Acidente com VLTs completa 1 mês; colisões com trens se repetem

A perícia nas composições não foi concluída e as causas do acidente seguem desconhecidas. Cia Cearense de Transportes Metropolitanos diz que sistemas passam por manutenção e colisões acontecem por imprudência de motoristas

Nesta segunda-feira (28), completa-se um mês do acidente envolvendo duas composições do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), na Capital, com causas ainda desconhecidas. Chama atenção, no entanto, a frequência com que colisões envolvendo trens na Grande Fortaleza vêm se repetindo. Em menos de um mês, foram quatro casos registrados, um alerta para a necessidade de manutenção dos sistemas operacionais nas passagens de nível e das normas de conduta segura adotadas também pelos condutores.

O motorista de aplicativo Adriano de Freitas mora no entorno do cruzamento da linha férrea do bairro Vila União, rota do VLT Parangaba Mucuripe. Ele afirma que a cancela sofre problemas constantemente, deixando de baixar nos momentos em que a composição passa pelo local ou baixando sem que haja trens em circulação naquele exato instante. "Ela baixa quando o trem não passa. Às vezes, o trem passa e ela não funciona, e fica essa bagunça. Na terça-feira à noite, ela ficou levantada e os carros passando. O trem já estava em cima quando um cara teve que arrancar para não ser levado", conta. Ainda conforme o motorista, os reparos acontecem rápido, mas logo em seguida o problema volta a acontecer. O risco é ainda maior, conforme ressalta o manobrista Josimar de Oliveira, porque o fluxo de veículos no local é grande, gerando picos de congestionamento e, por consequência, veículos parados sobre os trilhos. Outro problema, acrescenta, é o volume do sinal sonoro. "Acho muito baixo, se tiver alguém com vidros fechados é difícil escutar".

Foram exatamente esses os problemas relatados pela técnica de enfermagem Rebeca Santos, que teve o carro atingido pelo VLT na passagem de nível da Rua Capitão Gustavo, no Bairro São João do Tauape, na última quarta-feira (23).

Além de não ter escutado a sinalização sonora e da cancela não ter baixado, segundo relata, ela não conseguiu perceber a presença do trem por causa do muro que separa os trilhos da rua. "Assim que entrei (na passagem de nível), já colidi com o trem. Só não foi mais forte porque eu consegui puxar o carro para o lado", diz. Com a colisão, o carro foi jogado contra a mureta, mas Rebeca não se feriu.

No dia 8 de outubro, o trem que passa pela cidade de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, bateu em um caminhão que trafegava pela passagem de nível da Rua Barão de Ibiapaba, no centro do Município. Ninguém ficou ferido. Um dia antes, uma composição de carga colidiu contra um caminhão, deixando dois feridos em Fortaleza.

O choque entre as duas composições do VLT no dia 28 de setembro, contudo, foi o caso mais grave. Os trens trafegavam em sentidos contrários e bateram de frente no elevado sobre o cruzamento da Rua Bartolomeu Gusmão com Avenida Aguanambi, deixando 37 pessoas feridas.

Acidente

A perícia que deve apontar as causas do acidente ainda não foi concluída. O secretário de infraestrutura do Estado, Lúcio Gomes, disse que o caso está sendo apurado por uma comissão permanente de sindicância, da Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos, e por uma comissão especial formada por membros da Secretaria da Infraestrutura (Seinfra) e da Procuradoria Geral do Estado (PGE), com participação do Metrofor.

"Eles vão falar dados de gravação, fitas de áudio e vídeos de câmeras que temos instaladas em todos os trechos, colher depoimentos, pois a gente precisa dar o direito às pessoas de se defenderem e se explicarem. De fato, aquela ocorrência não é aceitável. Em princípio, podemos ter um retorno em 30 dias. Mas isso é prorrogável", afirma.

Sobre a operação dos trens, a Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos informou, por nota, que equipes de manutenção do Metrofor trabalham rotineiramente nas áreas de atuação do sistema, garantindo o bom funcionamento dos equipamentos de sinalização. Destaca, ainda, que cerca de dois terços das demandas de manutenção em passagens de nível são gerados pelo desrespeito e desatenção de motoristas que avançam sobre os trilhos sem parar o veículo.

A nota da Companhia afirma também que a passagem de nível da Rua Capitão Gustavo conta com uma sinalização completa e estava funcionando plenamente no dia 23 de outubro, quando ocorreu a última colisão.

Vandalismo

Atos de vandalismo, no entanto, vêm contribuindo para a ocorrência de problemas no sistema, conforme pontua o secretário Lúcio Gomes. "Dois terços dos casos seguramente estão documentados como vandalismo. Tem gente que mora perto e não gosta do barulho, quer passar e quebra a cancela, então há de tudo", ressalta.

O gestor diz que a segurança será reforçada. "Vamos fazer cada vez mais parceria com a Prefeitura para que a gente instale fotossensores, que as câmeras também estejam com mais ângulos para que a gente possa acompanhar e, claro, é preciso campanhas educativas", avalia o titular da Seinfra.