Recuperados da Covid-19 relatam solidão e saudade da família durante internação hospitalar

Psicóloga recomenda o contato remoto com familiares para amenizar distância e contribuir na melhora do quadro clínico

Longe do conforto de casa, pacientes com a Covid-19 enfrentam dias marcados por saudade e solidão em meio às alas hospitalares de atendimento para o novo coronavírus. Nesse cenário, a distância pesa tanto para quem fica em casa no aguardo pela recuperação, quanto para quem precisa ser internado. Em março, o taxista José Wilton Pereira Rocha, 52 anos, viveu na pele os dois lados desse cenário. 

No começo deste mês ele precisou ficar em casa esperando notícias do pai, José Pereira Rocha, 82 anos, que ficou internado após apresentar agravamento nos sintomas da Covid-19. Vivendo só os dois em casa, percebeu a falta da presença paterna no cotidiano. 

“Foi muito complicado estar em casa só, sem meu velho, acostumado a todo dia estar junto mais ele, toda noite, toda manhã. Foi horrível, muito horrível, não gosto nem de lembrar”, comenta. 

Três dias depois do retorno do pai para casa, foi a vez de José Wilton ficar internado. Durante quase duas semanas, entre os dias 7 até 18 deste mês, viveu dias de solidão e saudade da família, apesar de todo o consolo recebido por enfermeiras e médicos.

Agora, Wilton e o pai fazem parte do grupo de 372.423 pacientes que já se recuperaram da doença no Ceará. Destes, 77.907 são moradores de Fortaleza, de acordo com a plataforma Integrasu, da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), atualizada neste domingo (28) às 08h54. 

Saudade de casa

Assim como Wilton, a fisioterapeuta Flávia Lavínia, 37 anos, também viveu a solidão em meio à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São José (HSJ), onde ficou internada entre 6 de agosto até 5 de setembro do ano passado. Apesar de viver em Fortaleza com a irmã, Carla Natali, 42 anos, há mais de duas décadas, sua família é do município de Juazeiro do Norte, localizado há cerca de 507 km de Fortaleza. 

“O que é mais complicado dessa doença é a solidão. Quando eu fui para a UTI, desabei no choro. Falava com minha família só pelo Whatsapp, mas eles não podiam vir para Fortaleza, não dava para vir ficar comigo”, relata. 

Durante o período em que precisou ficar afastada dos familiares, contando somente com o apoio presencial da irmã, que na época a visitava na UTI após ter tido Covid-19, o maior medo foi ficar na sonda para sempre. “Eu me agarrei na força que a minha família estava me dando, foi isso que me salvou”, aponta. 

Além da saudade dos parentes do interior e do conforto de casa, Flávia também sentia a ausência dos seis gatos, companheiros que estiverm ao seu lado durante toda a pandemia. “Eu sentia falta de estar deitada com eles, assistindo filme, falta da rotina da casa, de ficar no aconchego. Eu senti a falta deles”, reforça.

Apoio de mãe e filha

Foi pelo medo de deixar a filha sozinha que a técnica em farmácia, Maria Geosma Barbosa, 35 anos, relutou em buscar uma rede de saúde após apresentar os sintomas da Covid-19. No entanto, após a persistência dos sintomas e a dificuldade em respirar, não houve outra alternativa. “Sou só eu e minha filha de 13 anos, estava com medo dela ficar sozinha”, diz.

Após familiares garantirem dar assistência para a jovem, Maria buscou o hospital com a expectativa de retornar na mesma noite. No entanto, ao chegar na emergência, apresentou complicações e precisou ficar internada por cerca de cinco dias em unidade de saúde da rede particular de Fortaleza, entre os dias 8 e 12 deste mês. 

“Minha preocupação era morrer e deixar a minha filha. A gente nunca tinha ficado longe. Ela ficava com medo de me perder. Tinha esse medo porque via as mortes todo dia nos jornais. Foi um alívio poder voltar para casa”, compartilha. 

Da mesma forma que Flávia, Maria Geosma destaca que o apoio da família foi essencial para sua recuperação. "Todo dia, quando tinha forças para falar, fazia contato com sua filha, o que me motivava a seguir lutando", afirma.

Medidas para amenizar distâncias

Se a hospitalização já costuma ser um momento difícil para paciente e familiares sem o fator da distância, a psicóloga Diva Rodrigues Daltro Barreto percebe que esse período se torna ainda mais delicado em meio ao cenário da Covid-19, em que visitantes não são permitidos nas alas dos hospitais. 

“Se torna ainda mais difícil para os pacientes porque estão sozinhos, sem acompanhantes. Fica o medo de tudo isso que a doença está gerando. Medo da consequência da Covid, de piorar, de precisar ir para a UTI”, aponta. 

Por isso, alguns sentimentos podem acabar sendo mais comuns nesse cenário, como angustia, tristeza e medo. Como forma de amenizar o momento, Diva recomenda:

  • Prática do pensamento positivo, enfrentando um dia de cada vez
  • Reforço da realização do contato entre o paciente e a família por meio do tablet ou celular

“Essa é uma medida que ajuda muito as pessoas a ficarem menos angustiadas. Conseguir ver os familiares, falar com eles. Com certeza é uma medida que pode ajudar e contribuir muito”, finaliza.