Dezesseis policiais militares, em quatro viaturas, apenas acompanhavam o movimento intenso de caminhões-tanque saindo do parque de tancagem do Porto do Mucuripe, em Fortaleza. Outro contingente escoltava os veículos. Todos os transportadores cadastrados foram convocados para uma espécie de força-tarefa, em prática desde o dia anterior, para restabelecer o funcionamento dos postos da cidade. Conforme o Governo do Ceará, cerca de 150 escoltas foram realizadas no fim de semana para manter os serviços essenciais.
O caminhoneiro Manoel Paulo, com 18 anos de transporte de combustíveis, aguardava a liberação da administração de uma das distribuidoras para encher o tanque e se dirigir a dois postos: no Castelão e no Centro da Capital. Faria o mesmo percurso do sábado (26). "Domingo ninguém vem não. Como secou tudo, né?", disse o motorista. Uma rápida volta na Capital evidenciou, mesmo em pequeno recorte, o retorno da gasolina comum em muitos estabelecimentos.
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O ponto de partida foi a Avenida José Saboia, no Cais do Porto, repetindo a rota de muitos caminhões. No domingo (27) já não havia a necessidade de escolta dos veículos que carregavam essencialmente álcool e gasolina. A primeira parada foi no posto Padre Pio, na Avenida Almirante Henrique Saboia, a Via Expressa. O posto havia sido reabastecido minutos antes, com 10 mil litros de gasolina comum.
O frentista Arnóbio Silva contou que dez motoristas já tinham abastecido lá. O último, o porteiro Nair Cavalcante, disse que viu o funcionamento do posto quando estava indo para o trabalho e resolveu voltar. Colocou R$ 100, suficiente para pouco mais de 20 litros de gasolina, menos da metade do tanque.
"Parei para abastecer logo. Dá para segurar por uns dias", comentou, preocupado com a situação. A intenção era só usar o carro para compromissos inadiáveis, como consultas médicas. Antes de sair, mais um carro encostava para abastecer.
Reabastecimento
Da Via Expressa para a Avenida Engenheiro Santana Junior. O posto Caribe estava com carga apenas de diesel antes da chegada, naquele minuto, de um caminhão-tanque vindo do parque de tancagem. O motorista e um profissional do estabelecimento preparavam a transmissão de 15 mil litros de gasolina comum. Era, inclusive, a capacidade total de armazenamento deste tipo de combustível no local.
O fluxo de clientes era intenso, todos com veículos movidos a diesel. Lá, o litro da gasolina convencional custava R$ 4,89, do álcool R$ 3,89 e do diesel R$ 3,99. "Fiquei preocupado com isso aí. Quase enchi o tanque. Esse é o segundo carro, o plano 'B'. O outro, à gasolina, está com o tanque cheio", explicou o consultor de vendas Josmilton Mesquita, favorável ao protesto dos caminhoneiros nas estradas.
Após o engate das mangueiras no posto Caribe, a reportagem se dirigiu ao Petrocar, na Avenida Washington Soares, em frente à Universidade de Fortaleza. Recém recarregado, recebia vários veículos, formando uma pequena fila. As bombas ficaram vazias por dois ou três dias até o novo aporte, feito na tarde do sábado (26). Pela localização, o posto deixou de atender muitos clientes que passavam à procura de combustível.
Falta e organização
A próxima parada aconteceu na Avenida Oliveira Paiva, um pouco antes da alça de acesso à BR-116. No posto Tetra, que funciona 24 horas, a gasolina estava no reservatório desde a tarde do dia anterior. O álcool seguia em falta.
O frentista Leandro Silva comentou que, pela alta demanda, foi necessário isolar algumas bombas com cones e cordas, para centralizar e organizar o atendimento. Pelo menos dez carros e motocicletas eram abastecidos ou aguardavam atendimento.
Se o movimento já estava sobrecarregando alguns estabelecimentos, a situação do posto Cauipe, no Km 2 da BR-116, era exatamente a inversa. Dois profissionais aguardavam sentados, na sombra, a esperada recarga vinda do Mucuripe. Cones interditavam o local, mas não impediam a chegada de motoristas. Um deles diminuiu a velocidade, baixou o vidro e acenou, perguntando por combustível. Após a negativa, seguiu viagem, à procura de outro posto.