O aumento de casos de síndromes gripais relacionadas à influenza ou a formas leves da Covid-19 tem preocupado pais de crianças e jovens matriculados em escolas particulares do Ceará. A uma semana do retorno presencial das atividades, parte dos responsáveis ainda não decidiu se vai mandar os filhos ou filhas às unidades de ensino.
De acordo com o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe-CE), o calendário escolar prevê a retomada das aulas a partir de 18 de janeiro.
A entidade reforça que prevalecem os requisitos do Protocolo Setorial 18, relativo às atividades educacionais, bem como normas publicadas nos decretos sobre a Covid-19.
O último decreto do Governo do Estado, do dia 5 de janeiro, manteve a liberação de atividades presenciais de ensino já anteriormente autorizadas, “sem limite de capacidade de alunos por sala”.
Porém, a norma assegura a permanência no regime híbrido ou virtual aos alunos impedidos de retornar presencialmente, “por razões médicas comprovadas mediante a apresentação de atestado ou relatório”.
Kassiana Santos, professora de reforço e mãe de duas meninas de 4 e 7 anos, ainda não decidiu se vai permitir que as filhas retornem à escola, já que a imunização do público abaixo de 12 anos ainda não começou.
“E mesmo vacinadas, ainda terei receio em mandá-las, pois apesar de não haver reações mais fortes sobre a cepa, o medo prevalece. Perdi minha mãe ano passado, e tenho muito receio em ‘atirar no escuro’ quando se trata de algo que não conhecemos”, percebe.
Ela e a família tiveram contato recente com uma pessoa infectada com Covid-19 e, mesmo não tendo se contaminado, ficou reforçado o risco de colocar as garotas num local “onde muitas crianças de todos os jeitos e formas comparecem”.
Esse é o mesmo motivo exposto pela empreendedora Tamires Warick, mãe de duas crianças de 2 e 6 anos, para a apreensão em permitir o retorno dos filhos à escola.
“Vai começar novamente o período de aulas e não sei como as outras famílias vão se comportar, não sei se foram expostas ao vírus, não sabemos qual é a rotina dos outros alunos. Meu marido, por exemplo, trabalha fora e quando chega, se higieniza para tocar nos filhos. Não sei se todos fazem isso”, explica.
“Devia ter uma pesquisa para saber quem quer que os filhos voltem agora. Acho que devia adiar mais um pouco para ver se essa onda de gripe e Covid diminui”, opina outra mãe, que preferiu não se identificar.
“As crianças ainda não se vacinaram, e está voltando todo mundo de uma vez. Tem que ter um plano de pelo menos redução de alunos em sala”, acredita.
Cenário diferente de outros anos
O médico pediatra Valderi Júnior ressalta que, tradicionalmente, o início do ano é marcado por maior transmissão de resfriados, gripes mais fortes, viroses intestinais e conjuntivite (em menor grau). Porém, em 2022, chamam a atenção a rápida positividade para a Covid-19, ainda que em menor gravidade, e quadros de influenza que “maltratam muito”, sobretudo com febre e dores musculares.
Quando se juntam várias crianças num mesmo ambiente, temos uma preocupação maior de contaminação. Nesse período de retorno, na hora de enviarem os filhos à escola, os pais devem ficar bem atentos para não mandá-los doentes e evitar essa propagação.
O especialista reconhece que, em algumas famílias, não há com quem deixar a criança em casa. Contudo, reitera que elas só devem retornar às salas de aula “se tiverem condições”.
A infectopediatra Michelle Pinheiro reforça que o aumento de síndromes gripais costuma ocorrer entre março e abril, mas chegou mais adiantado desde o fim de 2021, inclusive para as crianças.
Contudo, como a campanha vacinal contra a influenza ainda não foi divulgada pelo Ministério da Saúde, ela defende a imunização contra a Covid-19, já autorizada para crianças entre 5 e 11 anos.
“A vacinação das crianças, no ponto de vista da infectologia, é importante porque a gente consegue diminuir a circulação viral. Isso acaba protegendo os adultos, porque elas não serão meios para contaminar um adulto ou um cuidador, e a gente tenta quebrar essa via”, explica.
Para Valderi Júnior, a prevenção entre os pequenos permanece a mesma do início da pandemia: distanciamento, lavagem das mãos e uso correto das máscaras. Porém, ele ressalta que as famílias devem ser parceiras das escolas nessa educação em saúde, já que crianças tendem a aprender pelo exemplo.
O que dizem as escolas
O diretor do Colégio 7 de Setembro, Henrique Soárez, disse que “vamos seguir recebendo 100% dos alunos com o distanciamento previsto no decreto. Conforme o decreto atual, seguiremos oferecendo o ensino remoto para os alunos impedidos (por motivos médicos) de frequentar presencialmente”.
Na Organização Educacional Farias Brito, parte dos alunos já retornou nesta segunda (10), e outra está prevista para o dia 18. A rede declarou que “continuará seguindo todos os decretos governamentais e todas as recomendações feitas pelos dois médicos infectologistas que estão prestando consultoria para a Escola, neste momento de pandemia”.
Disse ainda que, baseado no decreto estadual, o Farias Brito “iniciará suas atividades em formato presencial, mas viabilizará o ensino virtual aos alunos que assim o necessitem por razões médicas comprovadas”.
No Colégio Guri Sênior, todos os alunos devem retornar até o dia 18 de janeiro, em modo presencial, “com a manutenção de todos os cuidados contra a disseminação da Covid-19”. A unidade conta que reforçou junto aos pais e responsáveis “a regra de não enviar o aluno para a escola quando ele estiver apresentando algum sinal ou sintoma gripal, ou se alguém em casa estiver apresentando essa condição”.
Além disso, a escola deve encaminhar diariamente às famílias um link com um formulário de monitoramento do estado de saúde do aluno, que questiona se a criança está apresentando algum tipo de sintoma. O mesmo controle será aplicado aos colaboradores e professores.
O início das aulas no Colégio Christus também ocorrerá na próxima semana, presencialmente, "desde que sejam respeitados" o distanciamento entre alunos, o uso obrigatório de máscara e as demais exigências estabelecidas no decreto estadual. O ensino remoto segue o disposto na norma.
"Entendemos que o comparecimento às aulas presenciais é importante para o processo de ensino-aprendizagem", afirma, mas orienta que, "se o(a) aluno(a) estiver apresentando qualquer tipo de sintoma gripal ou tenha tido contato direto com uma pessoa que testou positivo para Covid-19, mesmo sem nenhum sintoma apresentado, não seja levado(a) para o Colégio".
Lembre orientações do protocolo
Publicado em 2020, o protocolo setorial das Atividades Educacionais no Ceará estabelece as diretrizes para a retomada segura de aulas presenciais. As principais ações listadas são:
- Organizar um escalonamento dos horários de entrada, saída, intervalo, banho (sistema integral ou outros), lanche e almoço das turmas para evitar aglomerações;
- Obrigatória higienização de mãos com álcool em gel 70% e calçados em soluções sanitizantes (no caso de crianças menores de 5 anos, é recomendado priorizar a lavagem das mãos com água e sabonete devido aos riscos de intoxicação);
- Garantir que os ambientes estejam o mais arejado possível, especialmente os laboratórios e salas de aula;
- Orientar alunos e profissionais para que se alimentem somente em espaços indicados;
- Orientar os profissionais e alunos que devem evitar excessos ao falar, tocar o rosto, nariz, boca e olhos durante suas atividades;
- Orientar os professores para que planejem suas aulas de forma a não induzir o contato entre alunos, nem o compartilhamento de materiais de uso pessoal.