Buscas sob escombros de prédio que desabou em Fortaleza seguem nesta quarta; entulhos são retirados

Três pessoa morreram, sete foram resgatadas com vida e sete seguem desaparecidas, segundo o Corpo de Bombeiros

O trabalho de buscas por vítimas do desabamento do Edifício Andrea segue nesta quarta-feira (16), sem interrupções desde o primeiro atendimento à ocorrência, com o revezamento de equipes do Corpo de Bombeiros. O corpo de uma terceira vítima que morreu na tragédia foi encontrado por volta das 12h desta quarta e retirado horas depois pelos bombeiros. A informação foi confirmada pelo comandante Eduardo Soares de Holanda, do Corpo de Bombeiros. A terceira vítima é uma idosa, identificada como Izaura Marques Menezes, de 81 anos, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS). 

Na manhã de hoje, os bombeiros confirmaram que a segunda vítima é uma mulher que ainda não foi identificada. A SSPDS informou, na noite desta terça (16), que a mulher permanece sob os escombros. A primeira morte foi confirmada na noite de terça (15). Trata-se de Frederick Santana dos Santos, de 30 anos, cujo velório acontece nesta quarta-feira, no Cemitério Parque da Saudade. 

O comandante Holanda afirmou ainda que sete pessoas foram resgatadas com vida, diferentemente do divulgado anteriormente, quando foi dito que nove pessoas foram retiradas ainda vivas. A discrepância nos números ocorreu por um erro de duplicidade de nomes nas planilhas, segundo o comandante.  Outras sete pessoas permanecem desaparecidas. 

Os bombeiros ainda trabalham com a perspectiva de que há pessoas com vida sob os escombros. "Tem toda a possibilidade de gente viva, a estrutura contempla ainda bolsões que essas pessoas podem estar lá. Nós estamos ainda num período bem favorável para que a gente possa ter pessoas vivas e estamos trabalhando incessantemente pra resgatar", conta o comandante.

Ainda na madrugada, foi dado início à retirada dos entulhos, que são levados por caminhões que acessam o local e cerca de 150 voluntários se revezam com auxílio no resgate e ajuda a vítimas.

Vídeo mostra síndica, porteiro e trabalhadores da reforma

Em nova imagens divulgadas nesta quarta-feira (16), é possível ver o momento exato que pessoas próximas ao prédio correm enquando o edifício desaba. No vídeo, identifica-se uma pessoa do lado de fora, e outras 5 correndo dentro das instalações do prédio. Das 5 pessoas de dentro do prédio, tem-se notícia apenas de uma delas: o porteiro e zelador do condomínio, Francisco Rodrigues da Silva, que correu no momento da tragédia e conseguiu sobreviver. 

Em contato com nossa equipe, Francisco Rodrigues confirmou ser uma das pessoas que aparece no vídeo e revelou que as outras quatro pessoas são a síndica do Edifício Andrea, Maria das Graças, e três homens que trabalhavam na reforma do prédio, iniciada na segunda-feira (14), um dia antes do desastre. Até o momento, os bombeiros ainda não informaram sobre o paradeiro deles. 

Em entrevista do Sistema Verdes Mares, o porteiro afirmou que foi uma "tragédia anunciada". " O prédio já vinha nos avisando que ia cair. Eu tinha medo e muitas pessoas também", afirmou. No vídeo, a sexta pessoa, que está sentado em uma cadeira na calçada, é o vigilante Vando Pereira. "Eu estava sentado lá trabalhando como eu sempre fico na frente do prédio. Ouvi um estalo grande. Quando eu olhei, já vi aquele poeiral. De repente estava tudo pelo chão, você não enxergava mais nada. Saí correndo e graças a Deus consegui sobreviver", disse em entrevista na terça-feira (15), logo após o desabamento do prédio. Vando trabalha numa loja que fica perto do edifício. 

Dados atualizados e oficiais do Corpo de Bombeiros

A primeira vítima foi um entregador de água que estava em um mercadinho atingido pelos destroços, conforme informação do Corpo de Bombeiros. A segunda morte é de uma mulher ainda não identificada. Ela foi encontrada na madrugada e ainda está sob os escombros. 

Mortes confirmadas

1)  Frederick Santana dos Santos, 30 anos, era entregador de água e estava no mercantil ao lado do prédio, no momento do desabamento. Bombeiros confirmaram a morte por volta das 23h30 da noite de terça-feira (15). 

2) Vítima não identificada. SSPDS informou que é uma mulher e que ainda está nos escombros do edifício. Bombeiros confirmaram a morte dela por volta das 8h desta quarta (16). 

3) Izaura Marques Menezes, de 81 anos, é avó do primeiro resgatado com vida do prédio, o jovem Fernando Marques. Os bombeiros confirmaram a morte por volta das 17h30. De acordo com a corporação, o corpo foi encontrado ao meio-dia e eles não conseguiram identificar a vítima. A SSPDS, depois, identificou ela como Izaura Marques Menezes, após exames de odontologia forense (arcada dentária).

QUEM SÃO AS PESSOAS RESGATADAS COM VIDA

1) Fernando Marques, 20 anos, foi o primeiro resgatado com vida dos escombros;
 
2) Antônia Peixoto Coelho, 72 anos. Estado de saúde é considerado grave;

3) Cleide Maria da Cruz Carvalho, 60 anos. Foi encaminhada para hospital com ferimentos no corpo. Quadro de saúde é estável;

4) Davi Sampaio, universitário do curso de Arquitetura de 22 anos. O jovem, que sofreu escoriações, fez selfie nos escombros e enviou para a família. Ele teve alta hospitalar na tarde desta quarta (16);

5) Gilson Gomes, 53 anos, trabalhava próximo ao local e estava no mercantil ao lado do prédio, no momento da desabamento. Ele quebrou as duas pernas e está internado no IJF

6) Francisco Rodrigues Alves, 59 anos, porteiro e zelador do Edifício Andrea. Ele aparece correndo em um vídeo do momento do desabamento. Está internado no IJF;

7)  João Ycaro Coelho de Menezes, 35 anos, foi resgatado às 15h de terça-feira (15). Ele é sobrinho da idosa Antônia Peixoto Coelho, 72 anos, também resgatada com vida. Ele é engenheiro de computação, teve escoriações no momento do desabamento e foi encaminhado para o Frotinha de Messejana. Ficou em observação, fez exames e teve alta nesta quarta (16). 

Chuva durante resgate

Pela manhã, a chuva que caiu sobre a Capital diminuiu o ritmo do trabalho por alguns momentos mas, tão logo acabou, as equipes retomaram os trabalhos sobre os escombros.

Segundo um bombeiro, a chuva fraca não atrapalha o serviço e pode até ajudar, pois baixa a poeira e ameniza o calor. Se a precipitação for mais forte, contudo, é recomendado que o trabalho seja suspenso, porque há risco, inclusive, para a equipe de resgate.

Desabamento: entenda o que houve

O Edifício Andrea desabou na manhã desta terça-feira (15), por volta das 10h28, no cruzamento da Rua Tibúrcio Cavalcante com Rua Tomás Acioli, no Bairro Dionísio Torres, em Fortaleza.

A Prefeitura de Fortaleza afirmou na tarde desta terça que o prédio foi construído de maneira irregular. Segundo a prefeitura, até o ano de 1995 existia uma residência no lugar do Edifício Andrea. O primeiro imóvel foi construído na década de 1970. A prefeitura revelou ainda que a construção irregular dos sete pavimentos é o motivo pelo qual não há registros oficiais do prédio. 

O presidente do Conselho Regional de Engenharia do Ceará (Crea-CE), Emanuel Maia Mota, afirmou durante entrevista coletiva, que também não tem registro ou nome de um engenheiro responsável pela construção do Edifício Andrea. 

“Aqui no Crea a gente está constituindo uma comissão que vai levantar informações acerca da reponsabilidade, dos profissionais que estavam ali na nuvem, digamos assim, de serviços a serem executados, e vamos repassar isso para a Defesa Civil, para a perícia, enfim”, afirmou ele. 

Emanuel Maia Mota disse também que foi registrada, uma Anotação de Responsabilidade Técnica informando uma reforma de recuperação de construções e pintura no Edifício Andrea, que ia custar R$ 22.200. O documento é exigido sempre que condomínios ou donos de casas vão fazer uma obra no imóvel. 

Mota explica que a anotação entrou segunda-feira nos registros do Crea-CE em nome de um engenheiro que informava que uma reforma seria executada no prédio, sem especificar em que área seria esta obra. 

Sobre a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), documento de registro da reforma, o presidente do Crea acrescentou que uma vez que o engenheiro faz o registro do serviço, ele se autodeclara responsável pelas obras.  

"O engenheiro passa a assumir tudo após esse registro e quando ele faz de forma genérica, essa responsabilidade é muito mais ampla. Se ele tivesse descrito o que ele estava fazendo e que tipo de procedimento ia ser executado, as responsabilidades iam se restringindo. Dependendo da responsabilidade apontada pela perícia que será feita no local, no Crea ele pode responder à resolução 1090, que prevê a suspensão do registro profissional.