Juan Pablo Vojvoda iniciou a terceira temporada à frente do Fortaleza com várias marcas importantes no currículo. Conquistou mais uma nesta quinta–feira (11). Ao liderar o time diante do São Paulo, na Arena Castelão, tornou-se o 2º treinador com mais jogos (154) no comando do Tricolor do Pici , deixando Rogério Ceni (153) em terceiro. O argentino é superado apenas por Moésio Gomes (229). O argentino começou a desfrutar de algo igualmente valioso para ele: a estabilidade do elenco. O tempo dá indícios.
O técnico chegou a ser bastante questionado por variar demais as escalações. A curto ou médio prazo, a ideia poderia ser arriscada. É o que dá para inferir sobre a expectativa de tempo necessário para trabalhar a base do time e começar a mostrar alguma evolução.
No início desse processo, o Fortaleza teve altos e baixos até se adaptar, claro. Inclusive com a chegada de novos atletas. Em 2022, falhou na reposição de peças. Muita competição, faltava jogador. Na janela de transferências do meio do ano trouxe bons nomes, como Thiago Galhardo, Caio Alexandre e Brítez. Então, buscou a recuperação no Brasileiro, a vaga na Libertadores, a Copa do Brasil, o Nordestão… Iniciou 2023, acertou mais nas contratações e trouxe nomes como Bruno Pacheco, Calebe, João Ricardo e Lucero. Veio o pentacampeonato cearense e, após cinco rodadas, segue invicto no torneio nacional.
Aliás, são 12 partidas sem derrota na temporada. A sequência mostra uma estabilidade buscada por Vojvoda não só quando experimenta os atletas em funções e posições diferentes, mas porque ele resolve fazer isso com o maior número de atletas possível, e muitas vezes. É como se ele, na dança, ensaiasse a coreografia completa, não apenas um movimento.
Assim, quando decide por mudanças na escalação, ele alimenta o imprevisível, dá rodagem ao elenco, entrosamento e, a longo prazo, torna o grupo capaz de suprir as necessidades de acordo com o próximo adversário. E com intensidade, buscando diminuir riscos e, se necessário, reduzir danos. Se um técnico treina time titular e reserva, Vojvoda promove as trocas para ter o elenco inteiro. Talvez essa seja a maior marca dele nesse Fortaleza.
Diante da equipe paulista, o plantel entrou bem modificado, com apenas quatro dos considerados titulares: Caio Alexandre, no meio, e Tinga, Brítez e Titi na defesa. Mesmo assim, o Tricolor do Pici fez um jogo equilibrado, disputado. Criou boas chances e quase abriu o placar diversas vezes.
O São Paulo estava disposto a travar a partida, a impor o jogo chato, cansativo. Conseguiu. Segurou um zero a zero enjoado… Do Tricolor, 16 finalizações, duas na meta. Do lado adversário, 13 e uma na mira. Além das muitas vezes em que a bola desfilou em frente à trave sem o arremate final….
Pikachu, Pochettino, Silvio Romero… Jogadores de diferentes posições tiveram chance de marcar pelo Leão. Nas últimas 12 partidas, foram 33 gols marcados por 17 atletas diferentes. Diante do São Paulo, o time ocupou bem o espaço, apertou a saída de bola adversária em boa parte do tempo. Criou e não foi efetivo, mas manteve a defesa firme. E é isso que o argentino busca: equilíbrio de uma ponta a outra do campo. Se um lado não vai bem, pelo menos não prejudica tanto. O zero a zero mostra isso.
É claro que a torcida quer a vitória sempre. O grupo também. Mas num campeonato como a Série A, prioridade maior, gerenciar o plantel dessa maneira é ter uma carta a mais no jogo. As trocas trazem a constância de bom nível tão necessária para torneios longos como esse.
Vojvoda precisou de tempo para identificar, orientar e explorar o potencial de cada jogador em prol do coletivo. Algo que não teria ocorrido sem a estabilidade oferecida pelo Fortaleza. E esse processo é variável e contínuo, depende dos talentos individuais e do quanto cada um consegue oferecer em campo no dia.
Além do longo Brasileirão, a agenda tem ainda Sul-Americana e a Copa do Brasil. Rodar os jogadores na escalação não é só uma questão física e tática, mas especialmente de fazer valer cada peça. Manter e evoluir são os desafios diários. Nessa terceira temporada de Vojvoda, o argentino começa a receber os frutos dessa metodologia: o amadurecimento do time, porque ele não quer 11, mas todos titulares.