Estagflação: o que é e por que o Brasil entrou neste cenário econômico?

Com retração da atividade econômica e alta dos preços dos produtos no mercado interno, economia brasileira pode estar em um cenário complicado para as projeções de 2021 e 2022

O cenário econômico brasileiro atual, talvez, esteja em um dos momentos mais complexos para se pensar em projeções de futuro. Com os preços dos produtos aumentando, caracterizando uma pressão inflacionária, e nível da atividade econômica em queda ou estagnada, o País está em um período de estagflação.

O que é estagflação?

Por definição básica, o cenário de estagflação é classificado por uma economia estagnada, aliada a alto nível de desemprego e inflação crescente. 

Baseado nos levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o mercado elevou a expectativa da inflação em 2021 de 7,11% para 7,27%.

Enquanto isso, o Produto Interno Bruto (PIB) do País recuou 0,1% no segundo trimestre, também de acordo com o IBGE. Além disso, o Instituto ainda aponta que o número de desempregados no Brasil – dados da última sexta-feira (30) – é de 14,76 milhões, o que representa 14,6% da população no primeiro trimestre de 2021. 

Com esse cenário, a perspectiva de Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE), é que o Brasil, sim, está em um cenário de estagflação, o que pode elevar ainda mais a pressão sobre a economia. 

Com a redução dos níveis de atividade econômica aliada ao aumento de preços de produtos importantes, principalmente ligados à alimentação, a perspectiva é de que a população, em geral, tem problemas graves de passar pela crise até que haja uma mudança de postura do Governo Federal. 

"Esse momento do segundo trimestre mostra essa situação (de estagflação), mas podemos ter uma recuperação lenta ainda em 2021, só que isso vai depender das ações do Governo Federal, e o setor produtivo está tendo a sensibilidade de que não é o processo que está se desenhando", disse. 

"O que se espera é que esse ano tenhamos um crescimento da economia, com recuperação pelo resultado de queda do ano passado. Mas o Banco Central está com postura que vai forçar um cenário nao tão positivo para o ano que vem. Podemos ter um crescimento de 1% e 1,5% e se a inflação se mantiver, vamos ter um problema muito grande", completou Coimbra. 

Atuação do BC

Contudo, apesar das perspectivas um pouco mais positivas para 2022 em relação à economia, o presidente do Corecon afirmou que as ações do Banco Central não estão focadas em solucionar o problema da economia brasileira, por estarem direcionadas em apenas um aspecto da crise. Segundo Ricardo, essa atuação do BC ainda poderá agravar o cenário de estagflação. 

Ele comentou que o BC tem atuado, nos últimos meses, focado em aumentar a taxa básica de juros (Selic), mas tem desconsiderado outros aspectos da política econômica, como questões fiscais e cambiais, que também estão pressionando a inflação no País. 

Ricardo comentou que o Brasil precisa planejar melhor as reformas estruturais, como a tributária e a administrativa, o que poderia dar mais segurança aos investidores, além de considerar mais ações relacionadas ao dólar para reequilibrar a alta de preços. 

"A gente está tentando controlar a inflação apenas pelo controle de juros, mas temos a questão do câmbio que tem influenciado o nosso mercado interno, com as empresas exportando muito mais em determinados cenários porque o dólar está alto", explicou.

"O ideal era ter uma política monetária menos expansionista, aliado a uma política fiscal que ajudasse a controlar a inflação e elevasse a atividade econômica, com uma política cambial que pudesse diminuir a pressão do dólar sobre os produtos no mercado interno", completou. 

Projeções para 2022

Caso o BC não altere a postura no próximo ano, Coimbra projeta que 2022 pode gerar um cenário muito semelhante a 2021, mesmo que a perspectiva geral seja de uma leve recuperação. Ele comentou que a expectativa do mercado é de que o País cresça entre 1% e 1,5% no próximo ano, o que não seria suficiente para reverter o quadro econômico, caso a inflação continue elevada. 

As projeções do IBGE indicam, hoje, uma inflação entre 4% e 5% para 2022, de acordo com o Corecon.  

"Ano que vem, devemos ter um processo inflacionário sim, com 4% ou 5%, que é um ritmo menor do que esse ano, mas as próprias ações do BC estão forçando esse cenário de estagflação. Devemos ter uma recuperação econômica em 2021 porque a base de comparação com o ano passado é muito baixa, mas 2022 pode ter um cenário bem complicado", disse Coimbra.