O cenário nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Fortaleza é mostra da alta transmissão do coronavírus, associada à variante Ômicron: a demanda cresceu mais de 5 vezes entre dezembro e janeiro. Pacientes relatam, como resultado, maior tempo de espera até às consultas. Prevenção da doença pode evitar a sobrecarga do sistema de saúde.
Dados da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), mostram que os atendimentos médicos de pacientes com coronavírus passaram de 1.273, em dezembro de 2021, para 7.082 em janeiro deste ano. As informações foram atualizadas na tarde desta quarta-feira (26) com aumento de 456.32%.
Até o momento, os atendimentos deste mês se concentram na UPA do Autran Nunes (1.239), na UPA do Canindezinho (810) e a UPA do Jangurussu (776).
“Nós estamos exatamente na fase de crescimento exponencial dos casos de coronavírus, mas com a Ômicron e a vacina o percentual de casos graves está sendo bem menor do que com as variantes anteriores”, analisa Mônica Façanha, médica infectologista.
Também professora no Departamento de Saúde Comunitária, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mônica frisa o aumento na relevância de conter a propagação da doença. “Diminuir a transmissão para que o sistema de saúde aguente, as pessoas possam ser atendidas e ter o tratamento adequado quando precisar”, completa.
Com o maior fluxo de pessoas nas UPAs, também subiu a necessidade de transferência entre unidades de saúde. Em dezembro, foram 6 mudanças de pacientes com Covid, enquanto janeiro já registra 35 transferências.
Os registros da Sesa também mostram que dezembro não teve mortes por Covid nas UPAs da Capital. Este mês foram 8 registros.
Não há informação disponível sobre a imunização desses pacientes, mas as pessoas sem nenhuma dose ou com esquema vacinal incompleto estão mais suscetíveis ao resultado mais drástico da doença.
“Tem várias pessoas que ainda não se vacinaram e estão tendo casos mais graves. A vacina, embora não proteja 100% do risco, oferece uma proteção muito grande”, pondera Mônica Façanha.
Experiência de quem procura UPA em Fortaleza
Ao saber da infecção pelo coronavírus, a preocupação da auxiliar administrativa Cheyenne da Costa, de 30 anos, foi com o esposo, que tem problemas respiratórios por causa da bronquite. Além disso, ela foi à unidade de saúde do José Walter em busca de um atestado médico na segunda-feira (24).
“Eu precisei ir na UPA, porque fiz um teste de Covid e deu positivo, apesar de não estar com sintomas fortes, estava com enxaqueca, que geralmente só passa quando tomo medicação na veia”, completa.
No local, percebeu muitos pacientes com sintomas gripais e estima ter esperado 4 horas para conseguir atendimento. “O médico disse que eu poderia voltar a trabalhar normalmente, mas a empresa que eu trabalho tem toda uma norma. Conversei com minha chefe e ela me disse para ficar em home office”.
Situação parecida com a observada pela vendedora Juliana Ana, de 36 anos, que lidou com a incerteza se conseguiria ser atendida na UPA do Canindezinho. “Estava há três dias tossindo direto e gripada, tomei remédio, mas os sintomas permaneceram”, explica sobre o motivo da busca por atendimento médico.
Na unidade de saúde, os atendimentos aconteciam em torno de 40 minutos, como estima, enquanto surgiam mais pessoas com tosse e sintomas gripais.
“Eu cheguei às 6h30 da manhã, tinha mais ou menos três pessoas de prioridade aguardando exames, e pessoas com ficha verde no aguardo. Teve a troca de plantão e foram acumulando pessoas na sala de espera”, lembra sobre o atendimento no dia 12 de janeiro.
“Não fizeram nenhum tipo de exame, mas passaram xarope, antialérgico e recomendação de 5 dias em casa”, acrescenta.
A reportagem entrou em contato com Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar, responsável pela administração das UPAs citadas pelas pacientes, para entender o gerenciamento da demanda e o procedimento para disponibilização de atestado médico. Quando a resposta for enviada, esse material será atualizado.
Ampliação de leitos nas UPAs
O impacto da crescente de casos de síndromes gripais afeta o atendimento nas UPAs pelo aumento da demanda e pelo adoecimento de profissionais da saúde.
"Estamos aumentando em muito a procura nos postos de saúde e UPAs, tendo uma defasagem dos nosso profissionais de saúde, porque eles também adoecem", destacou o prefeito José Sarto, em transmissão feita no dia 12 de janeiro.
Entre o dia 1º e 10 de janeiro, 600 profissionais de saúde foram afastados dos postos de saúde e 700 deixaram de atender na rede hospitalar por causa da infecção por Covid. Os números não consideram os dados do Instituto Doutor José Frota (IJF).
Na ocasião, a secretária da saúde de Fortaleza, Ana Estela Leite, acrescentou que as filas de espera se intensificam também pela circulação de outros vírus respiratórios.
Nós tivemos nas UPAs, no dia máximo da 2ª onda, 600 atendimentos por dia. Nós observamos aí mais de 1200 atendimentos por dia em uma demanda aumentada
Os gestores divulgaram a ampliação de 100 leitos em 3 UPAs: 40 na do Itaperi, 30 na do Jangurussu e 30 na do Vila Velha. Estavam disponíveis 323 leitos para sindromes gripais e Covid com potencial de dobrar a capacidade.
Quando devo ir a uma unidade de saúde por síndrome gripal?
Quem se contamina com o coronavírus e apresenta sintomas leves pode permanecer em casa durante a quarentena, por volta de 10 dias, até o fim dos sintomas e do potencial de transmissão.
Na maioria das pessoas, a infecção está sendo uma doença leve, com coriza, nariz entupido, mal estar, dor no corpo, na garganta e uma febre baixa. Esse quadro dura em torno de 4 ou 5 dias e regride
Porém, existem sinais que podem alertar para a gravidade do quadro: piora ou retorno da febre, baixa na oximetria (quantidade de oxigênio no sangue) e dificuldade de respirar.
“E se for uma pessoa de risco, idosos, com doenças mais graves, que podem ter risco maior de complicação, têm que ficar mais atentas e serem observadas por um profissional”, aconselha.
Mônica ressalta a relevância de preservar pessoas mais vulneráveis por meio do distanciamento e do uso de máscaras mais efetivas contra a Ômicron, como as do tipo PFF2 ou N95, sem deixar frestas de ar.
“Mesmo com sintomas iniciais, que muita gente acha que é rinite alérgica, se manter distante de pessoas que têm maior risco de ter doença mais severa”, reforça.