Imóveis financiados no Ceará mais que dobram em 1 ano, e valor passa de R$ 2,5 bi

Quase 12 mil unidades já foram financiadas até setembro deste ano. Ritmo pode ser reduzido com aumentos da Selic

O aumento do preço do aluguel com o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) acumulando variação superior a 30% em um ano e as menores taxas para financiamento imobiliário levaram muitos cearenses a realizarem o sonho da casa própria. 

De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), 11.992 imóveis foram financiados entre janeiro e setembro deste ano. O número é 155% maior que o registrado em igual período do ano passado, quando foram financiadas 4.696 unidades habitacionais. 

 

Com relação a valores, já foram financiados mais de R$ 2,5 bilhões em 2021, mais que o dobro dos cerca de R$ 1,19 bilhão em 2020. Apesar dos números positivos até o momento e de a procura ainda não ter baixado, o ritmo não deve continuar no ano que vem. 

O aumento da Selic - taxa básica de juros - deve desacelerar os financiamentos imobiliários por tornar mais caro o custo do crédito. Além disso, instabilidades no mercado preocupam as incorporadoras e construtoras. 

Sonho da casa própria 

A influenciadora digital Raiane Viana (24) aproveitou o momento favorável para comprar seu primeiro imóvel. A busca começou ainda em 2020, e a jovem recebeu em mãos a chave de sua casa própria em setembro deste ano. 

O sonho de ter um imóvel é antigo, mas Raiane conta que priorizou comprar um carro antes de entrar em um financiamento mais longo. O espaço financiado já se tornou casa para ela logo na primeira visita. 

O apartamento, depois que eu visitei a planta dele pronta, eu vi que ele iria me atender super bem por ter um espaço aconchegante, uma casa com mais cômodos para uma família. Eu pude idealizar como seria o meu. Quando visitei o apartamento, eu me encantei, esqueci de todas as casas que eu tinha visto
Raiane Viana
influenciadora digital

O apartamento comprado foi financiado em 360 meses, e a mudança deve ocorrer, se tudo der certo, em janeiro de 2022. 

“Estou muito, muito ansiosa. Desde que a gente comprou, eu estou bem ansiosa. É mais um sonho, principalmente pela idade, por conseguir conquistar meu objetivo cedo. Eu ainda não sou casada, quando eu fechei o apartamento eu não tinha relacionamento. Agora pretendo casar e morar com meu noivo”, diz. 

Segundo ela, a escolha pelo financiamento foi incentivada pela corretora de imóveis da qual ela já foi cliente. A empresa, diz Raiane, prestou toda a assessoria necessária para ela conseguir as melhores condições do mercado.  

Juros baixos 

O mercado imobiliário cearense passou por um período de crise entre 2015 e 2019 e encontrou oportunidade de voltar a crescer na pandemia. No ano passado, a taxa básica de juros chegou ao menor patamar histórico, em 2% ao ano. Isso baixou os juros imobiliários e incentivou o consumo. 

“A Selic estava muito baixa, em 2%, e hoje ainda não está como há 3 anos, as taxas de financiamento ainda estão atrativas. As pessoas aproveitaram os estoques das construtoras, os estoques do ano passado e esse ano baixaram bastante. Aí você consegue enxergar a alta nos financiamentos imobiliários”, resume o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (Sinduscon-CE), Patriolino Ribeiro. 

Ele explica que essa maior procura ajudou a movimentar todo o mercado, ajudando inclusive na geração de emprego. A meta era fechar 2021 com 10 mil novos postos de trabalho, mas, segundo Patriolino, essa previsão deve ser revista para cima. 

Com dinheiro entrando nas empresas, lançamentos que haviam sido postergados em razão da pandemia foram retomados. Porém, o setor se preocupa com o atual cenário econômico e político, que pode tornar a situação menos favorável. 

“Esses últimos 40 dias na economia têm deixado a gente pensativo. Tem algumas pessoas cautelosas aguardando como ficará. Todo mundo tem projetos na prancheta, estamos aguardando”, destaca. 

Alta do aluguel 

De acordo com o corretor da Felippe Araújo Imóveis, Natanael Bandeira, que atua no mercado há 4 anos, um dos fatores mais pontuados pelos clientes na hora da busca do imóvel próprio é o aumento no preço do aluguel.  

O IGP-M, que ajusta grande parte dos contratos de aluguel, acumula alta de 24,86% nos últimos 12 meses contados até setembro.  

“Antes da pandemia a gente fechava 1 ou 2 [financiamentos] no mês, eram poucas visitas marcadas semanalmente. Hoje a semana é muito corrida. Se eu tinha 20 visitas por mês aumentou para 40, 50”, ilustra. 

O supervisor de vendas Hernandes Moreira (26) foi um dos clientes de Natanael que quis fugir do aluguel e preferiu investir em um primeiro imóvel. Ele deverá receber em novembro as chaves para seu primeiro apartamento, em Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza.  

“Eu nunca gostei de aluguel porque aluguel você está pagando para os outros, é muito melhor financiar algo que é seu. Fora que o aluguel hoje está muito caro mesmo”, coloca. 

Natanael afirma que grande parte da procura tem partido de pessoas buscando o primeiro imóvel e que os espaços preferidos são casas e apartamentos maiores, um reflexo das necessidades maiores de estar na própria residência em razão da pandemia.  

Fuga da Capital 

Apesar da tendência de alta nos financiamentos imobiliários no Estado e no Nordeste, a Capital experimentou queda no número de contratos fechados no ano passado, com recuperação neste ano. 

É o que mostram dados da DataZAP+ cedidos em exclusividade ao Diário do Nordeste. Em julho do ano passado houve variação negativa de 3,42% no saldo de financiamentos em Fortaleza, uma baixa que seguiu mês a mês até fevereiro deste ano. Em julho de 2021 a variação foi positiva, em 4,67%. 

O economista da DataZAP+, Sérgio Castelani, explica que algumas cidades, como Fortaleza, sentiram impactos negativos devido a uma fuga dos centros urbanos. 

A redução das salas comerciais é uma consequência da pandemia. Isso afeta o mercado imobiliário como um todo porque muda a demanda. O entorno dos imóveis também passa a ser menos demandado. Com a pandemia, começa a aumentar a vacância das salas comerciais e cai a demanda por imóveis nas grandes regiões centrais
Sérgio Castelani
economista da DataZAP+

A volta da atividade presencial em escritórios neste ano puxou novamente os financiamentos imobiliários na Capital, como mostram os dados da pesquisa. 

“A grande pergunta é até quando vai a recuperação porque os juros do financiamento imobiliário já voltaram a subir”, pondera o economista. 

A alta dos juros imobiliários deve reduzir a demanda por imóveis, mas, ao mesmo tempo, a demanda reprimida da pandemia pode equilibrar o cenário. 

“Agora é um bom momento para financiar imóvel antes que os juros voltem a subir. A gente acredita em uma recuperação do cenário, mas de forma mais lenta. Continuamos otimistas, a previsão é que permaneça no mesmo nível de volatilidade, com crescimento gradual”, projeta.