Meio ao cenário de indefinições que vive atualmente o futebol brasileiro por conta do coronavírus, uma questão tem sido amplamente discutida por clubes, jogadores, CBF e sindicatos: a situação dos atletas durante a paralisação de atividades esportivas. A proposta da Comissão Nacional de Clubes (CNC) foi rejeitada pela Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (FNAPF). Um dos líderes do movimento dos atletas é o goleiro Fernando Prass, do Ceará, que falou o posicionamento dos jogadores sobre o assunto.
Em entrevista ao programa Quatro em Campo, da Rádio CBN, de São Paulo, o arqueiro alvinegro disse que ainda é cedo para se entender qual cenário se desenhará para todos, e que, no momento, a solução proposta não agrada aos atletas.
Para Prass, o período de férias em abril será importante para que todos os lados encontrem um panorama mais claro e saibam quais diretrizes devem ser seguidas.A gente (atletas) está ponderando muitas coisas. Sabemos que é um momento atípico, que todo mundo vai ter que fazer sacrifício. Jogadores, clubes e CBF. Mas a gente acha que essa conta não está bem dividida ainda. A primeira proposta foi enviada pra nós na sexta-feira (20), com cinco dias de parada. Não tem como os clubes, ou os próprios jogadores, ou a CBF, terem uma projeção de quanto vai ser o prejuízo. Então como se faz uma proposta totalmente no escuro? Não se sabe quando o campeonato volta, em que moldes o campeonato volta, se vai manter as cotas de patrocínio... Então acho que é muito cedo pra fazer um acordo nesses moldes", disse o camisa 1 do Vovô.
"O que a gente pensa é que daqui um mês, voltando das férias, a gente já vai ter um cenário bem mais claro, mais nítido. Os clubes já vão ter rodado um mês e vão ter noção do que deixaram de receber, a CBF tem uma noção melhor do que vai ser o calendário. Então acho que as coisas estarão muito mais nítidas para, aí sim, sentar e se fazer um acordo que contemple todo mundo. Que não prejudique A ou B, mas que todo mundo pague essa conta junto", destacou.
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PROPOSTA DOS JOGADORES
A proposta dos jogadores é a seguinte: aceitar a primeira parte da proposta dos clubes, que é o salário de março normal e antecipar as férias. A gente tem ideia de que, não havendo garantias da CBF, de pagamento, do acordo... Porque a gente sabe que isso é para salários futuros, de maio, junho. E tem clubes que estão devendo pra trás. 3, 4 ou 5 meses. E como vai fazer um acordo futuro? Se o clube deve pra trás, não vai ter verba pra pagar o acordo agora. Então vai gerar uma bola de neve e a gente não vai resolver problema nenhum. Acho que essas discussões têm que existir pra resolver os problemas, e não adiar eles.
JOGADORES DISPOSTOS A ABRIR MÃO DE PERCENTUAL DE SALÁRIO SE NECESSÁRIO?
Acho que tem que se ter uma noção, e só vai ter com esse prazo (um mês), e aí sentamos à mesa, nem que seja virtual, e discutirmos. Os clubes vão apresentar os números dele, nós vamos analisar. Seria fundamental a CBF estar junto, e óbvio que ninguém vai ser intransigente. A gente depende dos clubes. Não adianta a gente ter jogadores e não ter clube saudáveis. É o que a gente mais sonha na carreira, que a gente tenha clubes saudáveis, porque isso vai ter benefícios pra gente. Então temos que aproveitar esse momento de crise e não se discutir apenas uma solução paliativa pra esses meses, mas porque não se discute um fair play financeiro? Futebol brasileiro está 10 anos atrás da Europa em questão de fair play financeiro. Um texto que regulamente a administração dos clubes de futebol. Por que resolve esse problema aqui e daqui 4 ou 5 meses tem outros problemas. A gente vai estar enxugando gelo. Mas os jogadores são até os mais interessados em resolver e ajudar a passar essa crise.
NA SUA VISÃO, QUAL O PAPEL DO ATLETA EM UM MOMENTO COMO ESSE?
O atleta é muito midiático. Tudo que ele faz dá muita repercussão. Então a gente tem que saber usar isso pro lado bom, de conscientizar as pessoas. A gente vê algumas imagens que são impressionantes de grandes aglomerações. Baile funk, shoppings...coisas absurdas. Falta de conscientização total. O jogador tem uma disseminação de informações muito grande. E pode usar isso, através das redes sociais, da sua imagem, para ajudar na conscientização. A única possibilidade é cortar essa cadeia de transmissão, e só através de muita conscientização. Acho que o jogador pode, dentro das suas possibilidades, ajudar.