66% com dívidas farão Natal menos lucrativo

O percentual de endividados na Capital cearense é o maior desde outubro do ano passado

Alguns setores do varejo, especialmente aqueles ligados a produtos de maior valor, deverão ter um Natal menos lucrativo este ano. Isso porque 66,5% dos consumidores fortalezenses estão com dívidas e não devem comprometer ainda mais seu orçamento com aquisição de itens de maior valor durante as compras de fim de ano. A taxa de endividamento neste mês de dezembro, de acordo com dados divulgados ontem pela Federação do Comércio do Ceará (Fecomércio-CE), é a maior desde outubro do ano passado.

O percentual de endividados, conforme aponta a Pesquisa sobre Endividamento do Consumidor de Fortaleza, supera em 8,1 pontos percentuais o de novembro. "Esse alto nível de endividamento vai trazer um grande prejuízo para alguns setores do varejo, como de venda de móveis, eletrodomésticos e produtos de decoração, que são itens que, normalmente, exigem financiamento da compra", explica o economista e diretor técnico da Fecomércio, Alex Araújo.

Conforme ele, os produtos semi-duráveis, como calçados, vestuário e brinquedos, por sua vez, deverão ter vendas satisfatórias nesse mesmo período. "O consumo, agora, deverá ser mais à vista. Acredito que o consumidor está mais atento a preços e condições de pagamento. Ele está ávido por consumir, mas está mais bem seletivo", esclarece.

O diretor técnico da instituição explica, ainda, que este ano está registrando um comportamento atípico do varejo, com um baixo nível de demanda para o consumo, sendo este mais concentrado nas datas comemorativas. Ele também prevê que essa alta na taxa de endividamento deverá continuar no próximo mês. "Haverá mais consumidores com dívida porque tem mais pessoas no mercado de trabalho e mais acesso aos serviços de crédito", justifica.

Em atraso

Dentro deste universo de endividados, a proporção de consumidores, em dezembro, com contas ou dívidas em atraso chegou a 19,2%, avançando 4,8 pontos percentuais sobre o mês passado. A pesquisa mostra que as mulheres são as mais afetadas com os problemas financeiros, com 20% delas com dívidas atrasadas. Também muito prejudicados com esta situação estão aqueles entre 25 e 34 anos (23,5%) e com renda familiar entre cinco e dez salários mínimos (20,3%).

Em média, o atraso dura 63 dias. A principal justificativa, apontada por 69,2% dos consumidores, é o desequilíbrio financeiro, que é a diferença entre a renda e os gastos correntes. O segundo motivo mais citado é o adiamento por conta do uso dos recursos em outras finalidades, com 23,5%, seguindo pela contestação da dívida (9,2%).

Há uma previsão, contudo, que essa taxa de consumidores com contas em atraso tenha uma queda ao longo deste mês de novembro e também no próximo. Assim como também se espera redução no número de inadimplentes. O percentual de inadimplentes chegou a 5,8% em dezembro, contra 5% do mês passado. As mulheres, pessoas com idade entre 25 e 34 anos e aqueles com renda familiar inferior a cinco salários mínimos são os mais atingidos nesse grupo.

Produtos

Entre os principais itens que as pessoas com dívidas utilizaram crédito para adquirir estão os eletroeletrônicos (39% das respostas), itens de alimentação (37,6%); artigos de vestuário (33,2%); além da realização de despesas de educação e saúde (16,6%). O cartão de crédito, aliás, segue como o principal instrumento de crédito, utilizado por 75,3% dos entrevistados. Em seguida, vem o financiamento bancário (18,3%) - utilizado principalmente para a compra de veículos e imóveis - os empréstimos pessoais (9,0%) e os carnês e crediários, com 7,2%.

A pesquisa mostra ainda que, entre os tipos de bens ou serviços adquiridos a prazo, assumindo dívidas, a alimentação assume posição de liderança. Para Araújo, esse fator ocorre porque adquiriu-se um hábito entre a população local de comprar alimentos no cartão de crédito, o que gera um peso grande no orçamento das famílias. O alto comprometimento com este item, pontua, reflete a realidade de renda baixa da população da cidade, no comparativo com outras capitais do País.

O comprometimento da renda tende a crescer em Fortaleza, acredita Araújo. Hoje, segundo aponta a pesquisa, 26,4% dos consumidores passam mais de um ano com a renda comprometida. O economista, contudo, considera o resultado positivo. "É saudável para o mercado. Isso ocorre por consequência do maior acesso ao crédito bancário e da compra de imóveis e veículos, por meio de financiamento. Isso significa que as famílias estão comprando produtos de maior valor agregado".

A pesquisa da Fecomércio-CE informa, ainda, que 81,1% dos consumidores de Fortaleza afirmam fazer orçamento mensal e acompanhamento eficaz dos seus gastos e rendimentos, fator que acaba contribuindo para um melhor controle dos níveis de endividamento.

Sérgio de Sousa
Repórter

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