O próximo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), não deverá ter uma relação fácil com o possível novo ministro da Fazenda, o economista Paulo Guedes. A análise foi feita pelo jornalista e consultor Thomas Traumann, autor do livro “O Pior Emprego do Mundo - 14 ministros da Fazenda revelam como tomaram as decisões que mudaram o Brasil e mexeram no seu bolso”.
Segundo o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social, apesar de aparentar uma relação estável durante o período de campanha quase inteiro, Bolsonaro teria dado indicações de que Paulo Guedes talvez acabe não sendo indicado como um "superministro" da economia, como anunciado anteriormente.
"A gente vai ter que ver é como vai ser a formação do governo. Até o começo da campanha, o discurso do Bolsonaro era indicar o Paulo Guedes como um 'superministro' da economia, juntando três Pastas em um ministério só, mas nos últimos 3 ou 4 dias surgiram outros sinais. Sobre a nomeação para o Banco Central, por exemplo, ele disse que teria que falar com Paulo Guedes, mas que a palavra final seria do Onyix (Lorenzoni)", explicou Thomas.
Segundo Traumann, a relação entre o ministro da Fazenda e o Presidente do Brasil sempre depende dos limites de poder dados pelo chefe do Executivo, e que o sucesso depende desse alcance. "Como ainda estamos no comecinho, não temos como ver qual será a diminuição do poder de Guedes, mas claramente Bolsonaro está reduzindo essa força do possível novo ministro da Fazenda", ponderou.
O consultor ainda mencionou que boa parte da solidez de Bolsonaro frente ao mercado se consolidou apenas após a entrada de Paulo Guedes na equipe econômica, representando os interesses liberais de uma parcela do empresariado brasileiro. No entanto, a incerteza gerada por posturas antigas de Bolsonaro durante a carreira política, com decisões mais intervencionistas, poderiam gerar atrito na relação entre o Planalto e a Fazenda.
"Bolsonaro nunca seria eleito sem Paulo Guedes. Eles foi um deputado folclórico e de nicho, com um discurso muito intervencionista. Guedes sempre foi um economista renomado, vindo da escola de Chicago, então é convulsão de dois interesses. Mas quando você chega no poder, um dos dois sujeitos é que tem de fato o controle e o outro não, mas ainda é preciso aguardar", comentou Traumann. "Pode ser que o Bolsonaro coloque outra pessoa no governo para fazer sombra ao Paulo Guedes para não dar tanto poder ao economista, mas a outra possibilidade é ele dar realmente dar muitos poderes ao Guedes", completou