Uma das principais empresas do setor de energias renováveis, a cearense Casa dos Ventos vai entrar de vez no segmento de energia solar. O investimento será no Complexo Fotovoltaico Pecém, localizado em Pentecoste, a cerca de 100 quilômetros de Fortaleza, com capacidade instalada de 600 megawatts (MW) nos 12 parques do empreendimento.
A empresa responsável será a Fótons de São Policarpo Energias Renováveis. Trata-se de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), identidade jurídica do Complexo Fotovoltaico Pecém, de propriedade da Casa dos Ventos.
O projeto recebeu aprovação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (Rima) no último dia 2 de maio do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema), órgão subordinado à Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace).
Segundo informações disponibilizadas pelo Coema, a área ocupada pelo Complexo Fotovoltaico Pecém será de 1.268 hectares, distribuídos em 12 parques com potência total instalada de 600 MW e potência de pico de 792 MW.
Projeto em desenvolvimento
Questionada sobre o assunto, a Casa dos Ventos confirmou os estudos para a instalação do complexo. A empresa afirmou que a expectativa é de que 700 empregos diretos e outros 1.200 indiretos serão gerados com o equipamento.
Atualmente, como informou a companhia, "o projeto está em fase de desenvolvimento e estudos de viabilidade". Por esse motivo, o cronograma das obras e de quando os parques fotovoltaicos começarão a operar ainda será divulgado. Valores referentes ao empreendimento não foram revelados.
Para o diretor de Regulação do Sindienergia-CE e sócio de BVS Energias do Sindienergia, Bernardo Santana, a entrada da Casa dos Ventos no setor de energia solar é um momento "oportuno", principalmente após a tecnologia utilizada nas placas fotovoltaicas já terem atingindo "um momento de maturidade".
"A tecnologia solar já chegou em um momento de maturidade, os preços caíram muito, então está mais viável investir nisso. A Casa dos Ventos está entrando em um momento extremamente oportuno, já tem várias terras arrendadas e com estudos e mapeamento de quais são as melhores irradiações solares. Para eles, vai ser, em tese, simples fazer esse investimento", defende.
Entrada no setor fotovoltaico
Com 3,1 gigawatts (GW) de projetos em operação e construção, a Casa dos Ventos, fundada em 2006, consolidou-se no mercado de energia eólica. Nos últimos meses, a empresa anunciou que iria entrar no segmento fotovoltaico.
Até 2026, os planos da empresa incluem investimentos na casa dos R$ 4 bilhões somente em energia fotovoltaica em todo o Brasil. Isso inclui os estados de Mato Grosso do Sul e Goiás, que já tem projetos de parques solares em desenvolvimento pela Casa dos Ventos.
Além desses dois estados e do projeto em Pentecoste, a empresa conta com o Complexo Solar Getulina, na divisa entre Ubajara (CE) e Dom Inocêncio (PI) em desenvolvimento. Segundo informações no site da Casa dos Ventos, a capacidade instalada do empreendimento será de 400 MW.
Já entre os equipamentos híbridos, com instalações tanto de energia solar quanto eólica, os planos da Casa dos Ventos estão espalhados entre Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. O status de todos os projetos é "em desenvolvimento".
Bernardo Santana argumenta que a aposta da empresa cearense em mesclar as duas tecnologias para as energias renováveis é acertada até pela própria expertise da companhia, além de aproveitar as 24 horas do dia para gerar ininterruptamente eletricidade.
"Faz todo sentido investir, porque em um parque híbrido, pelo menos metade eles já têm, que seriam os parques com tecnologia eólica, então bastaria fazer investimento em solar. Faz todo sentido explorarem áreas em que eles já possuem terras arrendadas, equipe de manutenção, tem uma sinergia muito boa", avalia.
Pelo ponto de vista da geração, a tecnologia solar evidentemente vai gerar sempre de 5 da manhã, um pouco mais tarde, até 5, 6 da noite, quando de fato cai 100% a geração. A eólica no Ceará tem um potencial muito bom no período da noite, tem uma combinação perfeita entre as duas fontes.
Data Center no Pecém
Na quinta-feira (8), durante a entrega da Medalha do Mérito Industrial, o sócio-fundador da Casa dos Ventos, Mário Araripe, revelou, em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, que a empresa deve investir R$ 55 bilhões na construção de um data center na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).
"O data center vai ser no Pecém porque tem uma ZPE. Minha ideia é viabilizar a vinda da Microsoft, ou do Google, ou da Amazon. A gente faz o armazém grande, que vai ser de 12 campos de futebol. Aí elas vêm e enchem de computador. O investimento maior é do Google, ou da Amazon, ou do Facebook, ou da Apple. Mas o que a gente faz é a base. Quero fazer isso porque quero gerar demanda por energia. O Ceará tem muita capacidade de gerar energia, somos o maior desenvolvedor do mundo. A gente tem 35 GW de capacidade de geração", disse Mário Araripe.
A implantação do novo equipamento da empresa segue a esteira do hidrogênio verde (H₂V), que ainda não pode ser produzido comercialmente no Brasil em virtude da falta de regulamentação, em processo que ainda tramita no Congresso Nacional.
Por se tratar de uma energia limpa, a produção do composto será feita utilizando eletricidade a partir de fontes renováveis, como os ventos e o Sol. Mário Araripe aponta que "o Nordeste tem os melhores ventos do mundo, isso é dado comprovado", e espera que a regulamentação seja acelerada para consolidar o Ceará como o maior hub de H₂V do mundo: "Vai ser aqui, se não atrapalharem muito", projeta.
De acordo com Bernardo Santana, o Complexo Fotovoltaico Pecém, em Pentecoste, pelo tamanho da potência instalada, pode ser utilizado para fornecer energia justamente para a geração de H₂V, mas as incertezas no projeto podem acabar colocando a energia produzida no novo empreendimento para a geração centralizada.
"É algo muito incerto ainda, sei que eles têm memorando de entendimento, estão fazendo os estudos, já anunciaram os investimentos, mas é muito do segredo comercial e industrial deles com o parceiro que deve estar se juntando. A gente também já acompanhou algumas joint ventures deles se movimentando no mercado, porque realmente nenhuma empresa faz tudo sozinha nesse mundo do hidrogênio verde", considera.