faturamento inferior na última semana de fevereiro se comparado a um momento normal. Com o resultado, o Ceará ficou em situação pior que a média nacional, que apresentou uma proporção de 79%.
O levantamento foi realizado entre os dias 25 de fevereiro e 1º de março de 2021 e conta com uma amostra de 6.228 pequenas empresas, sendo 207 no Estado. Ao todo, o País conta mais de 17,2 milhões de negócios desse porte.
Das empresas cearenses consultadas, 10% mantiveram o faturamento igual a momentos considerados normais no período, enquanto apenas 4% registraram alta nos ganhos. Outros 4% não souberam precisar as informações necessárias para a pesquisa.
No País, o levantamento apontou que a mesma proporção de 10% manteve um faturamento igual a de momentos anteriores, sem a pandemia. Já 8% tiveram alta, enquanto 4% não responderam à pergunta.
De acordo com Felipe Cruz, gestor da Unidade de Gestão de Estratégia do Sebrae-CE, os dados da pesquisa apontam que o Estado voltou ao pior patamar registrado desde o início da pandemia. Ele alertou para a redução de faturamento das pequenas empresas, mas destacou, também, que a taxa de possíveis fechamentos chegou ao maior patamar desde 2020.
"Essa pesquisa foi um banho de água fria, porque vínhamos em um movimento de recuperação gradual desde junho e levamos seis meses para chegar em momento em que a economia mostrava sinais de um novo fôlego. Mas voltamos a um patamar semelhante aos meses de julho e agosto. Vamos chegando em um momento complicado para termos uma perspectiva de futuro", disse.
"Começamos a entender que está difícil prever o que pode acontecer a partir de agora, e podemos ter uma taxa de fechamento de pequenos negócios, que estava em 0% anteriormente, passando para 5%. Isso é mais que o dobro do maior dado registrado desde o começo dessa pesquisa em 2020", completou Cruz.
Volume de vendas
Outra estatística relevante apontada pela pesquisa foi a queda do volume de vendas das pequenas empresas no Ceará, que teve uma redução média de 42,3% na última semana de fevereiro. Dos negócios que indicaram queda, houve uma perda média de 51%. Enquanto os negócios que tiveram alta apresentaram uma média de crescimento de 28,3%.
Os dados ficaram no mesmo patamar dos apresentados para o Brasil, que registrou uma queda média de 39,7%. As empresas que apresentaram redução tiveram um resultado médio de -51,5% nas vendas. Já aqueles que tiveram alta avançaram 29,4%.
Faturamento em 2020
O estudo do Sebrae também apontou que 62% dos pequenos negócios no Estado registraram redução no faturamento mensal em 2020 por conta da crise gerada pela covid-19. A comparação foi feita ante o ano anterior.
Na comparação anual, segundo a pesquisa do Sebrae, a média de queda para os rendimentos das pequenas empresas no Ceará foi de 30,4%. O dado representa um valor acima do resultado registrado para a média das unidades da Federação. No Brasil, no ano passado, a queda média de faturamento desses negócios foi de 31,8%.
A proporção do número de afetados no Ceará também foi menor, já que 65% das empresas entrevistadas no País apresentaram uma queda no faturamento.
Ainda sobre os dados estaduais, o levantamento aponta que 12% das empresas não tiveram alteração no faturamento em 2020 ante 2019, enquanto apenas 15% responderam ter um resultado melhor no passado. Ao todo, 11% afirmaram não ter condições de precisar o dado.
Operação prejudicada
Mesmo com restrições de movimentação neste ano, considerando a segunda onda da covid-19 no País, a capacidade de operação não chegou a afetar a maioria das empresas. O Sebrae indicou que 77% das pequenas empresas continuaram funcionando durante a pandemia, sendo que 67% delas tiveram mudanças geradas pela crise. Os dados fazem referência ao período de 25 de fevereiro a 1 de março.
Além disso, 19% estão com o funcionamento interrompido temporariamente, enquanto 5% haviam encerrado as atividades no período.
Em relação ao Brasil, a pesquisa indicou que 64% das empresas estavam funcionando com mudanças por conta da crise, enquanto 16% não tiveram alteração na forma de atuação. Outros 16% estavam com funcionamento interrompido temporariamente e 5% decidiram fechar a empresa de vez.
Volta ao passado
Segundo Felipe Cruz, os dados negativos apresentados pela pesquisa representam, principalmente, uma má gestão das medidas de combate à pandemia, que contou com mensagens divergentes principalmente entre os governos Federal e Estadual.
"Infelizmente, o que acontece é que não soubemos lidar com a pandemia e estamos com pouca coordenação das medidas de combate à pandemia. Os municípios no Ceará que estão em lockdown e quarentena representam mais de 80% do Estado parado. No ano passado, tínhamos o mesmo patamar, então voltamos um ano na história e isso impacta na mente do empreendedor. É como se tivéssemos recomeçando tudo", explicou.
Soluções e apoio
Para tentar minimizar os impactos da crise do novo coronavírus, as prioridades dos pequenos empresários no Ceará está concentrada em dois pontos. Para 39%, a principal medida governamental que deveria ser lançada é a extensão das linhas de créditos com condições especiais, como Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).
Já para outros 38%, o retorno do auxílio emergencial seria o mais importante para a reativação dos níveis da atividade econômica. A pesquisa também indicou que 13% pedem o adiamento do pagamento de dívidas de empréstimos ou contas de luz e água, enquanto 6% considera o auxílio para redução e suspensão de contratos de trabalho como medida mais importante.
Os outros 5% apontaram o adiamento do pagamento de impostos como uma prioridade para amenizar a crise da covid-19 no Estado.
Vale ressaltar que 60% das pequenas empresas no Ceará buscaram empréstimos para tentar se manter em operação desde o começo da pandemia. Contudo, 55% desses empresários ainda está aguardando resposta dos bancos ou não conseguiu o empréstimo. O restante (45%) afirmou ter conseguido algum tipo de financiamento externo.
Otimismo para o futuro
Apesar dos resultados negativos, o gestor do Sebrae-CE apontou que há estatísticas que ainda apontam para uma possível recuperação do cenário econômico no Estado. Cruz destacou que em janeiro de 2021, dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicaram as micro e pequenas empresas (MPEs) como responsáveis pela geração de 85% dos empregos formais no Ceará.
Essa perspectiva, segundo Cruz, indica que os pequenos empresários ainda têm "muito ânimo" para reverter a crise. Mas isso dependerá de muita inovação de uma boa gestão de contenção da pandemia.
"O empresário cearense tem demonstrado que a palavra-chave e os elementos para enfrentar a pandemia são baseados em inovação. O que o cearense demonstrou foi que o nível de inovação para entrega de novos produtos e adaptação para os meios digitais foi maior que a média do Brasil.Tivemos 44% de média de adequação desse novo ambiente no Ceará ante 39% para o Brasil", comentou.