Richarlyson revela bissexualidade em entrevista:'Já namorei homem, já namorei mulher, mas e aí?'

Aos 39 anos, o ex-jogador comenta sobre preconceito no futebol

Aos 39 anos, o ex-jogador Richarlyson falou pela primeira vez sobre a própria sexualidade. Em entrevista a jornalista Joanna de Assis, do Globo Esporte, o ex-volante revelou que é bissexual. A conversa foi publicada nesta sexta-feira (24), mês do orgulho LGBTQIA+. 

“A vida inteira me perguntaram se sou gay. Eu já me relacionei com homem e já me relacionei com mulher também. Só que aí eu falo hoje aqui e daqui a pouco estará estampada a notícia: "Richarlyson é bissexual". E o meme já vem pronto. Dirão: "Nossa, mas jura? Eu nem imaginava". Cara, eu sou normal, eu tenho vontades e desejos. Já namorei homem, já namorei mulher, mas e aí? Vai fazer o quê? Nada. Vai pintar uma manchete que o Richarlyson falou em um podcast que é bissexual. Legal. E aí vai chover de reportagens, e o mais importante, que é pauta, não vai mudar, que é a questão da homofobia. Infelizmente, o mundo não está preparado para ter essa discussão e lidar com naturalidade com isso", disse Richarlyson à jornalista
.

Em quase 20 anos de carreira como jogador profissional, o ex-atleta passou pela Seleção Brasileira, teve grande destaque no São Paulo, onde foi tricampeão brasileiro (2006 a 2008), além do Atléico-MG (Campeão Mineiro e da Libertadores), Vitória, Chapecoense e, em 2003, chegou a atuar pelo Fortaleza.

A conversa foi para o primeiro episódio do podcast jornalístico "Nos Armários dos Vestiários", que trata sobre homofobia e machismo no futebol nacional. Atual comentarista esportivo do Grupo Globo, Richarlyson explica o motivo de ter resolvido tocar no tema.

“Pelo tanto de pessoas que falam que é importante meu posicionamento, hoje eu resolvi falar: sou bissexual. Se era isso que faltava, ok. Pronto. Agora eu quero ver se realmente vai melhorar, porque é esse o meu questionamento. Você me entende por que eu acho que é desnecessário às vezes você se rotular? Tem uma questão mais importante, tem gente morrendo, o Brasil é o país que mais mata homossexuais. E a gente está aqui falando de futebol, ok, mas o futebol é um negocinho pequeno. Ah, mas sua fala pode ajudar. Não, não vai ajudar. Quem é Richarlyson, pelo amor de Deus?! Sou um mero cidadão comum, que teve uma história bacana no futebol, mas eu não vou poder mover montanhas para que acabem esses crimes, para que acabe a homofobia no futebol”, desabafou o ex-atleta durante a conversa.

Preconceito e mortes

O Brasil é o país que mais mata a população LGBTQIA+ no mundo. Entre 2000 e 2019, o Grupo Gay da Bahia contabilizou 4.089 assassinatos desta população. Em 2021, foram 300 mortes violentas no Brasil. No relatório mais recente da entidade, houve um aumento de 8% em relação ao ano anterior, quando foram registrados 276 homicídios. É uma morte a cada 29 horas.

Com a revelação, Richarlyson se torna o primeiro jogador de Série A do Brasileiro e Seleção a falar sobre o tema publicamente. Antes, no Brasil, apenas Messi, goleiro do Palmeira de Goianinha (RN), time da Série D, falou abertamente sobre a homossexualidade. Em um ambiente machista e homofóbico como o futebol, todo posicionamento é importante no enfrentamento a esses preconceitos. 

Pressionado no meio futebolístico sobre a sexualidade, Richarlyson fala sobre a presença de atletas LGBTQIA+ na modalidade. 

"Eu seria hipócrita de falar que não existem. Existem, sim. E ele (jogador) falar que é, a porta vai fechar absurdamente. Vai fechar mesmo, porque ainda existe esse lado, que eu acho tão pobre nos clubes, de estarem nas mãos das torcidas organizadas, que são quase sempre quem comandam nessa questão da homofobia", revelou.

O esporte brasileiro ainda carece de punições severas para preconceito contra minorias. O crime ainda passa ileso nos estádios, na internet e em vários espaços relacionados ao esporte. Richarlyson comenta a situação. 

"Pelo menos agora a juizada está tomando conta da situação. Mas tem que ser mais, tem que punir o clube, tem que ficar com uma câmera mesmo só para isso lá no estádio, para pegar quem é. E ter mesmo punição. Se a punição é três anos de cadeia, se eu não me engano, tem que punir esse cara, fazer ele ficar um ano fora do estádio, fazer o clube pagar por essa situação de ter sido homofóbico. Só assim vai melhorar", conclui.