Vai de Bet rescinde contrato com o Corinthians após caso de polícia; Dois diretores entregam cargos

A empresa acionou a cláusula anticorrupção para romper o vínculo com o time paulista

A Vai de Bet, patrocinadora master do Corinthians, anunciou nesta sexta-feira a rescisão de contrato com o clube. A decisão acontece após os polêmicos pagamentos da Rede Media Social Ltda, intermediária do acordo, à Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda, suposta empresa "laranja" cujo CNPJ está no nome de Alex Fernando André, mais conhecido como Alex Cassundé, membro da equipe de comunicação do presidente do Corinthians, Augusto Melo. Nesta semana, a Polícia Civil notificou o clube e pediu informações sobre a intermediação do contrato de patrocínio.

Em comunicado, a patrocinadora afirmou ter tomado a decisão com base em dispositivos contratuais. "A marca avalia que não se pode manter a parceria enquanto pairar sobre o acordo qualquer suspeita em relação a condutas que fujam à conformidade com a ética e os preceitos legais. Só a dúvida, no crivo ético da marca, já é suficiente para determinar a rescisão - que foi exercida pela Vai de Bet suscitando cláusulas do contrato que protegem direitos da marca nessa decisão", diz trecho da nota divulgada à imprensa.

"Desde o início de abril a marca acompanha e solicita esclarecimentos sobre as suspeitas levantadas, tendo já realizado reuniões, comunicações formais e notificação extrajudicial. Diante das explicações apresentadas sem nenhuma resolutividade, a VaideBet lamentavelmente se vê obrigada a tomar tal atitude", afirma a empresa.

Ao assinar com a Vai de Bet, o Corinthians fechou o maior acordo de patrocínio do futebol brasileiro. A marca do ramo de apostas ofereceu R$ 360 milhões para estampar o espaço mais nobre da camisa corintiana por três temporadas. O acordo previa o pagamento de R$ 10 milhões ao longo dos 36 meses de contrato. Ao todo, o clube recebeu R$ 60 milhões pela parceria.

O contrato previa também o pagamento de 7% do montante líquido de cada parcela à Rede Media Social Ltda. Ou seja, R$ 700 mil por mês ao longo de três anos, resultando em R$ 25,2 milhões ao fim do contrato. Com CNPJ ativo desde janeiro de 2021, a empresa possui um capital social declarado de R$ 10 mil. Edna Oliveira dos Santos, residente na cidade de Peruíbe, litoral Sul de São Paulo, teve o nome envolvido no episódio. Há a suspeita de que ela tenha sido usada como "laranja" no caso sem a sua anuência.

Segundo reportagem publicada na coluna do jornalista Juca Kfouri, no portal UOL, após os pagamentos da comissão, a Rede Social Media Ltda repassou o parte dos valores por meio de PIX à Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda, empresa com endereço na Avenida Paulista que serviria como "laranja". O clube notificou a intermediadora extrajudicialmente cobrando explicações sobre o caso e solicitou a EY investigação do contrato para esclarecimentos.

O caso é investigado pelo Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC). Ao Estadão, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) limitou-se a afirmar que "diligências estão em andamento visando o esclarecimento dos fatos". O Corinthians confirmou ter recebido a notificação e disse que vai colaborar com as investigações pois afirma ser "o maior interessado em esclarecer os fatos".

Timão responde

Poucas horas após a Vai de Bet anunciar a rescisão do contrato de patrocínio, a direção do Corinthians veio a público para confirmar o fim do vínculo e também criticar a ex-parceira. Em comunicado, o clube paulista afirmou que a casa de apostas era "desconhecida" antes da assinatura do acordo de patrocínio.

"O Corinthians lamenta que o parceiro comercial tenha encerrado o maior acordo de marketing esportivo do Brasil - do qual a empresa se beneficiou a ponto de sair de uma casa de apostas desconhecida para a segunda colocação no setor em apenas cinco meses - sem que houvesse nenhuma conclusão das investigações relacionadas ao intermediário da negociação", afirmou o clube.


Dois diretores entregam os cargos

Horas após a Vai de Bet anunciar a rescisão de contrato com o Corinthians, a diretoria alvinegra sofreu outras duas baixas. Rozallah Santoro e Fernando Alba, diretor financeiro e diretor-adjunto de futebol, respectivamente, optaram por entregar os cargos. As saídas devem ser formalizadas ao longo desta sexta-feira. Anteriormente, a polêmica do "laranja" envolvendo a intermediária do acordo com a patrocinadora já havia motivado a saída do diretor jurídico Yun Ki Lee do diretor jurídico adjunto Fernando Perino.

Tanto Santoro quanto Alba fazem parte do grupo político Movimento Corinthians Grande, da tradicional Chapa 82, que apoiou Augusto Melo na eleição que tirou o grupo de Andres Sanchez após 16 anos no poder. A ala entende que o mandatário não cumpriu promessas de campanha e está insatisfeita após as seguidas polêmicas envolvendo o clube. A rescisão com a Vai de Bet como patrocinadora master foi a gota d'água para a decisão das saídas dos dirigentes.