A Americanas divulgou, em carta aos acionistas nesta quinta-feira (16), um prejuízo de R$ 6,2 bilhões em 2021 e de R$ 12,9 bilhões em 2022 após balanço contábil no próprio caixa, totalizando R$ 19,1 bilhões. A atualização dos números veio após ajustes que expuseram fraco desempenho operacional, elevada despesa financeira e relevantes lançamentos extraordinários.
O perfil de endividamento, segundo informações da varejista, apresentou "deterioração considerável" ao fim de 2022, alcançando a marca de R$ 26,3 bilhões. A alta, assim, foi de mais de R$ 12 bilhões, se comparada com os números de 2021.
No documento em que os números foram informados, a empresa pontuou que a fraude sofrida pela Americanas, comunicada formalmente em janeiro deste ano, "gerou relevantes impactos nas contas do Balanço Patrimonial". Todas as dívidas que antes eram de longo prazo, então, foram reclassificadas para curto prazo.
"A divulgação das demonstrações financeiras do exercício social de 2022 representa o passo final do processo de refazimento dos números da companhia, após os eventos ocorridos ao longo do ano de 2023", reforçou a Americanas na carta.
No mesmo balanço, a empresa também destacou impairment (baixa contábil) na aquisição de ativos de R$ 2,4 bilhões Hortifruti Natural da terra, Uni.co e Ame. Os números reajustados apontam que a companhia registrou patrimônio líquido negativo de R$ 26,7 bilhões.
Crise e recuperação judicial
A crise foi notificada em janeiro de 2023, quando o presidente Sergio Rial anunciou inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões, levando a processo de recuperação judicial com dívidas de R$ 42,5 bilhões. Rial ficou apenas nove dias no cargo.
Conforme a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Americanas, na Câmara dos Deputados, bilhões de reais em contratos de financiamento bancário estavam fora do balanço ou contabilizados indevidamente. Eles foram realizados por meio do mecanismo de risco sacado (ou forfait, operação que consiste no financiamento de fornecedores pelos bancos).
A dúvida seria saber o tamanho do problema para definir se a fraude era apenas com fornecedores. Inicialmente, as suposições visavam definir se o rombo havia ocorrido por meio de marketing, com alteração de dados dos contratos para tornar os ativos da companhia maiores do que a realidade.
Para os credores, a divulgação dos resultados é importante para a votação do plano de recuperação judicial em assembleia-geral. A votação, inclusive, pode ocorrer em 19 de dezembro, último dia antes do recesso da Justiça.