Terapia com música em incubadoras

Os bebês da UTI Neonatal do Hospital Maternidade Eugênia Pinheiro tiveram um dia diferente na unidade

Escrito por
Karine Zaranza - Repórter producaodiario@svm.com.br

Para quem vê o filho recém-nascido por entre os vidros da incubadora há um mês, comemorar cada movimento que o bebê faz é também celebrar vitórias. Maria Eridania Araújo, 32 anos, se tornou mãe antes do tempo. João se apressou em nascer e veio, miúdo, ao mundo com apenas seis meses. Desde então, o pequeno se acomoda na UTI Neonatal do Hospital Maternidade Eugênia Pinheiro, e a mãe tenta se acostumar à nova rotina de cultivar esperanças.

Ontem, eles foram surpreendidos por uma cantoria diferente. Era a cantora e multi-instrumentista brasiliense Fernanda Cabral, que trouxe à Fortaleza- através do Festival Internacional de Teatro Infantil (TIC) - o projeto "Música nas incubadoras". Os acordes suaves de sua voz e o sons das flauta doce, kalimba, sementes, pife, chocalhos, dentre outros instrumentos de percussão têm força terapêutica. "Cada bebê precisa de uma construção poética sonora para ele. Como eu sei que isso beneficia? Quando os bebês gostam eles se movimentam", conta Fernanda que está há três anos desenvolvendo o trabalho.

Ela adentra a UTI e acrescenta os sons e cantigas ao ambiente. Improvisa sempre. Vai ela sentindo também, a partir da relação com o outro, qual instrumento usar. Cria canções com o nome dos recém-nascidos, acalenta pais e mães que acompanham os rebentos e também conforta enfermeiras. Todos são impactados por esse abraço sonoro. "Eu vim para cantar. Eu vim para plantar". "Manuela, que chegou para ficar", "Balança o braço, João, para o amor ficar"... Ela anuncia, convoca e cura.

A coordenadora de enfermagem da UTI NeoNatal, Gabriela Vasconcelos, reforça o poder dessas ações. "São importantes, acalmam os bebês e fazem o ambiente mais humano. Aqui a gente faz a hora do soninho, quando a gente diminui a iluminação e coloca música ambiente", explica a enfermeira. Além dessa ação, eles focam em outras estratégias para humanizar ainda mais o atendimento, como o uso de redes para os bebês em incubadoras, ofurôs e o acolhimento das famílias.

Os miniconcertos duram entre 45 minutos e duas horas. Nesse tempo, a cantora também reforça a relação entre pais e filhos. "Não é só o bebê que precisa desse acalanto. As mães precisam. Eu trabalho com elas também. Muitas vezes, é possível restaurar essa relação", aposta. Eridan ouviu seu nome e de seu menino na cantiga. Assim como de outros 10 bebês prematuros internados. Disse que foi um afago para quem ainda vai enfrentar, pelo menos, mais um mês de internação. "Eu acho que é bom. Acalma ao ambiente. Fica mais tranquilo. Ele é bem calmo, mas acho que a cantoria acordou ele. Deus abençoe que ele consiga melhorar logo, pegar peso", confessa entre sorrisos a mãe que observa o pequeno de 850 gramas se mexer.

Em outra cadeira, esperando para amamentar David, de 35 dias, Sheila Souza, 34 anos, espera que o tempo dela e do rebento seja menor. O bebê, que nasceu com seis meses, já ganhou um pouco mais de peso. Aguarda recuperar 150 gramas para atingir a meta de 1,7 quilos e poder, enfim, conhecer o irmão e o restante da família. "Acho a música uma ideia boa. Sinto que ele fica mais ativo. E é bom pra gente que fica aqui o dia todo. Muda a rotina", comprova.

Laços

Fortaleza é a segunda capital do País a receber o projeto, técnica desenvolvida pela cantora brasileira Fernanda Cabral durante seu mestrado na Europa. Para a profissional, a música é capaz de estreitar laços, já que, durante a recuperação, o filho fica distante do contato com a mãe. "Nessa fase da criança, elas são extremamente ligadas aos sons. Elas ouvem muito melhor e se conectam bastante através deles. Com isso, a ideia do projeto é trazer uma sensação de bem-estar e estreitar os laços entre os pequenos e a mãe. É uma música que é feita para esse momento".