Os investimentos em novas linhas de transmissão no Ceará podem atingir R$ 2,8 bilhões nos próximos 5 anos. Esse valor é parte dos R$ 24,7 bilhões que serão investidos no Brasil, em ativos que serão negociados em dois leilões de linhas de transmissão previstos para os meses de março e setembro deste ano.
Ao todo serão 11 linhas de transmissão (LT) com um total de 1.041,5 quilômetros no Ceará, incluindo cidades como Crateús, Banabuiú, Morada Nova, Pacatuba e Russas, entre outras. Também fazem parte da lista de obras duas subestações (SE), uma em Morada Nova e outra em Crateús, com energização prevista para os primeiros semestres de 2028 e 2029, respectivamente. (confira lista abaixo)
As estimativas, que trazem investimentos no nível federal na ordem de R$ 56,2 bilhões, estão no Programa de Expansão da Transmissão (PET) e no Plano de Expansão de Longo Prazo (PELP) relativo ao segundo semestre de 2023, conforme estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
As obras no Ceará, em que parte são ligações entre cidades do Estado e do Piauí, têm como objetivo principal o aumento nas margens de escoamento de geração renovável da área norte da região Nordeste.
Já o leilão como um todo e os novos projetos que estão incluídos no PET e no PELP, visam, além do aumento da margem de escoamento da geração renovável para os centros consumidores, trazer soluções para os problemas de sobrecarga, e trazer a confiabilidade no fornecimento de energia para determinadas regiões do País.
Da lista de linhas de transmissão previstas para o Ceará, a de maior extensão possui 219 quilômetros e liga a cidade de Crateús à capital do Piauí, Teresina. A tensão prevista é de 500 kV (quilovolts). Todas as obras elencadas no plano e que tem ligação com o Estado têm previsão de energização para o 1º semestre de 2029, exceto a subestação de Morada Nova, que tem previsão para o 1º semestre de 2028.
Obras previstas no Ceará
Linhas de transmissão:
(todas com energização no primeiro semestre de 2029)
- 500 kV - Quixadá/Crateús - Extensão: 205 km
- 500 kV - Crateús/Teresina IV - Extensão: 219 km
- 230 kV - Ibiapina II/Piripiri - Extensão: 86 km
- 230 kV - Abaiara/Milagres - Extensão: 15.5 km
- 230 kV - Banabuiú/Morada Nova - Extensão: 55 km
- 230 kV - Morada Nova/Russas II - Extensão: 58 km
- 230 kV - Alex/Morada Nova - Extensão: 61 km
- 500 kV - Morada Nova/Pacatuba - Extensão: 151 km
- 230 kV - Araticum/Milagres - Extensão: 18 km
- 230 kV - Gameleira/Milagres - Extensão: 5 km
- 230 kV - Chapada III/Crato II - Extensão: 168 km
Subestações:
- 500 kV - Crateús, 1° e 2° Reator de Barra 500 kV, (6+1R) x 50 Mvar 1Ф --- energização: 1º Sem 2029
- 500/230 kV - Morada Nova, 1º e 2º ATF 500/230 kV, (6 + 1R) x 300 MVA 1Ф --- energização: 1 Sem 2028
Investimentos Previstos: R$ 2.847.020.680,00
Fonte: Estudo de Escoamento de Geração da Região Nordeste – Volume 2: Área Norte
Como são feitos os investimentos
Os investimentos na expansão das linhas de transmissão serão feitos a partir de novos contratos de concessão, com leilões realizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Os empreendimentos serão usados para escoar a geração de energia renovável, especialmente as de energia eólica e solar, dos estados da região Nordeste.
Aqui, vale explicar que o Ministério de Minas e Energia (MME) não está colocando à venda nenhum ativo já existente. O termo leilão é usado por conta do oferecimento da outorga e a possibilidade de empresas privadas ou públicas (como exemplo da Chesf Eletrobras) de fazerem o desenvolvimento e a implementação dessa nova malha de transmissão de energia.
Cada leilão tem especificadas as obras e os prazos previstos e ganha a empresa que oferecer o menor valor de receita que irá cobrar para que essas linhas sejam utilizadas, chamada no caso das linhas de transmissão de receita anual permitida (RAP).
O que muda para o setor de energia do Estado
Segundo Bernardo Viana, sócio da BVS Energias e membro do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia Ceará) essas novas obras são muito significativas para o Ceará, por conta dos atuais gargalos da expansão das energias, não só as renováveis, como eólica e solar, como também para a produção do hidrogênio verde (h2v).
"É imprescindível que a transmissão seja reforçada e isso é um dos principais gargalos há um bom tempo, não só do Ceará, mas do Nordeste inteiro, e eu diria até do Brasil, já que as fontes de geração precisam das linhas de transmissão para que essa energia seja distribuída e transmitida para os consumidores."
Ele explica que essa iniciativa também representa uma ampliação na potência instalada já disponibilizada e desenvolvida no Estado, tanto de eólica quanto de solar e de térmica, como também do H2V no futuro.
Por falar em produção de hidrogênio verde, Viana comenta que essas 11 novas linhas de transmissão e duas subestações são um "excelente primeiro passo, pois a energia renovável necessária como insumo voltado ao H2V é enorme".
"Como se sabe o principal insumo do hidrogênio verde é energia limpa, abundante e barata. Assim, para viabilizar o Hub de H2V no Estado do Ceará, essa energia precisa da linha de transmissão para poder ser escoada da sua produção e, consequentemente, chegar nos projetos de hidrogênio verde, para que estes memorandos de entendimento (MoU) assinados com o Estado saiam do papel."
O especialista reforça, porém, que é importante se levar também em consideração que existem projetos de empresas que assinaram MoU com o Estado e o Porto do Pecém, por exemplo, que irão fazer a sua própria LT dedicada exclusiva para o seu projeto.