A cidade mais populosa do Ceará ocupa uma vice-liderança indesejada no Nordeste: com 187.167 registros, Fortaleza é a segunda capital da Região com maior número de moradias irregulares, atrás apenas de Salvador, que tem 375.291 domicílios nessas condições. O cenário preocupa diante do alto poder de transmissãodo novo coronavírus. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta terça-feira (19).
Somado aos números de 15 municípios Região Metropolitana (RMF), o total de residências dentro de “aglomerados subnormais” na Grande Fortaleza chega a 222.370. Esses locais são terrenos ocupados de forma irregular, que não possuem o “papel da casa” e acumulam problemas como falta de água, energia, coleta de lixo e rede de esgoto.
Em todo o Ceará, a estimativa é de que existam 809 aglomerados subnormais, localizados em mais de 40 municípios, totalizando 243 mil moradias precárias. O levantamento, destaca o IBGE, é “preliminar, feito como preparação para a operação do Censo Demográfico 2020, adiado para 2021 em razão da pandemia de Covid-19”.
Impactos na pandemia
Os dados mostram ainda a distância entre essas comunidades de Fortaleza e do Estado e as unidades de saúde mais próximas com suporte para observação e internação. Na Capital, por exemplo, o aglomerado mais distante de um equipamento assim fica no bairro Pedras: para obter esse nível de atendimento, moradores precisariam percorrer cerca de 4,5km até o Hospital Municipal Dr. Amadeu Sá, no município de Eusébio.
No Ceará, o percurso é bem maior. O município com conjunto de moradias irregulares mais distantes de uma unidade de saúde com suporte de observação e internação é Granja, que abriga os aglomerados conhecidos como Pessoa Anta, a 28 km de unidade de saúde em Viçosa do Ceará, e Adrianópolis, a 24 km de unidade de saúde no município de Chaval.
Para os pesquisadores, esses números repercutem diretamente no combate à pandemia do novo coronavírus. “Nos aglomerados subnormais, residem, em geral, populações com condições socioeconômicas, de saneamento e de moradia mais precárias. Muitos possuem uma densidade de edificações extremamente elevada, o que pode facilitar a disseminação da Covid-19”, apontam os pesquisadores do IBGE.
Sendo áreas de “precariedade no acesso a serviços básicos e na infraestrutura social”, as comunidades demandam fortalecimento de políticas públicas, sobretudo de saúde, uma vez que “são, em maioria, dependentes do Sistema Único de Saúde – SUS”. “No caso da Covid-19, é preciso considerar as características socioeconômicas e geográficas dessas áreas, como a falta ou o acesso limitado ao saneamento e à coleta de lixo, o custo dos produtos de higiene pessoal e o tipo de emprego (trabalho informal, subempregos, empregos com impossibilidade de se trabalhar de casa e vínculos empregatícios mais frágeis etc.). O padrão urbanístico também pode consistir em um limitador no caso de necessidade de acesso de ambulâncias para casos de maior gravidade”, analisa o estudo.
Os resultados definitivos dos Aglomerados Subnormais serão divulgados após a realização do Censo do IBGE de 2021.