Aeris vai investir R$ 50 milhões na produção de cilindros no Pecém para transportar hidrogênio verde

Equipamento deve ter capacidade de transporte 120% maior que cilindro de aço

A Aeris Energy, indústria de pás eólicas instalada no Complexo do Pecém, aposta em um novo produto que pode ser impulsionado pela cadeia do hidrogênio verde. A empresa deve comercializar cilindros em carbono para o transporte de gás natural e hidrogênio verde

O investimento no desenvolvimento do cilindro deve ser R$ 50 milhões, com toda a produção realizada na fábrica cearense, segundo Alexandre Negrão, CEO da Aeris. O executivo apresentou o novo produto durante o Fiec Summit Hidrogênio Verde 2024.

“Estamos terminando de desenvolver a tecnologia final para comprar os maquinários. A gente tem previsão de investir nesse produto, em 2024 e 2025, R$ 50 milhões. A expectativa é fornecer para o Brasil inteiro, começando por São Paulo, que tem um mercado enorme e acredito que o Ceará logo em seguida”, afirmou Negrão em entrevista ao Diário do Nordeste.

O CEO destacou que, a curto prazo, os cilindros devem impulsionar a expansão do transporte de gás natural, produzido em grande escala em aterros sanitários. No futuro, deve ser utilizado também para o transporte do hidrogênio verde

“Espero que, no futuro, na parte de hidrogênio verde, a Aeris não seja somente um fornecedor de pás para energia eólica, mas também fornecedor de cilindro. Já falando da parte de gás natural, o mapa de gasoduto no Brasil é muito bem preenchido no litoral, mas não 'sobe a serra'”, afirmou. 

Segundo a Aeris, o cilindro de carbono deve ter capacidade de transporte 120% maior que os equipamentos de aço. O produto deve ter também redução de 37% do peso carregado e de 53% do peso vazio. 

A previsão é que o cilindro de carbono comece a ser comercializado entre o fim de 2025 e o começo de 2026. A tecnologia será desenvolvida em parceria com uma empresa paulista de transporte. 

CRISE NA INDÚSTRIA DE ENERGIA EÓLICA

A Aeris, assim como outras empresas do setor de pás e turbinas eólicas do Brasil, enfrenta momento de redução na produção. A geração eólica nos parques já instalados segue normalmente, mas há baixa demanda para a construção de novos empreendimentos, segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica). 

Após encerramento do contrato com um cliente multinacional, a Aeris demitiu 1.500 funcionários da fábrica do Pecém. Segundo Alexandre Negrão, o setor enfrenta um momento difícil, devido ao fortalecimento da geração de energia hidrelétrica e altas taxas de juros. 

“Com o cenário de chuvas excessivas e alta taxa de juros, os donos dos parques vêm taxas de retorno muito baixas. Teve um excesso de geração livre nos últimos cinco anos, então tem excesso de energia no grid, junto a uma demanda relativamente baixa”, comenta. 

O executivo comenta que as empresas da indústria eólica precisam de auxílio do poder público, mediante taxas de juros atrativas para investidores e estímulo para novos projetos com leilões de reserva. Negrão projeta que a Aeris volte a crescer no fim de 2025, após um período de menor volume de vendas. 

“O Brasil criou uma indústria verde muito forte, que poucos países têm. Hoje um aerogerador é 80% nacional e há uma capacidade de 5 GB. É preciso retomar essa indústria para que, quando esses investimentos de hidrogênio verde venham, que a gente consiga suprir esse crescimento, que é super importante”, comenta.