Um cenário conturbado e com vários problemas é, também, uma oportunidade para crescimento. Foi com este pensamento que o Ceará, durante a pior pandemia do século, teve um dos seus melhores anos na história.
Com consolidação no cenário nacional, colheu resultados esportivos, como o bicampeonato invicto da Copa do Nordeste, a chegada até as quartas de final da Copa do Brasil e aquela que é, até agora, a melhor campanha entre os nordestinos na Série A do Campeonato Brasileiro.
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Não é coincidência. O ano de 2020 é reflexo da responsabilidade e gestão equilibrada com que conduz o clube há anos. Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, o presidente Robinson de Castro avaliou o ano alvinegro, detalhou metas para 2021 e falou sobre orçamento, Guto Ferreira, Vina e diversos temas.
DN: Qual balanço você faz da temporada 2020?
Muito positivo. Fomos campeões invictos do Nordeste novamente, é uma marca forte. No Estadual, não fomos campeões, mas chegamos na final, que é o que sempre temos que fazer. Na Copa do Brasil fomos muito bem, poderíamos até ter ido um pouco além. E no Brasileirão estamos relativamente confortáveis em relação à questão de rebaixamento, que é o que buscamos primeiro nos livrar. Queremos os 45 pontos para depois ir atrás de mais. O time está em evolução, crescendo na competição. Não sabemos se vamos chegar mais longe do que já estamos, mas a certeza é que o trabalho tem sido muito bem feito. Tenho uma visão muito positiva em relação ao nosso 2020, mas ainda não conquistamos o objetivo principal.
DN: Foi o melhor ano da sua gestão?
É mais um ano de colher frutos. Foi uma grande provação, e nós conseguimos mostrar como estamos saneados. Tivemos mais combustível porque, nos anos anteriores, fizemos o dever de casa. Então, quando choveu, estávamos com o telhado preparado. Estamos imunes? Não. Mas nos molhamos bem menos. Pegamos dinheiro emprestado? Sim. Vamos aumentar nosso endividamento? Vamos. Mas não é muito, é pouco. Vamos continuar com o menor passivo do Brasil, e lastreado. Temos como pagar.
DN: E como ficou o orçamento do Ceará em 2020?
O déficit orçamentário do ano ficou em 14 milhões, aproximadamente. As despesas não mudaram muito, mas nós orçamos uma receita de R$ 100 milhões em 2020, e vamos chegar a R$ 86 milhões, aproximadamente. Esses 14 milhões tivemos que buscar para fechar a conta. O balanço ainda está sendo encerrado. Até outubro, estávamos com superávit. Não sei ainda com o fechamento de novembro e dezembro, que são os meses mais difíceis. Mas até dois meses atrás, estávamos ainda com superávit.
DN: Como o Ceará conseguiu passar pela pandemia de forma menos prejudicial?
Sempre preparei tudo para deixar o clube forte quando mais estivesse fragilizado ou com uma variável incontrolável. Sempre tive esse pensamento, de não deixar o clube nunca vulnerável. Com toda a pressão, críticas, me chamavam de “Tio Patinhas”, mas sempre achei que haveria um momento com uma provação, e é este ano. Não só para os clubes, mas todas as pessoas, físicas e jurídicas. A gente conversa com clubes do Brasil inteiro, e não tenho dúvidas: nós seremos o maior do Nordeste. Pelo cenário que os outros enfrentaram na pandemia. A dificuldade de outros clubes é muito grande, e não estamos desesperados. Claro que estamos alertas, mas tranquilos e preparados para o futuro.
DN: Acha que em cinco anos isso vai acontecer, de ser o maior do Nordeste?
Acho que antes. A pandemia acelerou o processo. Até pouco tempo, tínhamos um orçamento de R$ 30 milhões. Fomos até R$ 70 milhões, até R$ 100 milhões, e vamos entrar 2021 e dar um salto de 50% no nosso orçamento, com R$ 157 milhões, quase R$ 160 milhões, e isso com os pés no chão. E vamos ter um baita orçamento para um clube do Nordeste no ano que vem. A gente tem que manter essa linha. Os números em campo e financeiros falam por si só. E sem mecenas. O Ceará não tem ninguém colocando dinheiro no clube aqui. É totalmente autossustentável.
DN: Qual avaliação da marca própria “Vozão”?
O que eu desejava, num primeiro momento, não era o retorno financeiro, mas reverter o relacionamento com nosso torcedor, que antes estava mal tratado. Isso criava uma antipatia com o clube. O torcedor ia pra loja e não encontrava produto, não tinha comunicação, e aquilo criava um ambiente negativo. E nossa primeira iniciativa era mudar esse relacionamento. Hoje, é totalmente diferente. Existe um orgulho pela marca Vozão, que é um grande sucesso. Mais de 100 mil camisas no ano, demonstra a força e a demanda reprimida que existia na nossa torcida.
DN: Como está a situação do Guto Ferreira, vai renovar até o fim de 2021?
Existe um interesse recíproco. Não tivemos foi tempo para sentar e realmente conversar. A quantidade de jogos é grande, mas agora em janeiro vamos sentar e resolver. Claro que é do meu interesse que ele continue, identificou-se com o clube, é um profissional qualificado, e que sabe trabalhar em equipe. Aqui encaixou, e vamos tentar um projeto mais longo. Se Deus quiser, vai permanecer com a gente.
DN: Chegaram propostas para jogadores do atual elenco?
Sempre tem, o time todo. Eu poderia ter vendido já alguns na última janela, de julho. Segurei todo mundo, e estava no meio da pandemia, propostas interessantes. O Cléber é um exemplo. Trouxe ele do Barbalha, e só sairia se fosse a maior venda da história do Nordeste. Hoje está aí, nos ajudando. Para 2021, tem uma expectativa de negociação de atletas maior. Pela quantidade de propostas que nós recebemos e pela diferença entre real, dólar e euro, terá efetivamente um ganho financeiro em atletas maior que neste ano. Vamos tentar manter, mas se alguém bater o pé e quiser ir embora, não tem como segurar. Queremos que eles estejam aqui por estarem felizes. Temos que convencer.
DN: Como está a situação de renovação do Vina?
O Vina, para mim, não chegou proposta ainda. É um jogador que vou tentar manter, mas não vai ser fácil. Tem contrato até o fim de 2021, com multa, mas é uma escolha dele. Se quiser ir pro exterior, é difícil concorrer. No Brasil, temos chances. Ele está muito feliz aqui, fala sempre que se sente bem. Vamos usar nossas armas para mantê-lo
DN: O ano 2021 será o seu último no atual mandato como presidente. O que você projeta como grande legado?
Imagino uma consolidação. Se nos mantivermos na Série A, será o quarto ano seguido. Muita gente, quando subimos, falou que iríamos bater e voltar. Que o Ceará era um clube de Série B. E eu afirmo, hoje, que o Ceará é um clube de Série A. O que quero fazer é deixar na primeira página de clubes do Brasil. Quero ver entre os 15 no ranking nacional. É a minha meta. E enraizar o que a gente pensa, a filosofia de gestão.