As medidas preventivas contra a multiplicação do Aedes aegypti já são tão conhecidas quanto três das doenças letais que ele transmite: dengue, chikungunya e zika. Não deixar água limpa parada, vedar a caixa- d'água, limpar gavetas de geladeiras e outras tantas recomendações, porém não parecem ser suficientes para evitar o avanço do mosquito: de acordo com o primeiro Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (LIRAa) deste ano, cinco bairros de Fortaleza estão com alto risco de proliferação, e outros 77 têm nível de alerta.
Os dados foram divulgados, ontem (28), na 46ª reunião do Comitê Intersetorial Permanente de Enfrentamento às Arboviroses, a segunda deste ano. O LIRAa é aferido quatro vezes por ano, calculado a partir de um recorte de imóveis e quarteirões visitados pelas equipes de endemias. Conforme o coordenador de Vigilância em Saúde de Fortaleza, Nélio Morais, "é um retrato muito fiel" da atual conjuntura da cidade. Entre os dias 27 e 31 de janeiro, foram vistoriados 48.162 imóveis na Capital cearense: em 800 deles (1,66%) foi confirmada a infestação por Aedes aegypti. No mesmo período de 2019, conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o índice de infestação predial era de 1,52%.
Atualmente, a taxa tida como "satisfatória", quando menos de 1% da amostra confirma a presença do mosquito, só foi registrada em 39 bairros da cidade, distribuídos em todas as regionais. O nível de "alerta", com infestação entre 1% e 3,99%, foi verificado em 77 locais. Já os registros de risco alto, quando mais de 4% dos imóveis visitados têm infestação do Aedes, foi detectado nos bairros Vila Ellery e Olavo Oliveira, na Regional III; José de Alencar, Regional VI; e Parque São José e Manoel Sátiro, Regional V.
É justamente a Regional V, aliás, a que tem maior infestação pelo transmissor das arboviroses, com índice que ultrapassa os 2%; seguida pelas Regionais V, com 2,04%; VI, com 1,98%; IV, com 1,65%; III, com 1,53%; I, com 1,19%; e, por fim, II, com menor índice de infestação: 0,96%. A titular da SMS, Joana Maciel, salienta que "o mosquito é muito adaptado ao nosso clima", e por isso há proliferação "mesmo com baixos níveis de infestação".
Doenças
A chegada do período de chuvas amplia a preocupação com medidas preventivas ao surgimento de larvas do Aedes, como reforça Nélio. "Nós entramos, agora, no período mais crítico de todo o processo de transmissibilidade das arboviroses, no Brasil, sobretudo no Nordeste brasileiro, que é o período que vai de março até o fim de maio e que às vezes se estende até o mês de junho".
De todas as arboviroses, a que mais preocupa o Estado, segundo analisa o coordenador, é a dengue 2: três casos deste sorotipo já foram confirmados só em Fortaleza, até o início de fevereiro. O Ceará já é, neste ano, o segundo estado do Nordeste com mais casos suspeitos de dengue: são 830 notificações, atrás apenas da Bahia, com 1.815. Em relação à chikungunya, o Estado já contabiliza 92 casos suspeitos, atrás de Bahia, com 441; Rio Grande do Norte, com 149; e Pernambuco, com 101 suspeitas. Já o zika vírus não teve casos prováveis registrados em território cearense.
"Todas as forças devem estar concentradas nas ações de campo, os agentes de endemias visitando os imóveis, identificando os criadouros e eliminando focos. O serviço público tem sua obrigação, inclusive a população deve reivindicar de nós, mas ela tem que fazer o seu papel, porque 80% dos focos de proliferação do Aedes aegypti estão ainda dentro de domicílios", pontua o coordenador.