O aumento da transmissão da Covid-19 no Ceará nos dois primeiros meses deste ano tem repercutido na rede de assistência a recém-nascidos. De 1º de janeiro até 1º de fevereiro, era pouca a demanda por leitos de enfermaria específicos para tratar a infecção nessa faixa etária e praticamente inexistente a ocupação em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais. No entanto, nesta quarta-feira (3), a taxa de ocupação em UTIs desse tipo chegou a 80,65% e, em enfermaria, a 77%. O número vem aumentando progressivamente nas últimas semanas, segundo o monitoramento do IntegraSUS.
O Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) já não tem mais leitos de UTI (infantis e neonatais) disponíveis e está quase alcançando a capacidade máxima de leitos de enfermaria — dos 67 ativos, 58 estão ocupados. Além disso, com 98% dos leitos de enfermaria ocupados e dez vagas de UTI recém-inauguradas e já demandadas, o Hospital Infantil Filantrópico (Sopai) também está sobrecarregado e opera no limite.
De acordo com a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), os leitos de UTI neonatal para bebês com Covid-19 “variam conforme a demanda, numa dinâmica de alterações diárias”. A pasta também alega que, por serem poucos os casos confirmados nessa faixa etária, “qualquer ativação ou desativação de leito reflete numa alteração maior na taxa de ocupação informada na plataforma IntegraSUS”. Além disso, assegura que o Estado tem leitos suficientes para atender à demanda de UTI neonatal nesta segunda onda da pandemia.
O infectologista pediátrico Robério Leite, que também é professor-adjunto de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador do departamento científico de Infectologia da Sociedade Cearense de Pediatria, entende que a superlotação de UTIs neonatais é um problema que antecede a Covid-19. No entanto, ele admite que a maior dificuldade dos hospitais, hoje, é prover áreas específicas e isoladas para bebês com suspeita ou confirmação da infecção.
Relação com a nova cepa
Segundo Robério, “não foi estabelecida ainda relação entre as novas variantes virais e a maior gravidade” da doença. Em nenhum paciente infectado pela Covid-19, incluindo os bebês. O médico alega que o aumento das internações devido à infecção em todas as faixas etárias é consequência do aumento da transmissão do vírus.
“No cenário atual de aumento exponencial da transmissão, as pessoas relaxando os cuidados e as crianças sendo mais expostas, mesmo que o risco percentual de casos graves em crianças seja maior, o número absoluto aumenta, pois um número muito maior de crianças está sendo infectado. Na grande maioria das vezes, por um adulto que vive com ela”, analisa o pediatra.
O que agrava quadro clínico de bebês?
Bebês, normalmente, desenvolvem casos leves da Covid-19. No entanto, de acordo com o infectologista, alguns podem evoluir para pneumonia e outros casos graves de sepse.
Além disso, “prematuros extremos” e bebês com malformações tendem a apresentar risco maior de complicações provocadas pela Covid-19 quando considerado o período neonatal. O médico também cita que, dentre os recém-nascidos mais vulneráveis ao agravamento da infecção, estão os que têm deficiência de imunidade, doenças respiratórias crônicas descompensadas, problemas neurológicos que comprometem a respiração ou que estejam em tratamento de câncer.