Série Segurança no Castelão: experiências de torcedores e como contribuir para reduzir violência

Segurança, punições e perspectivas de futuro sobre a segurança no estádio mais utilizado do Brasil em 2022

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Fortaleza e Ceará levaram, juntos, 1.961.371 milhão de torcedores aos estádios em 2022, segundo a Pluri Consultoria. Maior palco das competições dos times cearenses, a Arena Castelão viu a maior parte dessas disputas, com glórias e derrotas das equipes. Da arquibancada, abraçou a festa das torcidas, com mosaicos e cânticos, e testemunhou situações de violência. 

Em quatro reportagens, a Série Castelão Seguro vem mostrando parte do que é feito em relação à segurança do torcedor e de quem atua nos jogos de futebol. Torcedores, poder público, especialistas e clubes destacam melhorias e apontam questões em busca de evolução.

Para muitos, as brigas causam algum receio de frequentar a praça esportiva, mas a preocupação maior é no caminho até o local. A tricolor Aniele Pinzon frequenta estádio há dez anos e ressalta: 

“Acho que a maior sensação de insegurança é no caminho para o estádio. A segurança pública é falha no nosso Estado. Quando são jogos de rivais, como um Clássico, troco de blusa, coloco a do Fortaleza. No caminho acho muito mais inseguro”, ressalta a torcedora. 

“Já presenciei confusão no estádio e por esse e outros motivos nunca fui a um Clássico-Rei. Nesses jogos, não sinto segurança na ida, dentro do Castelão e na volta pra casa, pelo menos não o suficiente para ir. A insegurança me priva de acompanhar presencialmente o maior clássico do nosso futebol.” O relato é de Robson Bandeira, torcedor do Ceará. Ele sublinha a necessidade de mais envolvimento dos clubes, diretoria e jogadores na conscientização de mais pessoas sobre o tema, incluindo o debate sobre as minorias.

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O tricolor Rodrigo Antunes revela já ter presenciado várias confusões na arquibancada. Mesmo assim, diz se sentir a salvo.

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Tricolor, Aniele Pinzon critica a abordagem realizada pela polícia na Arena Castelão e cita exemplo de trabalho realizado na Arena Fonte Nova, na Bahia. 

“Eles vão controlar com balas de borracha, bomba... No meio da multidão. Falta uma conscientização melhor. Estive na Fonte Nova, no Bahia x Fortaleza, e vi que eles fizeram parcerias com as TOs. Nos corredores, as TOs cuidam para que as pessoas não vejam os jogos nas escadas, para facilitar a evacuação. Ao meu ver, a forma de melhorar seriam parcerias educativas e punições individuais”, conclui a tricolor Aline Pinzon. 

Como as TOs podem contribuir no combate à violência?

O jornalista e pesquisador de futebol Irlan Simões reforça a importância de incluir as TOs no processo de planejamento da segurança das partidas é o primeiro passo para pensar na redução da violência.

“Não existe maior entendedor do problema da torcida do que a própria TO, principalmente as lideranças. Inseri-los nesse processo como líderes máximos e dar uma linha, principalmente se tratando de deslocamento”, reforça Irlan Simões, jornalista e pesquisador de futebol. 

Raoni explica que o tema é debatido na TUF. A TO mantém uma série de projetos com intuito de cultivar a paixão pelo clube e afastar os participantes de qualquer ambiente de confusão.

“A violência urbana é algo que atinge cotidianamente nossos componentes. Temos diversos projetos que visam afastá-los do ambiente da briga, incentivando mais amor ao clube, mais vontade de fazer a festa e empatia com o próximo. Desde a Bateria, que é o coração da arquibancada, com escolinha de ritmistas que ensina que somos torcida para torcer e não para brigar, até o setor social responsável por diversas ações com crianças, idosos e pessoas vulneráveis. Ao invés de excluir o componente problemático, trazemos para mais perto e incentivamos à leitura com o projeto Livro Livre Leões da TUF e a transformarem-se em atletas das artes marciais, ou simplesmente cuidar da saúde com o Muay Thai do Projeto Velha Guarda”, explicou o tricolor.

Regis Alves, componente da Cearamor e diretor da Associação Nacional das Torcidas Organizadas (ANATORG), ressalta que a parceria com o poder público, incluindo MP e demais envolvidos no meio futebolístico é fundamental. 

“É fundamental uma Coordenadoria de acompanhamento do Torcedor/a que faz esse diálogo junto às Torcidas Organizadas, pois só a punição é comprovado que não adianta”, completou o também professor de História.

Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Polícia Militar informou que o número do efetivo em dias de jogo, nas áreas externas e internas do Castelão, varia de acordo com a ocasião. A corporação explica ainda como se dá a ação dos agentes no estádio. No entanto, não respondeu como avalia a própria atuação durante distúrbios e outras questões.

“São empregadas nas operações no estádio e entorno antes, durante e após os jogos equipes do Comando de Policiamento de Choque (CPChoque), do Regimento de Polícia Montada (RPMont), do Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio), do Batalhão de Polícia de Trânsito Urbano e Rodoviário Estadual (BPRE), além do Policiamento Ostensivo Geral (P.O.G), motopatrulhamento e Força Tática da região. Salientamos que o CPChoque conta com unidades de Controle de Distúrbios Civis (CDC) e de Policiamento de Eventos (PE). A cada grande evento esportivo, a PMCE participa de reuniões envolvendo as forças da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS), Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), representantes dos times e demais forças amigas envolvidas para o bom encaminhamento dos eventos esportivos na Arena Castelão."