Grupo da União Europeia ataca governo Temer

Em carta enviada à Comissão Europeia, os deputados alertam que o bloco estará negociando com "um governo sem legitimidade"

Às vésperas dos primeiros encontros do chanceler José Serra com negociadores comerciais em Paris, um grupo de deputados do Parlamento Europeu pede que a UE interrompa as negociações comerciais com o Mercosul por conta do afastamento de Dilma Rousseff. Em carta enviada à Comissão Europeia, os deputados alertam que o bloco estará negociando com "um governo sem legitimidade". 

"Tendo em vista a situação política no Brasil, temos dúvidas de que esse processo tenha a legitimidade democrática necessária para acordo de tal magnitude", aponta a carta enviada à chefe da diplomacia da UE, Federica Mogherini. O documento, obtido pelo jornal "O Estado de S. Paulo", insiste que o governo de Michel Temer "carece de legitimidade".

No total, 34 deputados assinaram o documento, de um total de 751 representantes no Parlamento Europeu. A assessoria do grupo diz que vai intensificar o lobby para obter mais assinaturas e incluir o assunto na agenda oficial do Parlamento nas próximas semanas. 

A iniciativa foi liderada por deputados de partidos como o espanhol Podemos, o italiano Movimento 5 Estrelas e por grupos como o da Esquerda Unitária Europeia, da Esquerda Nórdica Verde, do Grupo dos Verdes no Parlamento e pela Aliança Livre Europeia. "Consideramos que o governo brasileiro instalado após o impeachment carece de legitimidade democrática e, portanto, pedimos a suspensão das negociações UE-Mercosul", diz a carta enviada para Federica. 

Assumindo o discurso adotado por Dilma Rousseff, os deputados europeus apontam que "o processo (no Brasil) culminou num golpe brando na forma de impeachment". 

Podemos

Um dos principais autores da proposta foi o partido Podemos, sensação nas últimas eleições em Madri. Pelo menos cinco deputados do movimento político espanhol já aderiram à campanha. Um deles, Xabier Benito, acredita que para o acordo seguir sendo negociado pela UE, "todos os atores implicados precisam ter máxima legitimidade democrática". Benito é o vice-presidente da Delegação do Parlamento Europeu para as Relações com o Mercosul.

Nas redes sociais, uma das deputadas que apoiou a iniciativa, a portuguesa Marisa Matias, chamou o afastamento de Dilma de "golpe". "Suspendam as negociações entre UE e Mercosul", pediu a deputada que lidera o Bloco de Esquerda em Portugal. Segundo ela a UE precisa dar "pleno apoio para o restabelecimento da ordem democrática no Brasil" e o bloco europeu deve agir "em conformidade com os valores fundamentais". "Um acordo comercial não pode ser negociado com um governo sem legitimidade democrática como é o governo atualmente em funções no Brasil."

O grupo diz que aguarda uma resposta de Mogherini e já pensa em colocar na agenda do Parlamento Europeu a crise política no Brasil, da mesma forma que a Venezuela faz parte das preocupações da entidade.

Serra terá um encontro ainda nesta semana com a comissária de Comércio da UE, Cecilia Malmstrom, num sinal claro que Bruxelas considera o chanceler um interlocutor legítimo. Após o afastamento de Dilma, o escritório da UE indicou que o Brasil "é e continuará sendo um parceiro estratégico" para a Europa.

O bloco decidiu ainda seguir adiante com a troca de ofertas entre Mercosul e UE, mesmo com a crise política no Brasil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.