A presença somada dos vírus da influenza e da Covid entre pacientes no Ceará acendeu o alerta para a possibilidade de coinfecção por ambos os agentes. Isso tornou popular, inclusive na imprensa, um termo julgado incorreto por especialistas: “flurona”.
A junção da sílaba “flu”, de influenza, e “rona”, de coronavírus, é errada porque sugere a existência de um vírus só, híbrido – ou de uma doença única, combinada. O que não é a realidade, como explica Samuel Arruda, biomédico e microbiologista.
“Coinfecção é a presença dos dois agentes ao mesmo tempo, não necessariamente causando doença. Os vírus não podem se associar e causar juntos uma doença só, porque eles têm mecanismos de penetração nas células diferentes”, pontua.
Samuel esclarece que é possível o paciente contrair ambos os vírus e não manifestar as doenças. “Pode ser que os dois estejam causando o adoecimento do paciente, mas pode ser também que ele só tenha positivado devido à sensibilidade do teste.”
De tão independentes, as ações de ambos os vírus podem até interferir uma na outra. “Influenza e coronavírus causam sintomas respiratórios, mas podem ter alvos diferentes. Pode acontecer de um reduzir a ação do outro, numa ‘disputa de espaço’. Mas ainda é cedo para dizer”, avalia o microbiologista.
Há o quadro clínico causado pela influenza e o causado pelo coronavírus, isso se considerarmos um paciente que esteja com a infecção e também doente.
O infectologista Keny Colares reforça que o fenômeno da coinfecção “acontece com doenças crônicas, como HIV e tuberculose, mas também nas doenças agudas, principalmente quando há surto”.
Sobre o termo “flurona”, o médico afirma que é uma “denominação não científica, informal, como um ‘apelido’ para a coinfecção”, não utilizado pelos profissionais.
Apesar disso, Keny frisa que “não é um pecado grande utilizar, o importante é que as pessoas saibam que estão expostas a duas ondas grandes de doenças importantes”.
Os casos de coinfecção não têm apresentado manifestações diferentes de uma síndrome gripal, mas ainda temos muito o que aprender e observar.
Fatores que favorecem a coinfecção
A infecção simultânea por dois agentes virais é considerada um evento menos frequente, ao passo que comum: os casos não são numerosos, mas já são amplamente conhecidos.
Entre os fatores que favorecem essa contaminação por dois vírus, o infectologista Keny Colares destaca a alta circulação em si. “De uma forma geral, depende dos níveis da transmissão daquelas doenças e se estão acontecendo mais ou menos na mesma região”, pontua.
Já Samuel Arruda relacionada ainda outras razões:
- Alta circulação dos vírus;
- Alto número de pacientes infectados;
- Baixa vacinação;
- Não uso de máscaras de proteção.
O relaxamento das medidas sanitárias, aliás, foi destacado pela secretária executiva de Vigilância da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), Ricristhi Gonçalves, em entrevista ao Diário do Nordeste na última semana de 2021.
“Influenza e Covid são doenças muito transmissíveis, se disseminam muito rápido, principalmente pelas novas cepas, que encontram maior população suscetível. E as pessoas não estão utilizando máscara, higienizando as mãos”, lamenta.
A gestora explicou também que a testagem de Covid está disponível nas redes pública e privada, mas a de influenza não. “Só fazemos nas unidades sentinelas, porque o exame de influenza é mais complexo, não está na rotina”, frisa.
Pessoas hospitalizadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) ou que evoluíram para óbito devido ao quadro gripal também têm amostras enviadas para identificar influenza e o subtipo (A H1N1, A H3N2, B etc.)
Nessa terça-feira (4), o governador Camilo Santana afirmou que será criado um plano de ampliação de leitos públicos para atender pessoas com síndromes respiratórias, além de aumento da testagem de Covid-19 e gripes.