Estudada, testada e aprovada pelos principais órgãos reguladores de saúde do mundo e a comunidade científica internacional, com aplicação mundial demonstrando a cada dia o efeito positivo contra os impactos mais graves da Covid, a vacinação ainda é colocada em dúvida sem a fundamentação necessária.
Agora, com a espera das doses para as crianças a partir de 5 anos, a imunização volta a ser alvo de campanhas de desinformação, que são armas nas mãos de movimentos antivacina, justamente em relação a uma faixa etária com grande potencial de transmissão de doenças e que está prestes a voltar às aulas.
A médica-pediatra Mônica Levi, membro do comitê de imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), afirma que os estudos já comprovaram e as aplicações pelo mundo só confirmam a segurança e eficácia da vacinação de crianças contra a Covid e que os benefícios superam em muito os riscos, considerados raros e todos contornados até então. Eventos como miocardite e endocardite, replicados em fake news anti-vacina, seriam muito maiores para os acometidos pela doença, não pelo imunizante.
O desafio, conforme a médica, é ampliar o convencimento das famílias diante das campanhas de desinformação de movimentos antivacina.
A vacina da Pfizer, aprovada para uso em crianças, é segura?
Sim. Essas vacinas estão sendo utilizadas e aprovadas em inúmeros órgãos regulatórios. Estados Unidos, Reino Unido e vários outros países com órgãos regulatórios, inclusive pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a partir de estudos com milhares de crianças dessa faixa etária de 5 a 11 anos, mostraram extrema segurança, um perfil de segurança muito aceitável, poucos (quando há) efeitos colaterais, e em casos mais “graves”, ocorrendo de forma leve e um número inexpressivo se comparado ao risque que se tem com a própria doença.
O que muda na vacina para crianças em relação à dos adultos?
Muda a dosagem. É um terço da dose. Foi testada a dose ideal da Pfizer, que já traz uma eficácia muito alta para qualquer forma de Covid de mais de 90%. E por isso mesmo muito menos eventos adversos do que se era esperado. A dosagem foi adequada. Por isso tem uma tampa de cor laranja, para não ter confusão nos locais de aplicação da vacina. A roxa fica para a partir dos 12 anos, e de 5 a 11 anos tem a formulação de tampa de outra cor.
A vacina pode ter efeitos colaterais nas crianças? quais?
Como todas as vacinas, a gente nunca nega que existam efeitos colaterais. São estimulos do nosso próprio sistema imunológico, que podem causar sintomas comuns que são reações locais, como local endurecido, avermelhado, e um mal estar, febre, que é transitório, passageiro. Reações totalmente aceitáveis, autolimitadas e transitórias. E é muito aceito comparado ao risco para crianças da própria Covid.
Qual a importância da atenção a essa faixa etária?
A gente acredita que é muito importante a vacinação das crianças de 5 a 11 anos. É preciso observar a importância das crianças na cadeia de transmissão das doenças. Elas têm um papel de grandes transmissores de doenças transmitidas por vias respiratórias. Vão para as escolas e a disseminação é muito grande. Pra gente ter um maior controle da Covid é importante a imunização dessa faixa etária
Quais eventos adversos e quão grave eles têm sido?
É importante ressaltar que a vacina é muito segura. Durante estudos, os órgãos regulatórios avaliam os eventos adversos graves (choque anafilático, miocardite, endocardite, por exemplo) e avalia o desfecho desses eventos adversos, se levaram a algum tipo de deficiência posterior, por exemplo. Tudo isso é feito para avaliar se ela é segura ou não. É importante esclarecer que houve raríssimos casos de eventos adversos graves, todos com evolução benigna, sem nenhum óbito nos estudos para a faixa etária que se pretende vacinar agora - e a vacinação de crianças já está acontecendo no mundo comprovando toda essa segurança e eficácia.
O Brasil realizou nesta semana uma consulta pública para avaliar a imunização de crianças mesmo após autorização da Anvisa. Qual a importância dessa consulta?
Não tem razão nenhuma para ter acontecido isso. Só de ter uma consulta pública e audiência para ouvir antivacinistas lado a lado com profissionais sérios qualificados, cientistas brasileiros, é um despautério. A gente tem que confiar nos órgãos regulatórios do Brasil e no mundo e na comunidade científica internacional, e não alegações baseadas em fake news e achismos, como foi apresentado por membros que tiveram a palavra na audiência pública. Isso já causa uma insegurança em muitos pais, que não tem uma base para acreditar, para entender o que se trata fake news, principalmente quando algumas tentam se apresentar de forma muito convincente.
Já houve a definição de que não haverá necessidade de prescrição médica nem consentimento dos pais para a vacinação das crianças. O que esperar a partir de agora?
Esperamos que todos sejam vacinados. Mas acho que vamos ter dificuldade de vacinar a população infantil [contra a Covid]. A vacina vai chegar, é fato que vamos ter, os secretários dos Estados escreveram carta antes do Natal dizendo que não vão fazer maiores exigências (consentimento dos pais, prescrições etc..). Tudo o que foi aventado não vai ser feito na prática, mas o convencimento das famílias vai ter que ser maior, por causa do tumulto que nunca houve antes no Brasil, essa desconfiança que foi plantada sobre a vacina. Acho que isso é um desmonte do Programa Nacional de Imunização. Profissionais competentes em trabalho árduo construíram uma credibilidade para o mundo inteiro. Um órgão forte que a gente tinha e estão enfraquecendo, causando um desmonte no País de um trabalho tão importante. E a Sociedade Brasileira de Imunizações é enfática em confirmar que as vacinas são seguras, eficazes e altamente recomendadas para as crianças de 5 a 11 anos.