Entre a série de expectativas frustradas pela crise sanitária no âmbito da Educação, inevitavelmente, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) entrou para a lista. Pela primeira vez desde sua criação, a prova não aconteceu no ano devido. O Enem 2020 agora será aplicado nos dias 17 e 24 de janeiro - em sua versão impressa - e nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro na modalidade digital, trazendo consigo não só o peso de um ano atípico, mas uma carga de estresse e incerteza ainda maiores para os estudantes.
Nos momentos finais de preparação para as provas, o que diriam as "vozes da experiência"? O Diário do Nordeste conversou com quatro cearenses que foram candidatos do Enem múltiplas vezes e se destacaram por suas médias gerais ou notas na redação em 2019. Os estudantes contam sobre suas rotinas de estudos, e o que recomendam para os participantes de 2020.
Rotina de estudos alinhada ao dia a dia
Para o universitário Jonatas Pires Mota, 18, a adaptação da rotina no preparo para o Enem se construiu junto ao seu dia a dia de aulas na Escola de Ensino Médio (EEM) Joaquim Magalhães, em Itapipoca. “Eu assistia às aulas de tarde, então meu estudo pro Enem era basicamente de manhã e à noite, quando chegava da escola. Eu começava umas 7h30 e ia até umas 11h30. Depois almoçava, ia pro colégio, voltava umas 18h e começava a estudar de novo umas 19h30 indo até 23h”, relata.
Por ter facilidade em Matemática e Ciências da Natureza, ele reduzia o tempo de estudo para essas áreas do conhecimento, e dedicava um período maior para a Língua Português, Ciências Humanas e redação.
Jonatas recomenda, ainda, fazer apenas uma redação por semana. “Fazendo muitas por semana, acaba que você foca demais na quantidade, e a qualidade diminui. Eu fazia uma, mas tirava outros momentos pra estudar sobre redação, corrigir o texto e estudar gramática, ou seja, outras coisas relacionadas que poderiam melhorar a qualidade da minha redação”, acrescenta.
O jovem teve seu melhor resultado no Enem de 2019, quando conseguiu uma média geral de aproximadamente 790, e nota de 960 na redação, o que lhe rendeu uma vaga no curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde estuda atualmente.
Ele destaca a importância do tempo livre, que, para ele, era reservado para dois dias na semana. “Eu sempre estudei a semana inteira, mas geralmente na sexta-feira à noite, eu parava. No sábado eu também não estudava nada. Nos fins de semana, eu estudava no domingo, pra fazer o simulado. Esses dois outros momentos eu tirava de folga pra não sobrecarregar. Senão você não absorve nada, tem que ter uma parte pro lazer”, afirma.
Matérias para focar seguindo a Teoria de Resposta ao Item
Com a experiência que adquiriu ao longo de cinco anos como candidato do Enem, o universitário Filipe Aragão, 20, enfatiza que um dos aspectos cruciais na hora do estudo é não acumular a matéria. Ele lembra que a dedicação em não deixar tarefas ou atividades pendentes foi uma constante nos últimos anos em que participou do Exame, quando ainda era aluno do Colégio 7 de Setembro.
“Em relação à separação por matérias, o que eu fazia era os simulados e, de acordo com eles, eu analisava no que eu precisava focar mais. Claro que a Matemática é a que vale mais, né. O número de questões é o mesmo, mas por conta da Teoria de Resposta ao Item (TRI), que é o sistema de pontuação do Enem, algumas provas acabam valendo mais. No caso, a Matemática é a que vale mais. Então se você aumenta (a pontuação) em Matemática, você aumenta bastante a sua nota. Por isso eu priorizei Matemática e Ciências da Natureza, que é Química, Física e Biologia. Não é à toa que me saí tão bem em 2019, porque fui melhor em Matemática”, pondera.
Filipe conquistou uma vaga no curso de Medicina da UFC após alcançar uma média geral de 813, além de 940 na redação. Em 2019, ele também dedicou atenção especial à prática da redação. “Pra passar em ampla concorrência pra Medicina, é muito importante tirar mais de 900 na redação, e eu não tinha conseguido ainda nenhuma vez”, lembra.
Saber o que os professores esperam ver na redação
Quando se trata da produção textual que é decisiva para um bom resultado no Enem, Gustavo Lopes, 20, também tem um histórico de destaque. Em 2019, ele alcançou a nota máxima na redação, com mil pontos. O aluno do curso pré-vestibular do Colégio Ari de Sá Cavalcante está inscrito na edição atual do Exame, e pretende cursar Medicina no Ensino Superior.
“Em 2019, resolvi ler bastante as redações de estudantes que tiraram nota mil e também conversar muito com meus professores, para saber o que eles esperavam ver na redação do Enem. A gente escreve para outros corretores, né, muitas vezes de fora. Então eu buscava opiniões tanto de professores do curso, aos quais eu tinha acesso, quanto de outros professores na Internet, por meio de videoaulas no YouTube”, conta.
Hoje, Gustavo tem seu próprio canal na plataforma de vídeos, onde também dá dicas e orienta outros candidatos para que melhorem seus resultados nas provas.
“Quando tive essa experiência de buscar saber o que os professores querem ver na redação, o que eles esperam do aluno, eu me saí bem. Não importa qual fosse o tema, eu sabia que iria escrever de acordo com o que o corretor queria de mim naquele momento. Afinal, a redação é uma prova como qualquer outra. Claro, ela não tem um gabarito fixo, mas tem as competências bem definidas, que nós temos que seguir”, ressalta.
Simulados ajudam a aplicar o conteúdo
No caso de Jurandi Campelo, 18, o preparo intenso para o Enem requereu um estudo aplicado em simulados, e com otimização do tempo. Atualmente, o universitário cursa Química na Universidade de São Paulo (USP), e lembra do processo pelo qual passou quando ainda era aluno do Colégio Farias Brito, em Fortaleza.
“O simulado é algo muito importante, porque não adianta só saber a matéria. O aluno tem que saber também como aplicar o conteúdo que ele possui. Às vezes, o estudante se dá melhor quando sabe aplicar, mesmo tendo menos conteúdo que outros. Por exemplo, eu não tinha um conteúdo gigantesco de Humanas ou Linguagens, mas eu sabia como isso era cobrado no Enem e o que eu precisava pra acertar as questões. Pra isso, fazer provas passadas é essencial”, afirma. “É a melhor forma de entender como o Exame funciona. E o simulado te ajuda a dominar o tempo da prova, porque de que adianta acertar questões, mas não conseguir terminar tudo?”, indaga Jurandi.
Nos meses anteriores à prova, ele selecionou os conteúdos mais necessários, bem como aqueles em que tinha maior dificuldade, e voltou sua atenção a eles. O resultado foi uma média geral de 820.66 e nota mil na redação. Segundo o universitário, otimizar o tempo permite, ainda, que o estudante se prepare para outros vestibulares além do Enem, como o da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
“Não existe uma receita pronta pra passar. O que dá pra fazer é usar dicas de pessoas que tiveram bons resultados, de professores que entendem do assunto, e usá-los como guias”, finaliza.