Apesar de o Ceará ter tido uma diminuição de contaminações pelo coronavírus em profissionais da saúde na segunda onda da pandemia, os técnicos e auxiliares de enfermagem lideram os índices de contaminações e de óbitos pela doença no Estado, com 6.340 infecções e 19 mortes até esta segunda-feira (21).
Os dados do IntegraSUS, portal de transparência da Secretaria da Saúde (Sesa), informam ainda que a categroia profissionais da saúde conta com um total de 23.820 casos confirmados de Covid-19 e 90 óbitos.
As áreas mais afetadas, além dos técnicos e auxiliares de enfermagem (26,34%), são os enfermeiros, com 3.623 infecções confirmadas (15,05%); os agentes comunitários de saúde, com 2.051 (8,52%); e os médicos, com 1.846 (7,64%).
Além disso, entre os profisisonais, o grupo mais atingido com as contaminações da Sars-Cov-2 foi o de mulheres entre a faixa etária de 30 a 34 anos, com 2.967 casos; seguidas pelas de 35 a 39 anos (2.879); de 25 a 29 anos (2.580); de 40 a 44 anos (2.466); e de 45 a 49 anos (1.871).
As profissões da saúde que contabilizaram o maior número de óbitos foram os técnicos e auxiliares de enfermagem, com 19 mortes; os médicos, com 17; os enfermeiros e afins, com 10; e os agentes de combate a endemias, com 7.
Neste cenário, Fortaleza ficou entre a cidade com mais casos confirmados da doença entre a categoria no Estado (8.575). Logo após estão Sobral (1.195); Caucaia (774); Juazeiro do Norte (731) e Crato (537).
De acordo com a epidemiologista, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e integrante da Comissão de Epidemiologia da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Lígia Kerr, um dos motivos que podem corroborar com a situação é que os técnicos e auxiliares de enfermagem têm uma exposição prolongada ao vírus no seu dia a dia.
“[Eles] ficam o tempo todo muito próximos a pacientes fazendo muitos procedimentos... tirando sangue, fazendo limpeza, dando banho, etc. Essas são questões muito diferenciais que com certeza estão influenciando para que haja uma maior infecção da Covid-19 nesses profissionais”, explica.
Além disso, a especialista ressalta que o nível socioeconômico dessa classe profissional, muitas vezes, é menos favorável do que os demais colegas, como os médicos, por exemplo. Com isso, eles têm que fazer mais uso dos ônibus para se locomover, o que contribui para a infecção.
No geral, o salário [deles] não é suficiente para ter um carro, então eles têm que fazer uso do transporte coletivo, e esses transportes não têm atendido, em muitas circunstâncias, uma quantidade de pessoas que não aglomerem, principalmente nos horários de pico”
Impacto da Vacinação
Kerr destaca ainda que o processo de vacinação entre os profissionais da saúde foi um fator crucial no controle geral de casos entre a área. “É a vacina que está controlando a doença entre os profissionais da saúde no mundo inteiro”.
“Os profissionais da saúde foram os primeiros a se vacinar, e a gente está vendo uma eficácia enorme neles e nos idosos. A vacinação é super segura, não tem nem o que pensar em relação a isso, é vacinar, vacinar e vacinar”, prossegue a especialista.
A professora da UFC conclui que o Estado, de modo geral, vai contar com um controle pandêmico em larga escala com a vacinação em massa da população. “Nós vamos observar uma queda importante no número de casos”.
[Com a imunização] ainda não significa que devemos tirar as máscaras, ainda é cedo, precisamos observar como as vacinas têm se comportado com as novas cepas”
Proximidade do vírus
Neste contexto, as medidas de prevenção da doença também continuam sendo seguidas pela auxiliar de enfermagem Samantha Marques, de 45 anos, que adquiriu a Covid-19 em novembro do ano passado em Fortaleza.
“Ainda continuo fazendo as medidas de proteção e rezo a Deus todo dia para que o máximo de pessoas possíveis sejam imunizadas contra uma doença dessa que tirou a vida de tanta gente. Perdemos muitos profissionais e outros muitos se afastaram por [vários] motivos”, relata Samantha.
Antes de receber a imunização com a CoronaVac, a profissional ficou com 40% dos pulmões comprometidos em decorrência da Sars-Cov-2 e foi internada no Hospital São José (HSJ), onde também trabalha.
Agradeço demais pela minha equipe, tanto de técnicos de enfermagem quanto de enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, maqueiros. Posso me considerar uma sobrevivente, posso dizer que Deus me deu uma segunda chance”