Apenas um terço de proprietários de bares e restaurantes afirmam ter condições de se manter abertos durante as medidas de isolamento social aplicadas pelo Estado para conter o avanço da pandemia no Ceará até este domingo (21). Segundo dados de pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel-CE), 32,4% dos empreendimentos afirmam que querem continuar operando e que têm condições para isso.
O levantamento da Abrasel entrevistou 213 empresários no período de 15 á 16 de março de 2021 e constatou ainda que 45,1% dos bares e restaurantes querem se manter abertos, mas não têm condições financeiras. Outro dado apontado é o de que 7% devem fechar os negócios nos próximos dias, enquanto 9,9% afirmam já terem encerrado as atividades.
A situação ainda é mais complicada com a perspectiva de manutenção das regras de isolamento rígido pelo Governo do Estado, dado que, nesta sexta-feira (19), o Ceará tem 481 pacientes com covid-19 à espera de um leito de UTI, segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
Segundo a Abrasel, com a hipótese de prorrogação até 1º de abril, 71,4% das empresas que responderam o questionário deverão fechar. Um dos principais custos para o setor neste momento, segundo o presidente da associação, Taiene Righetto, é o custo da folha de pagamento - despesa que 41,3% responderam não ter como pagar no próximo vencimento e que já está em atraso para 34,7%.
O setor, segundo Righetto, está na expectativa do retorno do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), que permite a suspensão de contratos de trabalho e redução de jornadas para poder arcar com os custos.
"E eu tive notícia recente que o projeto de suspensão de jornada que sairia hoje, não vai sair mais. Parece que o presidente Bolsonaro não concordou com o projeto do ministro Paulo Guedes de que o fundo que financiará o projeto virá do seguro-desemprego. Infelizmente a ajuda federal não vem na velocidade que o setor começa a ruim. É desesperador", disse Taiene.
Dados da pesquisa
- 76,1% das empresas já não possuem mais recursos para pagamento dos funcionários
- 76% não dispõem de recursos para pagamento das contas de energia elétrica
- 61% não conseguirão pagar as contas de água, ou já possuem débitos
- 78,4% não conseguem honrar o aluguel, ou já estão em dívida
- 65,7% estão em atraso ou não mais pagarão os seus fornecedores, com agravante que destes 25,4% já estão impossibilitados de realizarem novas compras
A questão financeira parece ser a principal questão das empresas do setor nesse momento. Ao todo, 84% das empresas estão sem condições de realizar o pagamento de tributos federais, enquanto 77,5% afirmou não conseguir pagar os impostos estaduais. O pagamento dos tributos municipais foi apontado como dificuldade por 70% das empresas.
Demissões
Outro dado apontado pela pesquisa é que 87,8% das empresas que responderam o questionário, entre bares e restaurantes, já tiveram de demitir funcionários durante a pandemia. Desse total, 72,9% dos negócios desligaram até 50% dos colaboradores.
Com relação ao mercado de trabalho, outra previsão negativa apontada é de que 84,5% das empresas deverão realizar novas demissões nas próximas semanas. Ao todo, 63,3% dos empresários disseram que precisarão demitir até 30% de todos os funcionários, enquanto 36,7% deverão demitir mais de 50% dos colaboradores.
“Fica registrada nossa contribuição com dados sobre o panorama atual dos mais de 20 mil bares, restaurantes, similares e microempreendedores individuais que empregavam cerca de 120 mil pessoas antes da pandemia, e que movimentam desde o agricultor familiar até as indústrias de alimentação e bebidas no Estado do Ceará, com intuito de gerar informação de qualidade na demonstração evidente do quadro caótico e na necessidade urgente de medidas para a retomada pela sobrevivência e reparação do setor de alimentação fora do lar”, disse Righetto.
Apoio do Estado
"Em relação ao Estado, eu acho que o Governo entendeu o tamanho do problema do nosso setor e como ele é importante para a economia do Ceará, e a ajuda que ele podia dar, ele deu. A gente achava que, com as ajudas do Estado, aliada ao apoio federal, poderíamos dar mais suporte ao setor, mas a ajuda federal não veio", completou.