Os impactos gerados pela pandemia de Covid-19 no Brasil são muitos e parecem, agora, afetar diretamente no tempo de vida de toda uma população. No Nordeste, por exemplo, a crise sanitária fez os cearenses perderem mais de 2 anos de expectativa de vida ao nascer.
É o que revela o estudo “Redução na expectativa de vida no Brasil em 2020 após a Covid-19", ainda preliminar, liderado pela pesquisadora brasileira Márcia Castro, do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard.O trabalho usa dados do Ministério da Saúde e foi submetido para publicação na MedRxiv, da Universidade de Yale.
A estimativa de vida ao nascer varia conforme a região do País. No Ceará, a queda foi de 2,8%, passando de 74.68 anos em um cenário sem Covid-19 para 72.59 anos com Covid-19, menos 2.09 anos.
Homens serão mais afetados
Na análise por gênero, os homens no Estado devem perder mais anos de vida, com uma queda de 3%, passando de 70.75 para 68.61 anos, ou seja, redução de 2.15 anos.
Já entre as cearenses, que tinham expectativa de vida ao nascer de 78.65 anos, a queda foi de 1.94, passando para 76.71 anos, menos 2,4%.
A expectativa de vida dos cearenses ainda é menor que a taxa do País, segundo o estudo. A variação nacional foi de 1.94, passando de 76.74 anos para 74.80 anos.
Redução esperada
Os números são resultado direto das mortes já registradas no País pela Covid-19. Para a demógrafa Márcia Castro, essa queda não será pontual.
"Quando acontece um conflito, uma pandemia, algo severo assim, é comum ver esse declínio de expectativa de vida; foi assim na gripe espanhola e nas guerras mundiais".
Contudo, acrescenta a especialista, também é esperado o retorno a normalidade. "Mas se espera sempre que seja algo temporário, um ponto fora da curva. No caso do Brasil, já estamos vendo que 2021 vai ser pior que o ano passado. Existem Estados que somam mais mortes agora do que ao longo de todo 2020, como Amazonas e Rondônia", diz.
Embora o estudo destaque ser comum uma rápida recuperação do indicador após choques intensos como guerras ou pandemias, isso não deve acontecer no Brasil. Entre os motivos apontados, diz a pesquisa, está o fato de o País passar atualmente pelo pior momento da pandemia, com número crescente de mortes, colapso dos hospitais e um lento processo de imunização contra a doença.
Em determinadas regiões, ainda conforme o levantamento, a expectativa de vida deve cair até mais de três anos, como é o caso do Espírito Santo, na região Sudeste, com perda estimada de 3,02 anos.
Desigualdades afetam resultados
Essas diferenças são esperadas e refletem as desigualdades regionais no País, destaca Márcia Castro. "No que diz respeito ao número de médicos, de leitos hospitalares, infraestrutura. No Amazonas, por exemplo, todos os leitos de UTI estão concentrados em Manaus".
"A Região Nordeste, a despeito de ter desigualdades comparáveis às da Região Norte, não teve uma perda de expectativa de vida tão grande, porque os governos adotaram mais medidas de prevenção. São vários fatores. Desigualdades importam, decisões políticas importam; é um mosaico complicadíssimo", comenta.