O polo calçadista cearense tem potencial de crescimento para 2025. A combinação de mão de obra qualificada, incentivos fiscais atrativos e as novas oportunidades decorrentes dos impactos da tragédia no Rio Grande do Sul no setor calçadista contribuem para um ambiente favorável.
Atualmente, 1 em cada 4 pares de sapatos fabricados no Brasil já é feito no Ceará, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Os dados compreendem o acumulado de 2023, totalizando 224,9 milhões de produtos. Já neste ano, o Estado sofreu o baque da saída da Paquetá. Por outro lado, a chegada da Arezzo para assumir a fábrica pode recuperar a produtividade local do segmento.
No cenário nacional, "a situação também foi difícil para todo o setor", segundo o consultor especializado Luís Coelho. “A questão econômica do País e da economia mundial fizeram as empresas reduziram a capacidade de produção para poder ser sustentar”, observa.
Conforme o especialista, apesar de a indústria cearense não ter sofrido como o polo gaúcho, afetado pelas enchentes, ainda há incertezas para o próximo ano.
Entre elas, o aumento dos custos industriais devido à reoneração da folha de pagamento e a valorização do dólar, que embora beneficie as exportações, impacta negativamente a importação de insumos como solados e acabamento.
“Os resultados dependerão do cenário macroeconômico, mas acredito que para o Ceará não haverá grandes mudanças. Uma das principais dificuldades do ramo é a mão de obra, porém o mercado cearense possui essa disponibilidade", avalia.
"É importante destacar que não se trata de mão de obra barata, pois o custo é similar ao de outros estados. Outro fator positivo são os incentivos fiscais atrativos", completa.
Ceará poderá ter aumento da produção, avalia economista
Para o economista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Ricardo Coimbra, a tendência será de crescimento.
“Considerando sua participação de 25% na produção nacional de calçados, o Ceará possui um grande potencial para absorver o crescimento do setor, já que sua estrutura produtiva tem se mantido e, em alguns casos, até melhorando a capacidade”, analisa.
“Outro ponto é a menor concorrência proveniente das indústrias da serra gaúcha, que foram afetadas pelas fortes chuvas do início do ano. Então, existe a potencialidade até de ter um crescimento maior na produção do Estado”, destaca.
Além disso, acrescenta, o aumento da renda da população, a redução da taxa de desemprego e o forte crescimento do PIB cearense criam um cenário favorável para o setor.
O segmento de calçados é o segundo que mais emprega em todo o Ceará, atrás apenas da indústria da construção civil. Em agosto de 2024, o saldo de postos de trabalho no Estado no setor era de 68,3 mil empregos, conforme dados da Abicalçados, com base em registros do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Setor em expansão
Presente em Horizonte desde 1996, a Vulcabras testemunha o bom momento do setor no Ceará. A companhia vendeu mais de 25 milhões de pares de calçados em 2023 e iniciou neste ano uma expansão "que soma 8.030 m² aos 132.080 m² já existentes, totalizando 140.110 m² de área construída".
Segundo a empresa, a unidade na Região Metropolitana de Fortaleza é uma indústria de ponta, "altamente conectada e equipada com o que há de melhor e mais avançado para a produção de calçados esportivos, que entrega o melhor do esporte para milhares de brasileiros".
A fábrica de horizonte possui 12 mil colaboradores em uma área total de 246 mil m², com 140,1 mil m² de área construída, onde são produzidas as marcas Mizuno, Olympikus e Under Armour.
A reportagem também procurou as empresas Arezzo e Grendene, mas ambas não responderam aos questionamentos.
Resultado das eleições nos EUA poderá afetar setor, diz economista
De acordo com o assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Lauro Chaves Neto, fatores externos também irão influenciar.
"O setor calçadista, que trabalha muito com exportação, está sujeito a uma série de variáveis que aumentam a incerteza para 2025. Temos, por exemplo, o resultado das eleições americanas, o que pode implicar", aponta, lembrando do risco de mudanças na política de tarifas
"Temos as questões dos conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia, que têm o poder de afetar bastante a economia europeia. Tudo isso faz com que as exportações de calçados tenham um componente de incerteza maior. Assim, juntando o fator interno ao externo, podemos concluir que a expectativa do setor calçadista é de crescimento, porém moderado, para 2025", pondera.