A suposta distribuição, por parte do Ministério da Saúde, de lotes da vacina contra a Covid-19 com prazo de validade vencido fez emergir algumas dúvidas sobre o processo de logística da entrega dos imunizantes desde os laboratórios até chegar aos municípios, última ponta até que a vacina seja aplicada no braço dos brasileiros.
Afinal, como ocorre o controle da validade e quais cuidados se deve ter no acondicionamento e entrega para que o imunizante chegue ao brasileiro em perfeita integridade?
O Diário do Nordeste ouviu especialistas da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Fortaleza e da Secretaria da Saúde (Sesa) do Ceará. Eles detalham o processo e garantem que não houve aplicação de nenhuma dose vencida.
A coordenadora da Assistência Farmacêutica de Fortaleza, Nivia Tavares, explica que as vacinas, ao chegarem a "Rede de Frio" do Estado, são distribuídas à rede dos municípios.
No caso de Fortaleza, no ato em que há o recebimento do imunizante, é feita uma conferência - na presença dos representantes do Estado - em relação ao quantitativo e validade dos lotes, além da checagem da temperatura dos imunobiológicos.
As vacinas vêm com uma nota de remessa e essa nota contém todas as informações de lote e validade. Para cada lote e tipo de vacina, há um controle individual.
O armazenamento das vacinas ocorre na câmara de frios dos municípios, com temperatura de 2 a 8 graus e, para o caso do imunizante da Pfizer, esse acondicionamento é feito em um super freezer, com temperatura de -80 graus. Essas temperaturas respeitam as recomendações presentes na nota técnica de cada um dos imunobiológicos.
Nivia Tavares explica que, ao ocorrer a distribuição das vacinas da "Rede de Frio" aos pontos de aplicação, é feito um controle em sistema integrado com o Ministério da Saúde. Nele são informados quantas doses estão sendo envidas, o lote e a validade.
"Mantemos sempre dois controles, um no sistema informatizado e outro no manual. Isso é importante para termos como fazer a dupla checagem sempre que preciso. Essas informações contidas no sistema são conferidas diariamente", detalha a coordenadora.
Na distribuição dos imunobiológicos é priorizado o prazo de validade. Tem prioridade sempre as vacinas cujo prazo de validade está mais próximo ao vencimento. "Mas devido à ampla demanda, a vacina fica pouco tempo na Rede de Frio assim como nos pontos de distribuição. Elas são rapidamente utilizadas nos pontos de aplicação", acrescenta.
Nivia reconhece que não há, por parte do sistema do Ministério da Saúde, nenhum prévio alerta automático que indique a proximidade do vencimento de algum lote, contudo, reforça que através da dupla checagem realizada no Município e dos inventários que são feitos no recebimento da dose, esse "controle de validade no Estado é bem eficiente".
Logística
Com todos os lotes devidamente acondicionados, as vacinas ficam na "Rede de Frio" até que sejam necessárias serem transportadas para os pontos de aplicação. Segundo Nivia Tavares, diariamente é emitida uma lista com a quais locais precisam ser enviados os imunobiológicos e a quantidade, para que assim seja contemplado o processo de vacinação dos agendados.
"Em posse dessas informações, começamos, ainda no dia anterior, a separação dos lotes e uma nova checagem da validade e temperatura. Vale ressaltar que, quanto à temperatura, a checagem é feita 4 vezes ao dia", ilustra a coordenadora da Assistência Farmacêutica de Fortaleza.
No dia seguinte, é feita a distribuição das vacinas em caixas térmicas, na temperatura apropriada pela distribuição, respeitando, mais uma vez, as recomendações e especificações contidas nas notas técnicas de cada imunizante.
O que é Rede de Frio?
O gerente da Central Estadual de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos (Ceadim) da Sesa, Tarcísio Seabra Filho, explica que a Rede de Frio é um sistema amplo, de normatização e planejamento, que gere a manutenção dos medicamentos, não somente das vacinas contra a Covid-19.
“É um meio que permeia todas as esferas da gestão, com os fluxos definidos em esfera nacional, regional, municipal e local.", detalha Tarcísio. No caso do Ceará, a Rede é dividida em superintendências e regiões de saúde de abrangência.
"Nosso principal propósito é de gerenciar esses insumos, provenientes do Ministério da Saúde, para nossa instância Estadual e garantir que essa vacina chegue até a última instância local da Rede de Frio, que é a sala de vacina, com todos os protocolos pré-estabelecidos para garantir a segurança e a qualidade das vacinas”, explica o profissional.
Essa Rede é fundamental para que o imunizante chegue às cidades em total integridade. Tarcísio reforça que o controle precisa ser rigoroso uma vez que os imunobiológicos são extremamente sensíveis ao calor e ao frio.
"Precisam ser armazenados, transportados, organizados, monitorados e distribuídos de uma maneira adequada para que não haja nenhuma quebra dentro da cadeia de frio. Do contrário, você pode comprometer a eficácia e a segurança desta vacina”, adverte o gerente da Ceadim.
Distribuição aos municípios
Agora que você já compreendeu como é feito o controle de recebimento das vacinas, checagem dos lotes e acondicionamento adequado dos imunobiológicos, é preciso explicar como elas chegam em todas as 184 cidades cearenses.
A primeira parada acontece na capital do Estado. Todos os lotes chegam à Fortaleza por via área e, posteriormente, são direcionados à Rede de Frio por meio de caminhões de transportadoras de incubência do Ministério da Saúde.
Após a checagem e conferência inicial, já detalhados por Nivia e Tarcísio, esses lotes são separados e enviados para os 20 municípios-polo do Ceará. O envio para essas cidades é feito, segundo o gerente da Ceadim, em até um turno. Tempo hábil para que o processo de vacinação seja mais célere.
Ao chegarem nas cidades-polo, elas têm a missão de redistribuir os imunizantes para as demais cidades até chegar à sala de vacinação, onde finalmente ocorre a aplicação do imunobiológico contra a Covid-19.
Municípios-polo:
- Caucaia, Baturité, Itapipoca, Sobral, Tianguá, Camocim, Acaraú, Crateús, Juazeiro do Norte, Crato, Iguatu, Brejo Santo, Icó, Tauá, Quixadá, Canindé, Aracati, Russas e Limoeiro do Norte
A distribuição da Capital cearense para estas regiões é feita por via aérea. Anteriormente era feito apenas por meio terrestre. Segundo Tarcísio, essa estratégia "tem nos feito ganhar muito tempo, além de agilizar bastante o nosso sistema de vacinação".
Em posse dos imunizantes, cabe aos municípios replicarem o rigoroso controle que fora descrito passo a passo pelo gerente da Central Estadual de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos (Ceadim) da Sesa e por Nivia Tavares, coordenadora da Assistência Farmacêutica de Fortaleza.