Enquanto para alguns o consumo de itens básicos como arroz e feijão se tornou mais difícil em meio à alta de preços, para outros, produtos alimentícios premium fazem parte cotidianamente da cestinha de compras.
O mercado de alimentos de luxo teve crescimento durante a pandemia, com o consumo de iguarias importadas cujo preço do quilo ultrapassa os R$ 1.000 incentivado em um momento em que os restaurantes estavam fechados. Até hoje, negócios focados no segmento esperam uma curva ainda ascendente.
Queijos, vinhos e azeites importados, cortes nobres de carne, como é o caso do bife kobe, frutos do mar e iguarias como o foie gras e ovas de peixe fazem parte da lista de compra dos super ricos cearenses.
De acordo com empresários do segmento, o consumo de produtos premium não diminuiu em volume, mesmo com o aumento nos preços. As expectativas são positivas, sobretudo para o final do ano, quando as ceias de Natal incentivam a compra de alimentos tidos como de luxo.
Esta é a segunda matéria da série do Diário do Nordeste que mostra o mercado de luxo no Ceará, desde carros, helicópteros e até imóveis de milhões de reais.
Consumo na pandemia
Para a CEO da Japa da Ostra, Kazumy Niura, a pandemia foi um divisor de águas para o negócio. A empresa iniciou as operações em 2018 com foco em frutos do mar trazidos de Florianópolis, mas logo a demanda dos clientes começou a fazer com que o portfólio se expandisse para proteínas no geral, normalmente importadas.
“Começamos a enxergar que aqui no Ceará tinha esse mercado para a gente atuar, começamos a trazer coisas bem exóticas, o King Crab [caranguejo gigante], principalmente produtos importados como vieira canadense, polvo gigante, de Portugal. Hoje temos mais de 500 itens no nosso portfólio, vendemos proteínas em geral, cordeiro, vitelo, rã, pato. Além dos secos, toda a parte de culinária japonesa também nós trazemos”, contextualiza.
A empresária considera que o mercado cearense tem crescido muito principalmente nos últimos 5 anos, com um maior desenvolvimento da gastronomia. Ela cita que alguns dos itens de maior procura na loja são os mais caros, como o King Crab, cujo quilo custa por volta de R$ 400, as vieiras japonesas, de R$ 700 o quilo, e até ovas de peixe, que ultrapassam os R$ 1.000 o quilo.
Há inclusive fila de espera para o foie gras, o fígado de um pato ou ganso que foi alimentado à exaustão. Na loja, o quilo da iguaria custa R$ 700.
O foie gras tem uma procura que tem fila de espera, e é um produto caríssimo. A venda não é só para restaurantes, é também para pessoa física. Na pandemia, começou as pessoas a procurarem muitos cursos de gastronomia, às vezes faziam online. Com relação ao meu negócio, a pandemia foi um divisor de águas. As pessoas ficaram em casa e passaram a conhecer a Japa da Ostra. No período de pandemia foi muito bom para gente em relação ao nosso negócio”
Hoje a loja já abriu uma franquia no Rio de Janeiros e tem expectativas positivas. Como o mercado de luxo tem um público limitado, o que Kazumy projeta é um crescimento lento, mas constante, com possíveis novas expansões no futuro.
Período natalino
O período de Natal é uma boa época para os negócios que trabalham com alimentação de luxo. De acordo com o diretor comercial do Empório Dellitalia, Eduardo Albuquerque, dezembro é um mês que a empresa normalmente tem o dobro do faturamento, independente da situação econômica do país.
“Sempre é uma época muito boa, a gente tem histórico de situações econômicas mais e menos favoráveis, mas independente da situação, dezembro é um mês muito bom. A gente vende o dobro de um mês normal”, destaca.
A loja atua há 25 anos em Fortaleza, sempre com foco em produtos premium, voltados para a classe A. O empresário repara que a procura por esse tipo de alimento foi aumentando ao longo dos anos.
O mercado era bem diferente porque o cliente nem conhecia os produtos. A gente oferecia presunto importado, queijos importados, e sofreu porque a gente não tinha cliente. A gente depois percebeu um acréscimo nos clientes, os clientes começaram a viajar mais e ter conhecimento de outros produtos, fica mais fácil de trabalhar com produtos mais premium”
No Natal, a empresa traz para o público panetones italianos que chegam a até R$ 268 a lata de 1 quilo. Também há vinhos de até R$ 6.000, queijos e frios importados, além de azeites e frutas secas como tâmaras e damascos.
O empresário conta que também percebeu um boom no consumo dos produtos premium com a pandemia e que o volume de vendas não diminuiu, mesmo com o aumento dos preços.
“Depois da pandemia a gente sentiu alguns insumos com acréscimo de custo muito alto, mas não notamos muita diferença no volume, até pelo nosso perfil de clientes, de classe A e B. Mantemos as vendas, mesmo com o preço mais alto”, afirma.
Adaptação à crise
Atuando com um perfil de clientes um pouco mais diverso, o Mercadinho São Luiz precisou se adaptar para seguir ofertando produtos de luxo apesar da pressão inflacionária. O diretor comercial do mercado, Luiz Fernando Ramalho, ressalta que o foco da empresa ainda é no segmento premium, mas que o negócio tem buscado se diversificar para continuar atendendo aos clientes.
A gente tem que estar sempre sendo criativos para encontrar produtos que caibam no bolso do consumidor, estamos em um momento de inflação. Todo produto que precisa de uma matéria-prima específica fica mais caro, tem que sempre procurar produtos que tenham qualidade e se encaixem no bolso”
As lojas do Mercadinho São Luiz trazem produtos para um poder aquisitivo mais caro, como cachaças de R$ 500, whiskys de R$ 8.500 e vinhos na faixa de R$ 4.000. De acordo com Ramalho, não houve muita mudança no consumo desse tipo de produto, buscados pelos clientes normalmente para presente.
O diretor da empresa conta que o consumo de produtos de maior valor agregado subiu com a pandemia e depois caiu, mas se encontra em um patamar ainda superior se comparado a 2019.
Mesmo assim, a empresa busca adaptações para não perder público. Um exemplo é a criação da bandeira Mercadão, uma loja de descontos do São Luiz. Também há uma busca constante de produtos com qualidade, mas preços menores.
“O consumo mudou, o comportamento mudou um pouquinho. O vinho Cartuxo, que é um vinho português, o preço de venda era R$ 159 reais, tinha um volume considerável [de venda] desse produto. Após esse disparo da nossa moeda perdendo valor, esse produto foi para uns R$ 230 e o volume dele caiu bastante. A gente tem que buscar produtos que entreguem o que ele entrega de qualidade e que se mantenham no preço dele”, exemplifica.