A pressão inflacionária enfrentada pelo País deverá dar uma trégua nos próximos anos, conforme avaliação de economistas. Contudo, eles ponderam que ainda há diversos fatores internos e externos que podem exercer influência sobre o índice. Uma das variáveis críticas é a valorização do dólar, que subiu 2,68% na sexta-feira (4), além do nível dos reservatórios de água.
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Apesar da disposição do governo federal em reduzir drasticamente o índice inflacionário do Brasil já no próximo ano, passando de 9,25% em 2015, para 5,4% em 2016 e 4,5% nos anos seguintes, o economista Alex Araújo avalia que a meta estabelecida só será praticável caso seja evitada a aceleração do processo de indexação de preços - reajustes com base na inflação passada - nas negociações salariais e contratuais que deverão ocorrer nos próximos meses no País.
Outro fator que também terá um papel importante no controle da inflação é a manutenção da alta taxa de juros. Na última quarta-feira (2), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter a taxa Selic a 14,25% após o registro de sete altas seguidas.
"Apesar do grande custo de manter a taxa de juros alta, que é a recessão, é importante porque mantem a demanda baixa e evita que essa indexação seja repassada imediatamente", frisou.
Já em relação aos reajustes salariais, o economista pondera que, apesar de o mercado de trabalho estar enfraquecido e os salários da iniciativa privada estarem em queda, algumas categorias de servidores públicos já estão em greve.
"Nós vamos começar agora um teste de fogo. Setembro é a data base para reajuste dos bancários, nos dando uma expectativa sobre o que os sindicatos vão conseguir de recomposição", apontou o especialista.
Fatores
Justificando a tendência de queda da inflação no Brasil nos próximos anos, o presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Allisson Martins, indicou que o grande vilão da inflação neste ano pode ser apontado como sendo o aumento dos preços de itens como a energia elétrica e os combustíveis no País. "Pelo fato de esses preços terem sido represados em 2014, neste ano o impacto foi maior. Esse represamento não deverá mais ocorrer, o que faz que a projeção fique mais linear", afirmou.
No entanto, o economista Alex Araújo pondera que, apesar da perda de força desse componente no curto prazo, existem dúvidas sobre o nível dos reservatórios de água das hidrelétricas e custos represados de transporte público. Eles poderão influenciar a inflação no País no início do próximo ano. Estes são fatores dos chamados preços administrados, que dependem da regulação governamental e compõem a inflação.
Em relação aos preços livres, com regulação do mercado, o economista explica que, apesar do ambiente recessivo, que é favorável à queda de preços, o câmbio é uma variável crítica.
"Com a valorização do dólar, diversos produtos que possuem componentes importados têm aumento de custos que são repassados aos preços. Preocupa, por exemplo, os derivados do trigo e do petróleo, que compõem a cesta básica da maioria das famílias", comentou Araújo. O especialista ressalta ainda que, além desses fatores, o cenário externo e o aumento da carga tributária a ser implementado pelo governo poderão ganhar relevância para o processo inflacionário, exigindo vigilância constante dos agentes econômicos. "Vivemos tempos difíceis, em que o exercício da previsão é muito sujeito ao erro", apontou.
Como consequência da estratégia de manutenção dos juros altos para conter o avanço da inflação, o presidente do Corecon ressalta que o nível de atividade econômica será retraído, o que gera o desemprego. "É possível domar a inflação, mas a um custo social muito elevado. Infelizmente, é uma dualidade. O governo tem de escolher". (YP)