Máscaras de pano 'reforçadas' são eficazes para bloquear a saída do coronavírus, conclui Fiocruz

Pesquisa analisou máscaras de pano e cirúrgicas usadas por infectados com a Covid-19 e concluiu que, em todos os casos, na parte externa das máscaras, não havia presença do vírus

Máscaras de pano (algodão), desde que de duas ou três camadas, conseguem barrar o coronavírus tanto quanto máscaras cirúrgicas. Isso foi o que concluiu uma pesquisa divulgada na última terça-feira (6) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).  

Publicado no repositório científico MedRxiv, o estudo analisou 45 máscaras de tecido e cirúrgicas utilizadas por 28 pacientes infectados com a Covid-19 e observou que, em todos os casos, enquanto a parte interna das máscaras positivava para a presença do vírus, a parte externa negativava

Vinicius Mello, doutorando do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e primeiro autor do artigo, reconhece que há máscaras, como a PFF2 e a N95, com capacidade de filtragem maior que as de pano. No entanto, segundo ele, as últimas também são eficazes no bloqueio da passagem do vírus. 

A resposta é usar máscara, independentemente da que for. Isso é importante, principalmente com esse negacionismo científico de pessoas não querendo usar. Tem que usar. Umas protegem menos, outras protegem mais, mas usem”.
Vinicius Mello
Pesquisador da Fiocruz

A analista da Central Analítica Covid-19 do IOC e uma das autoras do estudo, Andreza Salvio, explica que a análise considerou somente a possibilidade de partículas virais serem transmitidas por infectados, estejam eles sintomáticos ou assintomáticos. Segundo ela, o bloqueio nos dois tipos de máscara, evitando que o vírus chegue ao ambiente externo, foi observado tanto em casos de pacientes com baixa carga viral quanto com alta. 

“Essas partículas não chegaram ao ambiente, as máscaras serviram como barreira. Por isso, a gente reforça o uso da máscara [mesmo após a vacinação], porque as pessoas podem estar assintomáticas ou não sintomáticas ainda e já estarem transmitindo”, destaca a pesquisadora. 

Metodologia 

A pesquisa partiu do fato de que a maior parte da população brasileira — muitas vezes, por razões socioeconômicas — recorre à máscara de tecido para se proteger da Covid-19.  

“Nosso questionamento era: será que as máscaras de pano, caseiras, que muitas vezes a gente vê vendendo na rua, no camelô, ou que a própria população faz em casa, são eficazes para bloquear a transmissão do vírus?”, compartilhou o coordenador da Plataforma de Nível de Biossegurança 3 do IOC e um dos coordenadores do estudo, Marco Horta. 

De acordo com a Fiocruz, para chegar à conclusão do estudo, os pesquisadores recortaram fragmentos das laterais das máscaras e de locais próximos ao nariz e à boca dos pacientes. Depois, mergulharam esses fragmentos numa solução para tentar detectar o vírus de forma semelhante ao procedimento de diagnóstico da Covid-19. Por fim, a carga viral nas máscaras foi comparada à detectada na nasofaringe dos pacientes, por meio de testes Swab. 

Essas máscaras não são EPIs [Equipamentos de Proteção Individuais], são instrumentos de barreira. [...] Para impedir que o vírus saia do indivíduo infectado para o outro”, resume a chefe do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC e uma das coordenadoras da pesquisa, Elba Lemos.