Tendo morado a vida inteira em uma casa de dois andares, a professora Letícia Mota, de 28 anos, confessa que ainda se assusta ao chegar em casa e perceber a pequenez do espaço que chama de lar. A jovem mora com o noivo em um apartamento com área total de 33 m², sem distinção de paredes entre quarto, sala e cozinha.
Apartamentos como o de Letícia estão se tornando mais comuns em grandes capitais e Fortaleza não escapa da tendência. Incorporadoras têm investido na construção de empreendimentos com foco em estúdios e apartamentos de quarto único e as metragens chegam a até 21,4 m².
De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (Sinduscon-CE), Patriolino Dias, a tendência acompanha um novo estilo de vida das famílias, com priorização para a localização do imóvel ao tamanho dele.
Ele afirma que empreendimentos do tipo têm se tornado sucesso de vendas e a procura cresceu por parte de diferentes perfis, desde quem quer comprar para morar ou para investir.
Hoje as famílias são diferentes, tem diversas pessoas que saem da casa dos pais e vão morar só. Tem esse tipo de tipologia para poder morar. Tem pessoas que investem nisso e locam, adquirem para poder locar”.
A vida em 33 m²
Letícia conta que já estava em busca de um apartamento para sair da casa dos pais há dois anos, mas os altos custos de aluguel atrasavam os planos. A oportunidade de se mudar com o noivo apareceu quando uma amiga vagou o estúdio em que ela mora hoje.
“Esse apartamento era de uma amiga minha, os pais dela compraram dois apartamentos menores para os filhos, mas ela decidiu ir para Argentina. O apartamento ia ficar fechado, então surgiu a ideia ‘por que não ficar com o apartamento dela?’”, relata.
Por ser um aluguel acertado diretamente com o proprietário, o casal conseguiu um preço bastante inferior ao praticado na localização. Hoje, ela paga R$ 1.000 de aluguel mais R$ 500 de condomínio, mas ela conta que já viu anúncios no mesmo condomínio em que mora que a soma dos custos chega em R$ 3.000.
O apartamento tem área útil de 25 m² sem contar com a varanda, sendo o banheiro o único cômodo separado. Não há sofá, visto que o quarto também é sala de estar.
Apesar da vantagem financeira e de localização, ela admite que morar em um espaço tão pequeno não estava nos planos e é um desafio. Antes de se mudar, ela teve de se desfazer de grande parte de seu guarda-roupa e até hoje, três meses após a mudança, ainda há objetos em malas por falta de espaço.
Eu aceitei de cara porque eu já queria sair de casa há muito tempo. Mas não é fácil, e eu ainda tenho os meus problemas com morar aqui. Toda vez que eu entro em casa eu levo um susto. Eu ainda tenho muita coisa que não veio para cá ainda, tem móveis que tenho na casa da minha mãe que não vieram para cá porque não cabe. A adaptação é quase diária”.
A convivência é facilitada devido ao condomínio dispor de espaços de uso comum, como academia, piscina, sauna, lavanderia e coworking. Para ela, o apartamento seria ideal para apenas uma pessoa morar, mas o espaço já fica pequeno para um casal.
Tendência em Fortaleza
Patriolino Dias destaca que os apartamentos compactos se popularizaram no País, principalmente em São Paulo, nos últimos 5 ou 6 anos. Em Fortaleza, a tendência demorou um pouco mais para chegar por limitações de legislação.
“Aqui a gente não conseguia fazer por limitações de legislação, de 3 anos para cá conseguimos fazer. Antes tinha um instrumento de fração do lote, não viabilizava fazer prédios com pequenos apartamentos”, diz.
Em Fortaleza, o menor lançamento encontrado pela reportagem foi o Conect, da Diagonal. O empreendimento, que está com 1,32% das obras concluídas, tem apartamentos entre 21,4 m² e 42,8m².
Outra incorporadora que disponibiliza apartamentos compactos é a WR Engenharia, que lançou o prédio Urbano 1060 em 2020. O empreendimento tem apartamentos com metragens de 33m², 53m² e 57 m².
“Esses empreendimentos oferecem, além da área de lazer, áreas compartilhadas, que oferecem ainda mais comodidade para os moradores. Tanto é um imóvel que existe uma procura para morar como para investidores, pelo valor de compra e pela rentabilidade que oferece pela locação”, aponta a gerente de vendas da WR, Cinthia Angelim.
Segundo ela, o negócio foi um sucesso de vendas e existem poucas unidades ainda disponíveis. A incorporadora estuda lançar novos empreendimentos do tipo.
Maior rentabilidade
O diretor comercial da J Simões Engenharia, Daniel Simões, afirma que a empresa foca em empreendimentos menores desde 2019. Segundo ele, os apartamentos menores têm uma melhor rentabilidade.
De 2019 para cá a gente lançou 6 empreendimentos de 1 e 2 quartos. São apartamentos compactos em regiões fantásticas, são empreendimentos pequenos. Foram aproximadamente 800 unidades. Vendeu muito bem e a gente percebeu que existe uma demanda de locação absurda para esse tipo de apartamento, 60% de quem compra não mora. As pessoas compram para alugar, quanto menor o apartamento mais rentável ele é em termos de locação”
Ele calcula que um apartamento normal na Aldeota, bairro nobre de Fortaleza, custa entre R$ 25 e R$ 30/m². Um compacto tem custo na faixa de R$ 60/m². Já foram lançados 6 J Smarts, prédios com apartamentos entre 37m² e 64m² e com foco em espaços comuns e localização.
“Dos 6 empreendimentos que a gente lançou, 4 estão 90% vendidos e dois estão em construção, na faixa de 60, 70%. Vende bem mais rápido que um apartamento tradicional. E o prazo de obra é mais curto, a gente consegue entregar em 3 anos enquanto um apartamento maior demora entre 4 e 5 anos”, diz.
Simões adianta que ainda este ano a empresa lançará um novo prédio com apartamentos de 25m².