Identidade dita a produção de peças

Sem compromisso com remessas, designers buscam empregar a personalidade delas e dos clientes nos itens

O anseio por vestir algo que valorizasse a própria identidade e respeitasse os diferentes estilos, acima das tendências efêmeras que o mercado da moda costuma ditar, funciona como forte motivação para a criação de novos negócios: foi assim com diversas marcas de moda autoral que surgiram, nos últimos quatro anos, em Fortaleza. Sem ter a margem de lucro como objetivo principal da produção, esses negócios foram, contudo, ganhando público e espaço até se firmarem como empreendimentos sólidos, sem perder a essência e estimulando uma nova forma de comércio e consumo.

Foi durante o período de greve da faculdade que a designer de moda Isa de Paula, 24, começou, em parceria com a também designer Rachel Schramm, 23, o projeto da marca Mood, cujas peças são produzidas com tecidos orgânicos e fios naturais. A primeira coleção, lançada há três anos, tinha cerca de 40 peças e um conceito ainda diferente do atual. "Assim que comecei, o objetivo era mesmo ganhar dinheiro, mas vi que não era isso. Nosso ideal é o slow fashion: produzir no nosso tempo. A gente não segue as pressões do mercado", diz Isa.

Após esse processo de amadurecimento da marca e definição do conceito e das inspirações que regem a criação, Isa e Rachel ganharam inúmeros clientes, começaram a participar de feiras e já desenvolvem parcerias com outros designers. "Começamos com um pouquinho de dinheiro que eu tinha e uma costureira indicada por um amigo, e que está conosco até hoje, porque valorizamos muito a qualidade do trabalho dela. A nossa casa funciona meio que como ateliê, e para as vendas, a gente leva as peças em feiras ou nas casas das clientes, além de redes sociais", resume Isa, descrevendo a logística da Mood.

Os modelos da marca custam entre R$ 80 e R$ 200, e cada coleção sai, em média, com 70 peças. Apesar de ainda não terem, na Mood, a principal fonte de renda, já planejam a expansão da marca. "Vou dedicar mais tempo para a marca, criar o site. A gente quer um formato de negócio menor", planeja.

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Sob medida

A confecção de roupas que representassem melhor o estilo da designer de interiores Maiara Nail, 26, e da engenheira agrícola Bruna Macedo, 30, foi também o que impulsionou a criação, há seis meses, da Wood Clothing, especializada em camisas e bermudas que têm como ponto forte as estampas e a preocupação com a sustentabilidade. "Quando decidimos ter uma marca, teve a questão do negócio, de ganhar dinheiro, mas teve muito mais esse desejo de produzir o nosso próprio material", confessa Maiara.

Sem coleções programadas, as peças da Wood vão sendo lançadas, no site e nas redes sociais, à medida que novas estampas surgem, além de atenderem encomendas, sob as medidas dos clientes. "Nossa produção é bem local, a gente garimpa a cidade procurando tecidos e trabalhamos com as costureiras daqui", descreve Maiara.

A preocupação com a sustentabilidade está presente desde o material das peças - como os botões de madeira reflorestada e a embalagem, que pode ser reaproveitada - até o relacionamento com o cliente.

"A gente acredita muito nessa consciência ambiental e queremos embutir isso na marca até que seja uma cultura natural para as pessoas", almeja. Com produtos vendidos, em média, a R$ 95, as sócias comemoram o crescimento da Wood mesmo dentro da crise econômica.

"A gente nasceu no olho do furacão e hoje a Wood é muito mais do que a gente esperava que fosse", revela Maiara.

Consumo consciente

A busca por um consumo mais consciente e a maior proximidade com quem produz as peças tem sido bem evidente entre as clientes da Tulipa, marca das designers de moda Monique Dieb, 24, e Pérola Castro, 25, criada há um ano e meio. "Isso interfere no contato mais próximo que você vai ter com o cliente, sabe melhor o que ele quer, e escuta as outras pessoas envolvidas na produção, como costureiras e modelistas", conta Monique.

Quando da criação da marca, elas já aspiravam um negócio de longo alcance e visando, ali, a principal fonte de renda, mas respeitando as condições mais humanas da produção. "A nossa ideia é diversificar as peças, e não aumentar demais a quantidade", explica. Hoje, com cerca de 80 peças lançadas a cada coleção, elas reconhecem a evolução do negócio - que começou com apenas 30 modelos - e almejam chegar em outros Estados, a partir de lojas especializadas na revenda de produtos fabricados em menor escala. "A gente ainda preza por esse modelo menor de venda", diz Monique.