Grupo de 389 mães luta por vacinação contra Covid-19 para todas as lactantes no Ceará

Somente gestantes, puérperas e lactantes enquadradas em grupos prioritários estão sendo contempladas no Ceará, seguindo recomendação do Ministério da Saúde

Foi inspirado no movimento Lactantes Pela Vacina, iniciado em Salvador, que as cearenses Sâmia Araújo, 25 anos, e Anauã Luamy, 30 anos, decidiram se mobilizar para organizar uma frente de reivindicação pela vacinação contra Covid-19 de todas as lactantes no Ceará. Na última quarta-feira (14), criaram grupos no Instagram e no WhatsApp com este fim. 

Além disso, também organizaram um abaixo-assinado solicitando a imunização contra a doença. O movimento, que conta com o suporte de outras cinco administradoras para organizar as redes sociais e tomar decisões de liderança, já registra 2.474 assinaturas

Apesar de não se conhecerem, ambas iniciaram a mobilização de forma individual até decidirem se unir nessa frente de reivindicação da vacina não apenas para gestantes, puérperas e lactantes com comorbidades, mas para todas as mulheres amamentando. O objetivo principal é proteger as mães e seus filhos.

Na carta aberta que acompanha o abaixo-assinado, as mães se dirigem às gestões estaduais e municipais, assim como aos órgãos de saúde do Ceará e das cidades do Interior. Conforme Sâmia, o grupo deve entrar em contato com as entidades governamentais logo que conseguir agregar mais assinaturas. O Ceará é estado do Nordeste com maior número de gestantes com Covid-19, e também a maior quantidade de óbitos (28).

Vacinação para grávidas e lactantes

Em abril, o Ministério da Saúde incluiu puérperas, com até 45 dias pós-parto, e grávidas no grupo prioritário da vacinação contra Covid-19. Agora, o órgão já inclui todas as gestantes, puérperas e lactantes enquadradas em grupos prioritários, como o de comorbidades. As Secretarias de Saúde do Ceará (Sesa) e de Fortaleza (SMS), têm seguido as recomendações federais.  

Essa é a orientação do Ministério da Saúde, que tem como base estudos nacionais e internacionais que avaliaram os riscos e os benefícios de imunizar mulheres nessas condições"
Ministério da Saúde

Em relação às gestantes sem doenças pré-existentes inseridas no público-alvo da campanha, o órgão federal recomenda a realização de “uma avaliação cautelosa junto ao seu médico, principalmente se a mulher exercer alguma atividade que a deixe mais exposta à doença”, finaliza. No entanto, não garante o imunizante para aquelas que ainda não são o foco dessa etapa de vacinação.

Segundo o chefe de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital César Cals (HGCC), Flávio Ibiapina, o fato de ter sido comprovado a presença de anticorpos no leite materno aumenta a chance de proteção dos bebês. "Essa não é uma questão que já tem uma resposta definitiva, ou seja, se essa imunização passiva já seria suficiente para proteger o bebê completamente da Covid-19. Mas, sim, é um fator a mais para diminuir o risco", aponta.

Segundo o especialista, muitas crianças podem ser infectadas pelas mães nos contatos diários. "O fato dela ser imunizada vai diminuir as chances de contaminação também para o seu bebê", afirma.

Medo da contaminação

A mãe da pequena Liz, 9 meses, Sâmia Araújo, decidiu realizar a mobilização de luta pela vacina por temer os impactos da doença nas mulheres lactantes, assim como em seus bebês. “Estamos em luta para que todas as lactantes possam ser vacinadas e proteger o maior número de pessoas, principalmente esse grupo vulnerável”, coloca. 

Meu maior medo enfrentado seria perder a bebê. Depois que eu vi minha filha, toquei nela, que eu senti meu amor por ela, o maior medo se tornou perdê-la. Um serzinho tão pequeno, desprotegido no meio de uma pandemia global, mundial. Hoje minha maior luta é por ela
Sâmia Araújo
Mãe lactante

Tendo vivenciado sua gestação em meio à pandemia de Covid-19, compartilha que a experiência foi marcada por uma série de desafios. “Ter que ficar em casa, não poder compartilhar a gestação com amigos e parentes, não ter uma rede de apoio”, foram algumas das dificuldades enfrentadas para além do medo de contaminação pela doença. 

Retorno ao trabalho

No caso de Anauã, apesar de seu filho ter nascido ainda em novembro de 2019, faz parte do grupo de crianças cearenses que viveram o primeiro ano de vida durante pandemia de Covid-19. “Quando ele estava com três meses, foi quando estourou a pandemia, o lockdown e a gente entendeu a gravidade da situação”, detalha. 

Em abril deste ano, a artista recebeu diagnóstico positivo para a Covid-19, apresentando sintomas leves, como dor no corpo, febre, coriza, tosse e perda de olfato. “Meu filho consequentemente também pegou a doença, mas ele teve sintomas ainda mais leves”, explica. Agora, mesmo buscando um emprego para manter a renda da casa, teme uma nova contaminação.

Minha maior preocupação é conseguir um emprego presencial, sair para trabalhar e correr o risco dele pegar. Essa nova variante que está mais forte. A gente corre o mesmo risco de pegar essa Covid-19. Meu medo é de ser hospitalizada e ter que desmamar o meu filho.
Anauã Luamy
Artista e mãe