Os oito quilômetros de percurso do Corredor Expresso Fortaleza, situado na Avenida Bezerra de Menezes, traçam um caminho feito para viabilizar maior agilidade e segurança exclusivamente para o BRT (Bus Rapid Transit, o Transporte Rápido por Ônibus, em inglês) - ou, pelo menos, deveria ser. Não é raro que carros e motocicletas transitem pela faixa, sendo flagrados tanto por outros motoristas, passageiros e pedestres quanto por fotossensores.
De 2015, quando o corredor foi inaugurado, até 2018, a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) efetuou 69.900 autuações por circulação indevida no corredor expresso, gerando uma média de mais de 17.475 irregularidades registradas por ano.
Diferentemente das outras faixas exclusivas que se estendem pela malha viária da cidade, o corredor não permite o tráfego de táxis nem transportes escolares, mesmo após as 21h. A restrição é constantemente monitorada por fiscalização eletrônica, espalhada por diferentes pontos da via que atravessa bairros populosos da Capital.
"É uma via que é segregada e tem velocidade controlada, apesar de esta ser um pouco maior, e deve ter sinalização impecável. Não existe acesso local. Por ser ao lado do canteiro central, não há justificativa para essa invasão (do corredor)", ressalta o assessor técnico da AMC, André Luís Barcelos. Segundo ele, a proposta de segurança trazida a partir da implantação do Corredor Expresso Fortaleza leva em consideração a prioridade de circulação dos ônibus, por carregarem mais passageiros que um automóvel.
Acidentes
"É uma pista destinada a um veículo mais pesado, de grande porte. O ônibus por si só tem mais pontos cegos, o que pode favorecer acidentes, por isso a Prefeitura implantou uma política de sinalização destes pontos cegos. Também há uma dificuldade de frenagem, principalmente em dias chuvosos", diz.
A invasão do espaço exclusivo se traduz na quebra de resguardo dos beneficiários do BRT, o que se confirma pelo histórico de acidentes causados pela infração. Barcelos afirma que todos os casos são estudados a fim de melhorar a sinalização no percurso. "É um comportamento de risco. Tivemos alguns casos até de atropelamentos. A via é sinalizada, existe controle de velocidade até para os ônibus. Mesmo assim, ocorrem acidentes".
O monitoramento por vídeo também contribui para auxiliar em eventuais acidentes que, caso não sejam controlados rapidamente, podem gerar mais ocorrências, especialmente na Avenida Bezerra de Menezes, com seu fluxo diário de 58 mil veículos, em média, nos dois sentidos. "A colisão sem vítima, em geral, causa outros acidentes, então é preciso uma resposta ágil para desobstruir a via", explica o assessor técnico da AMC.
O professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mário Azevedo, reforça a ausência de motivos para veículos invadirem o corredor, uma vez que não há manobras ou retornos que justifiquem a escolha do 'caminho alternativo'. "Deve existir a consciência de cidadania. É uma das poucas áreas exclusivas para ônibus, e a sinalização é bem intensa. Fica difícil alegar que não viu", afirma.
Multa
Em relação às possíveis alternativas para evitar a recorrência dessas infrações, Azevedo diz que não há muito mais a ser feito. Ele considera o lançamento de campanhas, apesar de o resultado de ações como estas só ser observado a longo prazo. "É educar um adulto, que já deveria saber disso. Também acaba passando uma mensagem errada para as crianças, que poderão aprender a dirigir no futuro".
A penalidade para os infratores, porém, é clara: para a violação classificada como gravíssima, conforme o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), é aplicada uma multa de R$ 293,47. Também são contabilizados 7 pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).