CE registra 452 casos a menos de hanseníase, mas doença ainda causa mortes e rotina de preconceito

Para reduzir os números, a campanha Janeiro Roxo incentiva a busca por mais informações sobre a patologia e estimula o diagnóstico precoce

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
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Foto: Natinho Rodrigues

O ano de 2020 se encerrou com 1.074 novos diagnósticos de hanseníase no Ceará, o que corresponde a uma redução de 452 ocorrências em comparação a 2019, com 1.526 casos. Em óbitos, a queda também foi significativa: de 31, em 2019, para 9 no ano passado. Entre as ações que contribuíram para a queda está a campanha Janeiro Roxo, responsável por ampliar o conhecimento da população sobre a patologia e estimular o diagnóstico precoce. Ainda assim, o preconceito atinge portadores da doença e é um dos fatores que impedem que a hanseníase seja descoberta cedo.

Antônio Francisco de Souza começou o tratamento em 1987. Naquela época, ele já tinha acesso ao medicamento em uma unidade hospitalar em Maracanaú. Mesmo assim, os efeitos da hanseníase o afetaram. “Morava em Pacatuba e ia em Maracanaú todo mês pegar o medicamento. Fiquei fazendo o tratamento e foi o tempo de aparecer um ferimento, em 1988. Aí eu vim para cá, pro Memorial Leprosaria Canafístula do Centro de Convivência Antônio Diogo (CCAD). Eu tive um problema no pé e foi preciso operar, em 1988, e desde essa data, eu estou na cadeira de rodas”, detalha.

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Legenda: A hanseníase tem cura e o tratamento está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS)
Foto: Natinho Rodrigues

Quando algumas manchas começaram a surgir nas mãos, o idoso conta que passou por situações constrangedoras. Atualmente, para ele, a visão das pessoas em relação à hanseníase sofreu modificações positivas. “Hoje a hanseníase está muito diferente, você já faz o tratamento em casa, você vai pro posto e pega só o medicamento. Se você fizer esse tratamento direitinho, você não fica nem com sequela. A gente já pode viajar, as pessoas já veem a gente com outros olhos, a gente recebe visita, íamos para a praia”, reflete.

Para que isso aconteça, existe um importante trabalho de informação e conscientização. Rosa Maria, administradora financeira do CCAD, explica que a unidade realiza diversas atividades em combate ao preconceito. Em seus mais de 90 anos, o Centro de Convivência Antônio Diogo tornou-se referência no tratamento da hanseníase no Estado. A prioridade é a reintegração social dos ex-internos.

“Apesar de ter a cura, ainda existe muito preconceito. A gente tem trabalhado muito com essa parte, com o conhecimento, porque o preconceito vem mais pela falta de conhecimento. Nós temos grupos de autoajuda, grupos de convivência, o Memorial, que conta a história passada, e no final a gente conta a história de hoje, que tem cura. Tudo isso para levar à comunidade que o paciente é uma pessoa normal, um cidadão que pode estar inserido na sociedade, apesar das sequelas deixadas pela hanseníase”.

A doença e seus sintomas

A hanseníase é uma doença dermatoneurológica milenar e transmissível, caracterizada pelo aparecimento de manchas esbranquiçadas, acastanhadas ou avermelhadas na pele, com alteração de sensibilidade. O dano neurológico corresponde ao comprometimento dos nervos periféricos, responsáveis pela sensibilidade e motricidade, e por isso, se não tratada corretamente, pode deixar sequelas.

Os principais sintomas são a ocorrência de pápulas, nódulos, diminuição ou queda de pelos em algumas áreas do corpo, especialmente nas sobrancelhas, diminuição ou ausência de suor em áreas específicas, áreas dormentes, especialmente nas extremidades, como mãos, pernas, córneas, além de caroços, nódulos e entupimento nasal.  

A transmissão acontece por meio das vias aéreas e é mais comum entre pessoas que moram em uma mesma casa ou têm convívio frequente. Por isso, é importante que a hanseníase seja diagnosticada precocemente para que o tratamento seja efetivo e a contaminação seja estagnada.  

O tratamento é feito com uma dose do remédio que deve ser tomada na unidade de saúde e outra medicação com duração de 28 dias, que pode ser tomada em casa. A hanseníase tem cura e o tratamento está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS)

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