Com protocolos de biossegurança em prática e a experiência adquirida pela primeira onda da pandemia no País, o fluxo de passageiros no Aeroporto de Fortaleza teve uma queda menos brusca na segunda onda que o observado no ano passado.
A reabertura da economia em maio, o avanço da vacinação e a tendência do "turismo da vacina" alimentam uma expectativa de recuperação nos próximos meses, mas a perspectiva pode ser novamente atrapalhada caso haja uma terceira onda de casos no País
De acordo com dados divulgados ontem (20) pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), passaram pelo terminal 120,2 mil passageiros em abril, a terceira queda consecutiva da movimentação neste ano.
O resultado levou o fluxo de passageiros ao patamar mais baixo desde julho do ano passado (103.462), um mês após o início da reabertura da economia cearense depois da primeira onda
Por outro lado, a movimentação já foi bem superior à vista abril do ano passado, o pior resultado mensal desde o início da pandemia, quando passaram 20,3 mil passageiros no terminal.
O pesquisador Alessandro Oliveira, coordenador do Núcleo de Economia do Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (Nectar-ITA), destaca que desta vez o mercado já estava relativamente preparado, diferentemente da primeira onda.
"Como segunda onda, a gente já tem todo o contexto de vacinação, e afora que a gente não tem mais o fator inesperado. Quando veio a primeira onda, era uma novidade - ruim, é claro -, mas a segunda onda era uma tragédia esperada. E quem tem que viajar, já está viajando".
Crescimento limitado
Mas enquanto os Estados Unidos e a Europa se preparam para reduzir as restrições de entrada de viajantes para o verão no hemisfério norte, a realidade brasileira ainda é ameaçada por uma terceira onda de casos, que pode provocar novo fechamento das atividades e consequente queda na demanda turística.
"Seria muito frustrante acontecer (uma terceira onda), porque você vê no resto do mundo, por exemplo, nos Estados Unidos, a demanda já se aquecendo, as pessoas se planejando para viajar, e a gente em um passo atrás. Vai ser extremamente frustrante, inclusive do ponto de vista da rentabilidade do capital, porque as companhias têm ações nas bolsa e relativamente perde-se valor", explica Oliveira.
Por enquanto, essa movimentação na Europa e nos Estados Unidos pode estimular um aumento do turismo emissivo do Brasil ao exterior. Porém, os elevados custos dessas viagens - que ainda são muito restritas ou requerem uma quarentena em um terceiro país, devem limitar o crescimento da demanda.
"Pode ser um indutor de stopovers (viagem com parada em um segundo destino), mas fica mais caro fazer isso, pois a viagem tem que ser mais prolongada. O impulso não é tão alto pelo custo adicional que implica, mas as pessoas estão doidas para viajar!"
Com o atraso da vacinação da população brasileira frente à realidade dos países ricos, Oliveira não acredita que haja uma recuperação de fato pelo menos até o fim do ano, com o aumento da proporção de vacinados no País.
"Acredito que ainda vai ser um ano complicado, o verão (no hemisfério norte) não vai trazer boas notícias para o Brasil. Acho que mais ao fim do ano, com o aumento da vacinação, a gente tenha pelo menos a alta estação. Vai demorar para a gente ter algo comparado a 2019, mas com a retomada na alta estação brasileira, a gente tem um cenário adequado para um período de pandemia ou pós-pandemia".