Desde o início da pandemia, o Ceará registrou 129 mortes de crianças, de zero a 9 anos, por Covid-19, de acordo com a plataforma IntegraSUS. A quantidade é maior do que a soma de todos os óbitos registrados durante 12 anos por outras doenças evitáveis através da vacinação. Por isso, especialistas defendem a necessidade de que os pais mantenham os esquemas vacinais dos filhos em dia.
Entre 2019 e 2020, foram contabilizadas 123 mortes relacionadas a doenças preveníveis por meio da imunização, conforme lista organizada pelo Ministério da Saúde que abrange:
- Tuberculose
- Tétano
- Difteria
- Coqueluche
- Poliomielite
- Sarampo
- Rubéola
- Hepatite aguda
- Caxumba
- Meningite por Haemophilus
- Síndrome da rubéola congênita
- Hepatite viral congênita
Os dados do Ministério são do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). A plataforma lembra que os valores referentes a 2020 ainda são preliminares e estão sujeitos a revisão.
Porém, em 21 meses, foram vítimas da Covid 113 crianças de até 4 anos e mais 16 pessoas de 5 a 9 anos.
Olívia Bessa, pediatra, diretora de Pós-Graduação da Escola de Saúde Pública (ESP-CE) e professora da Universidade de Fortaleza, destaca que o sistema imune infantil ainda não está maduro para realizar uma boa resposta aos agentes agressores externos, como vírus e bactérias. Por isso, o quanto antes a criança for imunizada, melhor.
“As baixas coberturas vacinais colocam em risco a saúde individual da criança, além de um risco coletivo potencial, com retorno de doenças que já haviam sido controladas, em um cenário propício para surtos e epidemias”, alerta.
Conforme a especialista, as vacinas aplicadas no Brasil ajudaram a eliminar a varíola, interromper a transmissão da poliomielite e da rubéola e controlar o sarampo. Além disso, a incidência das pneumonias e meningites também diminuiu.
“A prevenção e o controle das doenças evitáveis por vacinas têm sido uma prioridade dos sistemas de saúde. Os programas nacionais de imunização estão entre os mais bem-sucedidos do mundo”, garante.
Suscetíveis a casos graves
O coordenador da rede genômica da Fundação Oswaldo Cruz no Ceará (Fiocruz-CE) e especialista em vigilância laboratorial, Fábio Miyajima, reforça que crianças correm o mesmo risco de infecção e agravamento das enfermidades.
“As crianças também podem ficar doentes e adquirir outros tipos de doenças que adultos não contraem facilmente. Temos que ter uma cobertura vacinal muito alta porque podemos ter reservatórios assintomáticos de crianças ou adolescentes infectando pessoas em grupos de risco”, alerta.
Neste mês, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a aplicação da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. O Ministério da Saúde ainda deve se pronunciar sobre o envio de doses aos Estados. No Ceará, a Secretaria da Saúde já iniciou o cadastro desse público, estimado em 900 mil pessoas.
O pediatra e infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), considera que os benefícios superam os riscos porque as crianças estão sujeitas à Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), Covid longa e hospitalizações pela doença. Além disso, defende o seguimento das pesquisas após o início da aplicação.
“Os riscos associados a essa vacinação, avaliados nos estudos de fase 3, mostraram segurança e imunogenicidade e, obviamente, devem continuar sendo monitorados. No momento, entendo que a relação é favorável”, destaca.
Comunicação contra fake news
Olívia Bessa, da ESP-CE, reforça que a autorização parte de “uma análise técnica criteriosa de dados e estudos clínicos” conduzidos pelo laboratório, a partir de um grupo de especialistas em pediatria e imunologia que teve acesso aos dados.
Para ela, é importante disseminar conteúdos cientificamente comprovados para uma melhor percepção e adesão para a vacinação dos pais ou responsáveis, evitando uma crise de confiança e mitos em torno da segurança das vacinas que circulam pelas redes sociais.
Crianças precisam mesmo ser vacinadas? A resposta é sim, por vários motivos. Embora apresentem, na sua maioria, formas clínicas leves ou assintomáticas, elas não estão isentas da ocorrência de formas graves que podem ser importantes causas de morbimortalidade nesta população.