O primeiro trimestre de 2024 foi marcado por uma significativa queda nas exportações cearenses, puxadas, principalmente, pela diminuição da exportação do aço. A commodity, que representa mais da metade de toda a pauta de exportação do estado, apresentou queda de 64,6% em valor e 68,8% em quantidade, em comparação ao igual período do ano passado. Com isso, o total de exportações do Ceará nos meses de janeiro a março apresentou uma redução de 38% em valor e 54,8% em quantidade de produtos.
Os dados são do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Ceará, a Fiec, e foram apresentados na manhã deste quarta-feira (29).
Segundo o economista chefe da Fiec, Guilherme Muchale, a queda acentuada nas vendas internacionais do aço, não só cearense, como brasileiro, se deu por conta da entrada do aço chinês, excedente da produção interna, no mercado internacional.
"Teve uma queda muito forte no consumo do aço pela construção civil na China e isso fez com que aquele país levasse esse aço que está sobrando dentro do seu mercado para o mercado externo".
Ele lembra que uma série de países adotou medidas de defesa comercial, porém as medidas brasileiras acabaram sendo tomadas tardiamente, se comparadas com as principais economias mundiais e isso acabou refletindo no espaço em que a indústria siderúrgica cearense teve para exportar os seus produtos e ainda na entrada desse aço chinês no nosso mercado.
"Então, em um curto prazo o mercado internacional tem, de fato, elementos muito difíceis de serem trabalhados. Isso porque parte desses mercados consumidores que antes consumiam o aço brasileiro e cearense, muitas vezes acabam optando por um aço chinês por questões de dificuldades de competição, como tributações diferenciadas e o próprio peso da folha de pagamento, que são bem diferentes. Por isso a expectativa também não é positiva para o aço brasileiro, em um curto prazo".
Muchale destaca que a indústria siderúrgica no Ceará é nova e extremamente moderna, o que lhe dá possibilidade de competição no mercado externo.
Entretanto, por mais que haja uma redução do consumo do aço chinês, a produção continua em alta, então, obrigatoriamente ela vai reduzir em termos de preço. Por isso, ainda não há sinais claros de que esse mercado internacional vá reagir positivamente, no caso de beneficiar o aço brasileiro"
Para isso, o economista aponta que um número maior de países precisaria adotar medidas comerciais específicas contra o aço chinês, abrindo assim oportunidade para o aço cearense.
"A ação foi tardia, mas ainda assim é importante que o Governo Federal tome medidas para que o aço chinês também não afete o mercado interno, criando uma situação de maior igualdade nessa competição".
Mercado interno pode ajudar a minimizar danos
A indústria metalúrgica cearense tem perfil de exportação, porém o economista chefe da Fiec aponta o aquecimento do setor da construção civil, não só de moradias, como também o investimento brasileiro em ferrovias, como na região, a Transnordestina, como pontos de minimização dos danos no setor.
"Obviamente, talvez, não seja ainda o suficiente para no curto prazo conseguir compensar essas perdas de exportação, mas é uma oportunidade para esse setor".