Falta incentivo para evidenciar potencialidades

Segmentos que podem impulsionar a economia seguem sem apoio para mostrar o que são capazes de realizar

Escrito por Redação ,
Legenda: Uma perda recente relativa a esse eixo, defende a pesquisadora, foi a extinção, há quase um ano, da Secretaria da Economia Criativa, então ligada ao Ministério da Cultura (MinC), departamento do qual ela era integrante
Foto: FOTO: ELISABETE ALVES

Para além da independência com que a maioria dos produtores criativos se desenvolve e do crescimento rápido e expressivo que boa parte dessas marcas autorais têm experimentado, principalmente no cenário cearense, os segmentos que compõem a economia criativa enfrentam dificuldades e carecem de incentivos, tanto públicos quanto privados. A avaliação é da pesquisadora e consultora em Políticas Públicas de Cultura e Economia Criativa Luciana Guilherme, que destaca o potencial que esse nicho pode trazer tanto para o desenvolvimento da economia como para inovações nos sistemas de produção.

"Nós estamos muito aquém do que precisamos, são setores que ainda precisam de uma atenção maior, tanto no plano federal, quanto estadual e municipal", defende a pesquisadora. Uma perda recente relativa a esse eixo, destaca Luciana, foi a extinção, há quase um ano, da Secretaria da Economia Criativa, então ligada ao Ministério da Cultura (MinC), departamento do qual ela era integrante.

"A Secretaria de Economia Criativa acabou virando uma diretoria dentro da Secretaria de Políticas Culturais do Ministério, mas a gente sabe que perde força, perde a institucionalidade e toda a articulação que foi construída", lamenta.

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Marcos legais e descontos

Outra dificuldade citada pela pesquisadora envolve os marcos legais relacionados às produções, contemplando tanto a regulamentação de algumas profissionais - a exemplo dos designers, ligados a boa parte das iniciativas do setor - como burocracias e impostos que incidem sobre essas atividades.

"A economia criativa precisa de softwares, equipamentos, máquinas que, muitas vezes, só são vendidas fora do País. Um desconto tributário poderia aquecer esse mercado", sugere.

Crédito fora da realidade

Mesmo as fontes de financiamento, que já contam com programas voltados para pequenos empreendedores, ainda são incipientes para atender a esse público, segundo aponta Luciana.

"O crédito oferecido pelas instituições financeiras precisa ser ajustado à realidade desses setores, que têm dificuldades de apresentar as garantias exigidas para a liberação do crédito, além de trabalharem com prazos de retorno dos investimentos bem diferentes daqueles trabalhados pelos serviços tradicionais", aponta a pesquisadora.

O microcrédito oferecido por instituições como o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), a Caixa Econômica Federal e, mais recentemente, o Banco do Brasil, apesar de ser uma boa opção para esses empreendedores, pondera a especialista, é deficiente quanto à divulgação entre o público alvo. "Nesse caso, o problema maior está na fragilidade da divulgação dessa alternativa (de financiamento do microcrédito). Seja junto aos gerentes dos bancos que precisam reconhecer os empreendimentos dos setores criativos como potenciais tomadores do micro-crédito, seja pelos empreendedores criativos que pouco conhecem essa alternativa", descreve.

Promotores do crescimento

Estados e municípios, acrescenta Luciana, poderiam também promover incentivos para esses segmentos da economia, a exemplo de parcerias com universidades, agências de fomento ou mesmo empresas privadas, que apoiassem e desenvolvessem projetos de apoio. "No plano municipal, por exemplo, poderia se pensar em desenvolver um polo criativo com desconto no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) para fortalecer essas redes, esses coletivos, porque, em função das dificuldades, as pessoas têm percebido que é cada vez mais importante trabalhar coletivamente", enfatiza.

Contribuição

Acima desses contratempos, a consultora destaca as contribuições que os setores ligados à economia criativa podem trazer, sejam eles das mais diversas lógicas de produção e criação. "O que eles podem trazer em termos de produção, desenvolvimento e inovação é muito importante", comenta.

Além disso, acrescenta a pesquisadora e consultora em Políticas Públicas de Cultura e Economia Criativa, as produções ligadas à criatividade fazem parte de um novo modelo de consumo que tem se estabelecido cada vez mais na sociedade brasileira e que envolve a compra não apenas de um produto, mas de uma visão de mundo.

"Relatório mundial sobre a economia criativa, publicado em 2008 e também em 2010, mostrou que, enquanto os demais setores decresciam, por conta da crise econômica internacional do período, a economia criativa crescia. Existe um público que está interessado num produto que tenha valor, que se identifique com o estilo de vida deles", destaca.

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