A utilização de tecnologias está ajudando a cultura do algodão a renascer no Ceará. Para este ano, o Governo do Estado espera recordes em produtividade, crescendo o tamanho da lavoura de 2.919 hectares para 3.234 hectares.
O número pode até parecer pequeno quando comparado ao da década de 1980, quando 1,2 milhão de hectares eram plantados no Ceará, mas representa o retorno de uma cultura com potencial de trazer empregos e fortalecer a economia do estado.
A volta do algodão após anos de hiato devido à praga do bicudo é protagonizada pelo uso de novas tecnologias, que viabilizam o plantio e aumentam a produtividade.
Só na fazenda Nova Agro, em Tabuleiro do Norte, a expectativa é que a produtividade deste ano gire em torno das 300 arrobas por hectare, um valor acima da média nacional de 156 arrobas por hectare, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Por que a produção parou?
Um inseto inviabilizou por anos a produção de algodão em grande parte do Brasil, incluindo o Nordeste e o Ceará. Até 1976 o estado era um importante produtor do insumo, mas a seca de 1978 e a chegada do bicudo no país levaram a produção quase a zero.
“A tecnologia aplicada era muito diferente do que temos hoje. Com a introdução do bicudo e com a disseminação, os custos se elevaram e as indústrias que aqui existiram foram fechando porque se tornou inviável plantar algodão aqui, era mais em conta importar algodão para atender a indústria têxtil que plantar. Aconteceu o que a gente chama de derrocada”, contextualiza o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Algodão, Fábio Aquino.
Ele conta que o estado do Ceará o único do Nordeste a ainda manter alguma produção de algodão mesmo que em muito menor escala. Mas, nesse período, era mais vantajoso para a indústria têxtil cearense importar o produto que arcar com os custos de produção local, já que o bicudo consegue destruir até 70% de uma lavoura.
Pesquisa e tecnologia
O algodão começou a voltar para o Ceará em 2019, com o Programa de Modernização do Algodão do Governo do Ceará, executado pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), em parceria com Embrapa, Centec, Ematerce e instituições ligadas ao setor.
A implementação de novas tecnologias no campo permitiu um plantio mais rápido e uma maior produtividade à medida que começaram a ser plantadas variações da planta que respondem bem à maior exposição de sol no estado.
O secretário executivo de agronegócio da Sedet, Sílvio Carlos Ribeiro, é otimista quanto aos resultados que estão sendo obtidos por meio de mudanças como plantio mecanizado, novas variedades de algodão, tecnologias de colheita, adubação e densidade de plantio.
A gente vê um grande potencial. Agricultura no estado é basicamente milho e feijão. O algodão deixa um maior retorno que o milho e o feijão, maior resistência à escassez hídrica. Se a gente troca boa parte do feijão pelo algodão e expande novas áreas para o algodão, a gente tem um incremento no valor bruto da produção agropecuária do estado
Fábio destaca que o Ceará ainda tem produtividade abaixo de estados localizados na região do Cerrado, onde a incidência maior de chuvas permite uma safra mais longa. Mas enfatiza que o incremento da cultura no estado tem potencial de geração de empregos. “A gente tem expectativa que para cada hectare de algodão plantado se gera um emprego direto”, relaciona.
Qualidade do produto
Por mais que o Ceará perca em níveis de produtividade comparado a regiões com mais chuva, Fábio enfatiza que o estado tem um trunfo que é a qualidade do algodão produzido.
“Precisa melhorar muita coisa ainda para chegar no padrão de produção do Cerrado brasileiro, mas conseguimos algodão com qualidade superior. Dificilmente teremos a produtividade do cerrado, lá chove 8 meses, aqui tem bem menos tempo e menos água. Mas a radiação solar que nós temos favorece a qualidade de fibra”, diz.
Sílvio acrescenta que o plantio do produto no Ceará faz a economia girar internamente, já que as empresas de tecido podem utilizar insumos locais de qualidade ao invés de trazê-los do Centro-Oeste.
“O setor da cotoagricultura depende muito primeiro de uma indústria forte, e isso nós temos. Temos também boas áreas para se produzir. Nós tivemos boas produções no algodão de sequeiro, que aproveitou somente a chuva. Com o algodão irrigado, a tendência é melhorar”, pontua.
O secretário considera que irrigar as plantações é um dos maiores desafios para fazer com que a produção possa crescer em escalas ainda maiores. Para Fábio, além dessa questão, é necessária uma formação de pessoas qualificadas para cuidar das lavouras.
.“Se a gente não investir em capacitação técnica de técnicos que vão a campo, é muito difícil evoluir. No Cerrado as terras são muito maiores, mas toda a equipe é muito qualificada para tomar conta das plantações. Aqui a gente precisa ter essa cultura também”, compara