Principal instrumento do Banco Central para regular a inflação no País, a Selic teve uma nova alta na última quarta-feira (27). O Comitê de Política Monetária (Copom) subiu os juros básicos da economia brasileira em 1,5 p.p., chegando a taxa em 7,75% ao ano.
Com a alta da Selic, os juros para obtenção de crédito ficam mais caros em todo o País. O objetivo, com isso, é reduzir a demanda e, dessa forma, controlar a inflação.
A alta mais recente deve ter efeitos para diminuir a pressão inflacionária, mas eles só serão sentidos de médio a longo prazo. Conforme a chefe de economia da Rico, Rachel de Sá, o atual aumento deve influenciar a inflação de 2022, mas não há efeitos imediatos sobre o preço dos produtos hoje.
Ela explica que o aumento dos preços no momento tem a ver com questões externas ao Banco Central e também com a política monetária adotada no ano passado, quando a Selic esteve no menor patamar histórico, em 2%.
Como funciona a Selic?
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, servindo como base para os juros cobrados em empréstimos e financiamentos e também na rentabilidade de grande parte dos investimentos de renda fixa, incluindo a poupança.
A ferramenta é utilizada pelo Banco Central para tentar levar a inflação para mais próximo da meta, baixando a taxa para incentivar o consumo ou elevando-a para inibi-lo.
“Como estamos vivendo em níveis de inflação bem elevados, o Copom vem aumentando para tentar inibir o consumo, fazer com que tenha uma retração do consumo para que não tenha ainda maiores altas na inflação”, explica o sócio da CDP Capital Raul Aragão.
Além do controle da inflação, as oscilações da taxa ocorrem para atender as expectativas de mercado e atrair ou pelo menos manter investimentos no País.
Quando a Selic sobe, os investidores são melhores remunerados em troca de um maior risco fiscal existente – nesse caso, devido ao anúncio de uma mudança no teto de gastos para financiar o Auxílio Brasil.
Ao mesmo tempo, o custo do crédito sobe, desincentivando os consumidores a fazerem gastos maiores. Reduzindo a demanda, a expectativa é que a inflação e o preço dos produtos caiam.
Quanto mais a taxa básica aumenta, mais se tira dinheiro de circulação. O movimento natural dos investidores é fazer aplicações na renda fixa, que têm retorno maior. Faz com que as pessoas poupem mais do que consumam. Traz uma desaceleração da economia
A inflação vai cair?
Ainda que a Selic tenha efeitos sobre a inflação, eles não são sentidos a curtíssimo prazo para o consumidor. Os investidores de renda fixa já devem começar a perceber a nova rentabilidade nos próximos dias, mas, para o consumidor em geral, os impactos só devem chegar entre 6 e 9 meses.
“Quando ele sobe a Selic agora, ele [Banco Central] não está olhando para a inflação de hoje. A inflação deste ano ele não vai controlar, são movimentos que já estão em andamento”, detalha Rachel de Sá.
Para o restante de 2021, apesar do aumento da Selic, a expectativa de Raul Aragão é que a inflação seja ainda mais pressionada devido às compras de fim de ano.
“Estamos chegando no final do ano então o consumo fica mais aquecido, normalmente final do ano temos um aquecimento maior da economia, que gera mais inflação. Devemos ter esse retorno da inflação um pouco mais retraída a partir de 2022”, projeta.
Segundo Rachel, esta alta deve ajudar a reduzir a inflação em 2022, mas fatores externos ao controle do governo podem mudar as expectativas.
O regime de chuvas, por exemplo, terá papel central para reduzir ou até aumentar as tarifas de energia.
Ela esclarece que a economia já sente agora efeitos das altas na Selic que seguem desde março deste ano, mas que outras questões fazem com que a inflação esteja em movimento ascendente – o IPCA já acumula alta de 10,25% nos últimos 12 meses. Um desses principais fatores é o câmbio.
“Quando o câmbio está depreciado bate na inflação, porque muita coisa na nossa economia tem ali uma influência do dólar, de alguma coisa importada”, diz.
Mesmo com a previsão de que a inflação caia no ano que vem, Rachel reitera que isso não significa uma deflação – ou seja, os preços não vão necessariamente cair, vão apenas subir de forma mais lenta.