O cenário econômico de juros mais baixos, aliado ao período que antecede as festas de fim de ano, no qual os consumidores vão às compras, sinaliza que renegociar dívidas é ideal para quem se encontra inadimplente. Até sexta-feira (6), os principais bancos do País realizam a Semana de Negociação e Orientação Financeira, organizada pelo Banco Central (BC) e pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), com descontos que podem ultrapassar os 90%.
Parte das agências bancárias de sete instituições financeiras (Banco do Brasil, Banrisul, Bradesco, Banco Pan, Caixa Econômica, Itaú e Santander), terá o horário estendido até as 20 horas para a realização do feirão de renegociação e orientação financeira de seus clientes, com condições especiais. Para Vicente Férrer, economista conselheiro do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE), trata-se de uma boa oferta, tendo em vista o cenário de juros mais baixos no País.
“Eu acho que a oportunidade é muito boa porque os juros têm a perspectiva de caírem mais ainda, com novas modalidades do cheque especial. O momento é muito propício para que os consumidores façam essa renegociação. E é interessante para os bancos também, porque eles emprestaram no patamar de juros muito elevados, e agora há redução dos prejuízos com os juros mais baixos”, explica.
Ontem (2), o presidente Jair Bolsonaro disse que a taxa Selic deve sofrer um novo corte e cair de 5% para 4,5%. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para o dia 10.
Segundo Férrer, a situação é também favorável para os bancos tentar renegociar as dívidas dos consumidores. “Juros acima de 10% são impagáveis.
Os bancos sabem disso, então é melhor receber alguma coisa e ter mais um consumidor restabelecido financeiramente no mercado do que ter um indivíduo inadimplente que não vai ter como honrar o compromisso”, argumenta.
Para o economista, esta é uma política de recuperação de crédito e da imagem do próprio banco. “A tendência é que a concorrência aumente, novos bancos devem entrar no mercado, os juros praticados com certeza serão diferentes dentro inclusive de um crédito com um cadastro positivo. A tendência, para o ano, é que reduzam cada vez mais as taxas, até porque as dívidas contraídas no passado foram com juros altos”.
Ele diz ainda que o momento é ideal para renegociar as dívidas, porque há mais dinheiro em circulação devido ao pagamento do 13º salário e aos saques do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
“Vem agora um período de endividamento por causa das festas, depois o mês de janeiro com muitas despesas das famílias, com relação ao seguro do carro, impostos, matrículas escolares. O momento agora tem que ser aproveitado enquanto a pessoa tem condições de negociar”, observa.
Alerta
Para o conselheiro federal de Economia e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Lauro Chaves Neto, renegociar dívidas sempre abre caminho para a pessoa física ou jurídica recuperar crédito no mercado. “O que nós temos que alertar é que as pessoas precisam fazer um planejamento financeiro para que no futuro não voltem a ficar endividadas novamente e estarem só ‘empurrando com a barriga’ o problema ao invés de solucioná-lo”.
Ele diz que outra dica é só fazer a renegociação se o consumidor conseguir condições que permitam pagar a dívida. “Se não você faz a renegociação, assume uma parcela maior do que consegue pagar e fica inadimplente novamente. Antes de renegociar faça o seu orçamento e fluxo de caixa para poder chegar ao banco já sabendo quanto pode dispor e quanto pode acertar para cumprir com o acordado”, orienta.
Lauro Chaves afirma também que provavelmente qualquer renegociação neste momento vai haver uma boa redução dos juros. “Porque como essa dívida foi feita no passado, em que a taxa de juros estava maior do que agora, pode ser um ganho na renegociação. Para o lado do banco, ele vai negociar e receber uma dívida que antes ele não estava recebendo. Qualquer período é bom para você regularizar a situação e passar a ter crédito no mercado. Mas é fundamental fazer um planejamento”, reforça.
Descontos
O Banco do Brasil dará descontos de até 92% na liquidação de dívidas e disponibilizará prazos que podem chegar a 120 meses, além de até 180 dias de carência. O banco também oferecerá, promocionalmente, taxas de juros até 14% menores para a renegociação.
O Bradesco informa que participa do mutirão da dívida com prazos e taxas diferenciadas, de acordo com o perfil individual de cada clientes.
Segundo a Caixa, na renegociação do crédito comercial, os clientes podem quitar dívidas que estejam em atraso há mais de um ano com até 90% de desconto para pagamento à vista, de acordo com as características da operação. Eles podem ainda unificar os contratos em atraso e parcelar em até 96 meses, realizar uma pausa no pagamento de até uma prestação vencida ou a vencer e efetuar a repactuação da dívida, com possibilidade de aumento do prazo.
O atendimento no Itaú Unibanco ocorrerá nas agências, pelo site, aplicativo e na central telefônica. Segundo o banco, o cliente vai encontrar taxas reduzidas, a partir de 1,99% – nesse caso, para débitos com mais de 90 dias de atraso –, e prazo de até 30 dias para o pagamento da primeira parcela. Quem for pessoalmente renegociar pode obter desconto de até 90%, no caso de dívidas com atraso superior a um ano.
No Santander, a renego-ciação também envolve descontos de até 90% no valor da dívida. Clientes com atrasos de até 60 dias terão reduções nas taxas de até 20%.