Em setembro do ano passado, a B3 registrou um recorde de mulheres investindo na bolsa. Ainda assim, o percentual é baixo quando comparado ao número de homens: apenas 29% das 4 milhões de contas de pessoa física pertencem a investidoras.
O baixo volume de mulheres em investimentos de maior risco influencia também na dificuldade de empreendedoras em aportar crédito, em um ciclo vicioso. Esse cenário está sendo revertido aos poucos e educação e representatividade são armas importantes para tornar o mercado mais igualitário.
É o que conta no Diálogo Econômico desta semana a investidora-anjo e co-fundadora do Sororitê, Flávia Mello. A iniciativa é uma rede de investidoras-anjos que realiza investimentos apenas em empresas fundadas por mulheres.
Com menos de um ano de fundação, o Sororitê já reúne 50 mulheres que apostam em startups de líderes femininas. O aporte até agora já foi de R$ 2,5 milhões em 6 empresas e outras startups já estão em processo para receber investimentos. Uma das investidas, inclusive, é cearense, a Hermoney, voltada para gestão financeira de empreendedoras.
Para Flávia, existem ainda no mercado preconceitos velados e expostos com relação às mulheres que empreendem. Apesar de o investimento-anjo apresentar um risco elevado, a presença crescente de investidoras possibilita acolher novos negócios e ideias que não seriam compreendidas por investidores masculinos.
Confira a entrevista completa
A gente sabe que o mercado de investimentos hoje é muito mais masculinizado. Que barreiras existem para as mulheres chegarem até ele?
Eu acho que a desigualdade em relação a dinheiro é uma frase, né? Que 'pra gente reproduzir o machismo, basta estar vivo'. Então, ela permeia tudo e não seria o mundo dos investimentos que estaria livre desse dessa desigualdade de gênero.
Então, existem fatores históricos que remontam da construção da nossa sociedade e de toda a não valorização do trabalho da mulher e, em algumas situações, até a proibição do trabalho da mulher, quando a gente está falando da mulher branca, que ela não podia trabalhar, a mulher negra não sendo reconhecida como uma mulher que poderia beneficiar os negócios, sempre relegada a posições mais de submissão ou que não daria ela grandes sonhos aspiracionais de carreira.
A gente tem diversos tipos diferentes de opressões em relação a mulher que barraram a possibilidade de ela prosperar como os homens puderam prosperar no mundo dos negócios, né? Então eu acho que esse é um primeiro ponto, a gente já vê menos mulheres fundadoras, já é um número que tem uma disparidade quando você vai ver empresas fundadas exclusivamente por homens e empresas fundadas exclusivamente por mulheres.
As mulheres não sentem que elas podem, elas não sentem que elas conseguem, elas foram ensinadas que esse não é o lugar delas. Quando a gente vê, por exemplo, a capa da Forbes é sempre um executivo branco, lá nos seus 45, 50 anos. A cara da mulher não estampa esse tipo de editorial de pessoas de negócio bem sucedidas, isso é uma história muito recente que está mudando agora. Esse é um primeiro ponto.
O segundo ponto é que realmente a gente passa por mais barreiras e tem estudos de Harvard que provam isso, que a mulher passa por muito mais barreiras ao longo de todo o processo de captação de recursos para a sua empresa.
Desde convencer, anjos investidores de que a ideia é boa, de que a empresa vai funcionar, que vai dar certo, que tem um potencial de mercado até efetivamente na hora de contratar time. Quando a empresa é fundada só por mulheres, existe uma resistência de pessoas entrarem no time, então assim, é uma história permeada de obstáculos.
Os números não me deixam mentir, as mulheres captam muito menos dinheiro do que do que os homens. Em 2019 na América Latina os investimentos de venture capital destinados só pra mulher, pra empresas que foram fundadas exclusivamente por mulheres, ficou em torno de US$ 14 milhões. E quando a gente vê esse tipo de investimento pra empresas que foram fundadas exclusivamente por homem, sem nenhuma mulher no time de fundadores, a gente está falando da cifra de US$ 3 bilhões.
A gente está falando de uma diferença gritante. Primeiro por ter menos empresas fundadas exclusivamente por mulheres, mas também por ter muito mais dificuldade em ganhar tração com o investidor. Tem um segundo dado que é do lado do investidor, a disparidade também né? Porque quando a gente está falando que do lado do investidor cerca de 13% só de investidores que aportam em empresas em estágio inicial são mulheres, a gente está falando que essas portas estão mais fechadas pra mulheres que estão captando recurso.
É muito mais fácil que uma mulher se sinta confortável em investir em outra mulher, acredite, não tenha tanto viés, só que quando a gente vê que tem muito menos mulher investindo também fica ainda mais difícil, a porta fica mais estreita. É uma disparidade que ela permeia tanto lá do investidor quanto do lado da fundadora e ela é um ciclo vicioso que vai retroalimentando essa falta de recurso indo para empresas fundadas por mulheres.
Você considera que teve alguma dificuldade por ser mulher?
Não, eu acho que quem está com cheque na mão tem mais facilidade normalmente. Então, normalmente a dificuldade está mais pra quem está precisando de dinheiro, não pra quem está querendo colocar dinheiro. Então, eu não posso reclamar de forma alguma.
O que eu sinto é que como a maioria dos investidores-anjos são homens, acaba que são ambientes mais masculinizados, são ambientes onde as mulheres não se sentem tão à vontade de contribuir, de fazer pergunta, de dar opinião. É como um time de 10 pessoas onde só uma pessoa é mulher, óbvio que essa mulher ela não vai estar em um ambiente que é 100% inclusivo pra ela.
Existem pesquisas que provam que pelo menos 30% da composição de um time em uma reunião precisa ser mulher pra que as mulheres se sintam à vontade de participar, de contribuir. E isso se reflete exatamente nos grupos de anjo que eu tive oportunidade de entrar, é sempre muito homem, é muito difícil achar uma mulher ali.
Eu acho que essa é uma dificuldade. Mas eu, falando da minha experiência pessoal, tenho uma tese de investimento que é investir em fundadoras mulheres, empresas que são exclusivamente fundadas por mulheres que estejam construindo soluções pra mitigar a disparidade de gênero. Eu tenho uma tese muito específica, e aí pra mim é muito fácil encontrar fundadoras que me querem dentro do seu quadro de investidores.
Mas eu vejo na experiência de outras mulheres que estão entrando nesse mundo esse não-acolhimento pela maioria dos grupos serem compostos por homem. Tem mulheres incríveis que estão mudando essa história. A fundadora do Anjos do Brasil, por exemplo, ela é uma mulher incrível e ela é uma super líder desse mercado de investimento-anjo.
E eu acho que a tendência é que mais mulheres se sintam à vontade pra começar a investir nessa modalidade, que é um é um investimento de altíssimo risco, né? Quando a gente está falando de perfil de investimento, as mulheres têm a tendência a serem um pouco mais conservadoras. Mas eu acho que agora, daqui pra frente, se falando mais sobre o tema, trabalhando mais a educação sobre o que é investimento anjo, quais são os riscos atrelados, mas também quais são os possíveis ganhos, eu acho que a gente vai ver uma crescente aí de mulheres investindo em startups de estágio inicial.
Como funciona o investimento-anjo? Qual a importância desse segmento?
O investimento-anjo ele é um uma forma de se investir em venture capital. E o que é venture capital? Se a gente for traduzir literalmente, venture capital é investimento de aventura. Então, é realmente uma montanha russa aí, você vai entrar numa aventura, porque, como eu falei, tem muito risco.
O venture capital nada mais é do que investir em empresas que estejam em estágio inicial, normalmente no seu primeiro ou segundo até o terceiro ano de vida, e que tenham uma promessa de um crescimento exponencial pelos próximos anos. São empresas que acharam alguma coisa no mercado tradicional que pode ser inovada, pode trazer eficiência de alguma forma para o jeito que estamos fazendo hoje. É um time normalmente enxuto que está projetando um impacto muito grande de crescimento de negócio.
Isso é o venture capital, é você apostar em empresas que podem crescer muito, que que são jovens ainda e que podem crescer muito ao longo dos próximos 7 anos. Essa é a modalidade de investimento que a gente está falando.
E aí o investimento-anjo é uma forma de você investir em venture capital. Você também pode investir em fundos de venture capital e fundo toma decisão sobre qual startup vai investir, você bota o seu dinheiro lá e acredita que o fundo está tomando boas decisões, né?
Um investimento-anjo acaba sendo uma forma de investir de forma mais direta. E aí é onde entra o anjo, né? Por que que a gente fala anjo? O investidor que opta por essa modalidade de investimento normalmente ele não está só interessado em botar o dinheiro ali e ficar esperando o gráfico por e-mail. Ele quer participar da construção daquela empresa.
Então é um acordo que acontece entre o fundador e o investidor sobre que tipo de envolvimento, que tipo de engajamento, qual expectativa ter pra essa relação, mas o que o anjo aporta além do capital é o seu network, as suas conexões que vão ser cruciais para recrutamento ou pra outros investidores entrarem naquela startup ou pra parcerias que são estratégicas pra startup.
O anjo investidor aporta com seu conhecimento, então o seu background de mercado, o que que ele fez profissionalmente, como ele consegue contribuir pra esse fundador que está começando uma empresa do zero e vivendo diversos desafios que o anjo já pode ter visto.
Essa forma de investir é uma forma de investir muito ativa, onde você está muito presente nesse crescimento da empresa nesses primeiros anos, né? Nesse decolar, nesse sair do chão.
Há espaço para crescimento no mercado de investimento-anjo? Onde está esse potencial?
O potencial de crescimento é enorme. O mercado de venture capital na América Latina ainda está em desenvolvimento, ele ainda é considerado não-maduro comparado com outros mercados como Estados Unidos e Europa, por exemplo.
Mas, ainda assim, quando a gente vê os números a gente está vendo que o crescimento está muito exponencial. Pra te dar um balisador, em 2021 o investimento em venture capital foi três vezes maior do que 2020, passando de R$ 50 bilhões. É muito dinheiro e a gente está falando de um mercado que ainda está em desenvolvimento, então as oportunidades de ganho realmente são grandes.
Existe potencial também do lado das empresas, porque nunca o empreendedorismo no Brasil esteve tão em alta. Ano passado, segundo os dados do Ministério da Economia, o Brasil bateu recorde de empresas ativas. Acho que muito impulsionado pela pandemia, um dos fatores é o desemprego obrigando as pessoas a abrirem empresas, mas também tem novas demandas por parte das pessoas né? Pessoas que agora não querem mais voltar pra escritório, que querem priorizar o seu trabalho remoto.
Tem muita startup nascendo, muita startup começando. Acho que isso está ficando cada vez mais popular. Então, é uma oportunidade gigantesca que se abre dos dois lados, dinheiro grande entrando, cheques altos, muitos fundos vindo para a América Latina pra investir aqui, e muitas startups nascendo. Definitivamente, se a pessoa se animar pra investir em venture capital ou virar investidor-anjo, a hora é agora.
E isso precisa ser pontuado também junto com os riscos que o investimento desse tipo traz. Quando você faz um investimento-anjo, primeiro que esse investimento ele tem muito risco. Só pra você ter uma ideia, cerca de 70% das startups não passam do quinto ano. Se você investe em 10 startups, provavelmente 7 não vão dar certo do jeito que foi prometido quando você investiu. Isso é um risco que precisa ser entendido antes da pessoa entrar nessa modalidade, até pra ela entender o quanto do capital dela ela vai colocar, porque é muito, muito risco.
Além disso, é um investimento sem liquidez, você não consegue colocar o dinheiro lá e daqui a um ano, se você quiser tirar, você saca o seu dinheiro da startup, não funciona assim. Você fica ali na startup até um primeiro episódio de saída, ou a startup é comprada ou ser investida por um fundo e aí o anjo tem a opção de sair. Até isso acontecer, você não pode tirar o seu dinheiro e você não controla esse episódio de saída.
O terceiro ponto são os riscos que são associados com o tipo de contrato que se faz, existem por exemplo modalidades de investimento-anjo que a pessoa vira a sócia, entra ali no contrato social da empresa. Se essa empresa entra em falência, você tem todos os riscos trabalhistas, os riscos de dívida com fornecedor, todas essas questões também elas acabam envolvendo o investidor-anjo.
Então, antes de investir, é muito legal estudar sobre as formas de fazer um aporte desse pra entender quais são os mecanismos de maior segurança pra realidade daquele investidor-anjo e pra realidade daquele empreendedor, né? Pra que seja um acordo onde todo mundo saia feliz.
Como e por que surgiu o Sororitê?
Eu já era investidora-anjo e eu conheci uma outra investidora-anjo, a gente acabou se conhecendo um uma mesa redonda com investidoras-anjos. A gente se conectou depois em um café e resolvemos fundar essa comunidade de investidoras porque a gente sentia que a gente estava muito espalhada em diversos grupos de anjo investidor, mas a gente não tinha um espaço onde a gente pudesse ter essa troca de informação, de experiência, de leads de startups fundadas por mulheres que talvez outras mulheres quisessem investir.
Surgiu dessa falta no mercado de um lugar pra mulheres que tem interesse por essa modalidade de investimento se reunirem. A gente começou como um grupo do WhatsApp mesmo, sem muitas pretensões. A gente não tinha um plano de negócio, a gente não sabia no que que ia dar. A gente só começou.
O Sororitê vai fazer um ano em abril, a gente ainda nem finalizou o nosso primeiro ano, e a gente já está falando de cifras perto de R$ 2,5 milhões levantados para startups fundadas por mulheres. Foi um grande sucesso assim, parece que realmente tinha essa demanda reprimida de mulheres que queriam investir em outras mulheres
Essa é a missão do grupo, é o nosso propósito. A gente não avalia nenhuma startup que é fundada só por homem e precisa ser fundada pelo menos por 50% de mulheres. Hoje a gente já tem 50 investidoras e estamos crescendo.
Isso é muito legal e é muito confortante pra mim porque eu já tinha essa tese de investimento e é confortante saber que eu não estou sozinha nessa, saber que tem outras cinquenta mulheres que também embarcaram nesse compromisso em abrir portas pra outras mulheres que tão fundando empresas.
Por que é importante esse viés voltado para mulheres? Que dificuldades as mulheres que querem empreender enfrentam?
A primeira coisa é que existe o viés inconsciente de que os homens – e às vezes até consciente tá? Porque eu já ouvi investidores falando que não investem em empresas fundadas só por mulheres porque eles não acreditam que mulhere dão sangue. Então às vezes nem é tão inconsciente assim, às vezes é superconsciente. Existe um preconceito, às vezes declarado, às vezes velado, em relação às fundadoras, à capacidade delas de estratégia e execução na hora de criar negócios.
Quando a gente está falando de empreendedoras que estão criando soluções pra outras mulheres, aí que fica mais complicado ainda. Porque imagina, um homem que não menstrua avaliando uma startup de saúde íntima da mulher, relacionada a saúde menstrual. Ele não sabe, ele não vive essa realidade. Essa fundadora muito dificilmente vai conseguir levantar dinheiro com homem.
Tem até um caso de uma startup que passou pelo Sororitê e eu posso abrir porque esse número é público. Ela é uma empresa de lubrificante íntimo, é a Fio o nome. 84% dos investidores eram mulheres. Quando a mulher está mais conectada com a dor que a startup que é resolver, ela acredita muito mais, ela compra a ideia, ela entende que a demanda existe e que não existe solução no mercado.
A gente vê que esses investimentos não têm tração entre investidores-anjos e com investidores mulheres tem muita atração.
Quais os planos do Sororitê para o futuro? Como abranger mais investidoras-anjos para chegar a mais empreendedoras?
A gente está arrumando a casa, porque o Sororitê cresceu muito mais do que a gente imaginava num espaço muito curto de tempo. Então a gente agora está focado em organizar dentro de casa mesmo, colocar governança.
A gente está virando uma sociedade uma associação sem fins lucrativos, estamos organizando alguns processos internos para melhorar a nossa transparência, principalmente em relação como a gente seleciona as startups que vão apresentar no nosso grupo. A gente quer que esse processo seja muito transparente, acolhedor para a fundadora isso, é muito importante para gente.
Só pra depois a gente começar a pensar em como trazer mais investidores pra dentro da rede. A gente tem muita mulher querendo convidar amigas e perguntando pra gente como fazer isso, a gente está segurando um pouco por enquanto, enquanto a gente não arruma alguns processos.
A partir do segundo trimestre a gente vai começar a escalar isso, o crescimento da comunidade, principalmente focando em educação. Batendo muito na tecla do que é esse investimento, o que é esse tipo de investimento, o que você precisa saber antes de fazer um aporte. Essa jornada pra virar investidor-anjo não precisa ser solitária.
E também trazendo uma curadoria das oportunidades de empresas fundadas por mulheres pro grupo, né? Então esse é um segundo pilar que a gente tá apostando pra manter o engajamento dessas mulheres alto e efetivamente elas se sentirem impelidas a investir nas oportunidades que a gente está fazendo.
Uma das startups investidas pela Sororitê é cearense. Como ocorre essa seleção? Há um esforço para sair do eixo Rio-São Paulo?
Super. A gente está em um lugar super confortável agora, que a gente não precisa ir atrás das fundadoras, né? As fundadoras vêm atrás da gente. E a gente recebe fundadoras de todo o Brasil, como você falou, o caso da Hermoney, da Andrezza.
A gente tá superaberto e agora a gente está finalizando agora uma rodada de investimento numa startup do Rio Grande do Sul. A gente tem recebido startups de todo o Brasil, a gente conversa com startups de Goiânia também.
Acaba que a maioria está em São Paulo, não vou nem dizer no Sudeste, porque a maioria esmagadora de São Paulo, pouquíssimas de outras regiões tipo Minas, Rio, pouquíssimas. Acaba que a gente conversa mais com startups fundadas que estão sediadas em São Paulo, mas o processo do Sororitê é 100% online, então a gente poderia receber startups de qualquer lugar do mundo, na verdade.
A gente foca hoje no Brasil e tem planos de no futuro olhar pra América Latina, mas o processo é online, a gente tem um link de cadastro e a partir dali a fundadora ela passa por um processo de avaliação. Tem uma primeira pessoa que avalia se a gente está com todas as informações que a gente precisa dessa startup e depois tem um comitê de três pessoas que faz algumas perguntas mais cruciais pra entender se essa startup está pronta pra fazer captação no grupo. O terceiro estágio já é efetivamente apresentação pra comunidade de investidores.
É um processo que ele não é moroso, ele não é burocrático, a gente se esforçou muito pra não reproduzir coisas que a gente não gosta do mercado. E como a gente é 100% online, a gente recebe fundadoras do Brasil inteiro. Então sim, já conversamos com algumas do Nordeste, queremos mais.
E a forma como a gente encontra de atrair fundadoras, essas mulheres, é conversando com os veículos de mídia e estando presentes onde elas estão. Buscar que elas conheçam o Sororitê e que o Sororitê seja o lugar que elas vão buscar esse primeiro cheque de investimento. Isso pra gente é muito importante.
Como você avalia o mercado cearense? Há potencial, o que precisa mudar?
Existe um polo fortíssimo no Nordeste de desenvolvimento de game né, isso é muito forte assim, é uma coisa globalmente conhecida. Então essas startups que desenvolvem jogos tem um polo riquíssimo no Nordeste e eu acho que o Nordeste é um boom gigantesco de talentos.
Com certeza, acho que como o Brasil inteiro, precisa de mais incentivo pra inovação, o Nordeste não é uma exceção nisso. É, eu acho que é isso, eu acho que é o desafio do Brasil, né? Que é o desafio de investimento em inovação. Sempre que a gente tem grandes talentos, criativos e determinados e com vontade de fazer as coisas acontecerem, já é um potencial gigantesco pra startup.
Se tem gente afim de fazer, com boas ideias, é um lugar que é um terreno fértil pra que startups prosperem. O que eu acho que precisa acontecer mais é esse incentivo pra que pessoas efetivamente arrisquem e comecem as suas empresas né?
Tem um tem uma fundadora americana super famosa que fundou aquela marca Spanx, de cinta de roupa íntima. E ela fala que todo mundo, todo mundo, já teve uma ideia de um bilhão de dólares. Todo mundo. A diferença é que algumas pessoas fazem essa ideia acontecer, outras pessoas só têm a ideia e deixam a ideia passar.
Tendo talento, tendo criatividade, tendo a vontade de inovar e de executar, é um terreno fértil pra startup.
O que é necessário mudar no mercado para que mulheres invistam mais e também possam empreender mais?
A gente já vê uma atração muito grande numa de forma geral, né? Quando você olha por exemplo os dados de CPFs investindo na bolsa, bateu um recorde de mulheres investindo nessa modalidade de risco.
Então eu acho que é uma é um caminho natural. O crescimento de investimento de risco no Brasil é uma realidade e as mulheres estão acompanhando isso, e eu acho que é uma questão de tempo pra que o mercado fique mais maduro e mais pessoas conheçam e se sintam confortáveis em efetivamente fazer aportes de altíssimo risco como o investimento-anjo.
Eu acho que o que acelera essa curva são iniciativas de educação. Tem diversas iniciativas agora focadas em mulheres, pra ensinar mulheres a investir. A gente vê o Elas que Lucrem, o As Investidoras, mulheres de mercado financeiro que querem ensinar outras mulheres sobre finanças e investimentos. E isso são iniciativas que acabam acelerando essa adoção de investidoras, de mulheres botando dinheiro, investindo em modalidades de maior risco, em produtos mais sofisticados de investimento.
Porque a poupança é uma grande realidade do Brasil e tem aí um movimento pra tirar o dinheiro da poupança e botar em alguns produtos mais sofisticados. As mulheres estão acompanhando esse caminho.
Para que mulheres possam empreender mais, a gente precisa primeiro ser gentil com as mulheres como sociedade, né, porque as mulheres são extremamente sobrecarregadas e exaustas.
Então acho que essa é a primeira coisa, acho que começa dentro de casa com equidade do trabalho não remunerado para que mulheres tenham mais tempo pra se dedicar a suas carreiras, aos seus seus empreendimentos.
A segunda coisa é mais referência. Então, as mulheres precisam ver mais mulheres empreendendo, mais Luiza Helena Trajanos [Magazine Luiza], mais Cristiana Junqueiras [Nubank], a gente precisa ver mais mulheres estampando capas de revistas de negócio como empreendedoras bem sucedidas, isso é fundamental pra que a gente consiga que mais mulheres se animem e se sintam encorajadas de abrir suas empresas.
Eu acho que em terceiro lugar, a gente precisa de mais incentivo financeiro. As mulheres têm mais dificuldade de acessar crédito no banco, elas têm mais dificuldade de acessar capital de investimento-anjo, elas têm mais dificuldade de uma forma geral de conseguir capital pra começar suas empresas. A gente também precisa falar muito sobre isso pra que exista menos viés de gênero na hora dessa captação, que é muito fundamental pra tirar uma empresa do papel, é muito difícil começar uma empresa sem dinheiro.